Síntese
Sobre o presente relatório
IO Tribunal examinou a gestão dos três programas de ajustamento económico da Grécia pela Comissão Europeia, tendo em consideração a estrutura institucional dos diferentes instrumentos de assistência financeira utilizados. No que se refere ao programa em curso, a auditoria centrou-se apenas nos aspetos de conceção. O financiamento para o primeiro programa (MCG), em 2010, foi de 110 mil milhões de euros; para o segundo programa (FEEF, 2012) foi de 172,6 mil milhões de euros e para o terceiro programa (MEE, 2015) foi de 86 mil milhões de euros. Em meados de 2017, a Grécia continua a necessitar de apoio financeiro externo, tendo o Tribunal constatado que os objetivos dos programas foram apenas parcialmente cumpridos. De um modo geral, a conceção dos programas possibilitou a execução da reforma na Grécia, mas o Tribunal detetou insuficiências e formula um conjunto de recomendações à Comissão no que se refere a futuros programas de apoio.
Sobre os programas de ajustamento gregos
IIA partir da sua entrada no euro, a Grécia beneficiou de uma expansão económica impulsionada pelo acesso facilitado a empréstimos e por uma política orçamental generosa. Contudo, a crise financeira mundial de 2008-2009 expôs as vulnerabilidades do país: desequilíbrios macroeconómicos crescentes, elevados níveis de dívida pública e externa, fraca competitividade externa, um regime de pensões de reforma insustentável e instituições frágeis. Estas vulnerabilidades, aliadas a revelações sobre a inexatidão de estatísticas oficiais, afetaram a confiança internacional. O preço que a Grécia tinha de pagar para contrair empréstimos nos mercados financeiros tornou-se insustentável e, em abril de 2010, o país solicitou assistência financeira aos Estados-Membros da área do euro e ao FMI.
IIIO primeiro programa de ajustamento económico da Grécia foi acordado em 2010 e incluiu um financiamento no valor de 110 mil milhões de euros. Contudo, as medidas orçamentais e estruturais adotadas e a reestruturação da dívida em 2012 não foram suficientes para o país voltar a financiar-se no mercado. Em consequência, foram acordados mais dois programas no valor de 172,6 mil milhões de euros em 2012 e de 86 mil milhões de euros em 2015.
IVOs programas de ajustamento destinavam-se a corrigir os desequilíbrios económicos na Grécia e, assim, evitar que a crise económica grega contagiasse o resto da área do euro. Esses programas procuravam estabelecer uma situação económica e financeira sólida e sustentável na Grécia, bem como restaurar a sua capacidade de se financiar integralmente nos mercados financeiros. A assistência estava sujeita a condições políticas, definidas por acordo entre as autoridades gregas e os credores. As condições abrangiam praticamente todas as funções do Estado grego e tinham três objetivos principais: sustentabilidade orçamental, estabilidade financeira e restabelecimento do crescimento. A Comissão Europeia verificou o cumprimento das condições por parte da Grécia e elaborou relatórios nessa matéria.
VA Comissão geriu os programas de ajustamento em associação com o Banco Central Europeu em nome dos credores europeus para cada programa: os Estados-Membros da área do euro no que se refere ao primeiro programa, o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira no que se refere ao segundo programa e o Mecanismo Europeu de Estabilidade no que se refere ao terceiro programa.
Como foi realizada a auditoria do Tribunal
VIO Tribunal examinou se a Comissão geriu os programas de ajustamento da Grécia de forma adequada, tendo procurado especialmente responder às seguintes perguntas:
- Did the Commission have appropriate arrangements in place for managing the programmes?
- Were the policy conditions appropriately designed and effectively implemented?
- Did the adjustment programmes meet their main objectives?
Em consonância com o mandato do TCE para auditar a eficácia operacional da gestão do BCE, o Tribunal tentou examinar a participação do BCE nos programas de ajustamento económico da Grécia. No entanto, o BCE questionou o mandato do Tribunal a este respeito e não forneceu elementos de prova suficientes, pelo que o Tribunal não está em condições de prestar informações sobre o papel do BCE nos programas gregos.
Constatações do Tribunal
VIIINo início do programa grego, a Comissão não tinha experiência de gestão de um processo deste tipo. Os procedimentos foram estabelecidos após quase um ano, mas concentraram-se nos mecanismos formais de aprovação de documentos, fluxos de informações e calendário dos pagamentos. Não foram formuladas orientações internas específicas da Comissão sobre a própria conceção das condições dos programas, por exemplo, em termos de âmbito ou nível de pormenor. Apesar do número crescente, as condições do primeiro e segundo programas não foram devidamente ordenadas em função da sua importância relativa nem integradas numa estratégia mais ampla para o país. A Comissão instituiu um sistema funcional para avaliar as condições, mas o Tribunal detetou insuficiências dele decorrentes, em particular para a avaliação da execução das reformas estruturais.
IXEmbora os procedimentos institucionais no âmbito dos programas fossem complexos, as modalidades operacionais da cooperação entre a Comissão e os respetivos parceiros, principalmente o FMI e o BCE, nunca foram formalizadas.
XO quadro económico global que regulou a conceção de programas assentou nos cálculos do défice de financiamento e nas projeções macroeconómicas. A Comissão atualizou regularmente a sua análise a este respeito e o grau de precisão das projeções era semelhante ao de outras organizações internacionais. No entanto, o Tribunal detetou insuficiências na documentação, na justificação dos pressupostos e nos controlos de qualidade.
XIUma análise aprofundada da conceção e execução das reformas em quatro domínios de intervenção cruciais (fiscalidade, administração pública, mercado de trabalho e setor financeiro) fornece uma imagem heterogénea. As reformas da fiscalidade e da administração pública permitiram poupanças orçamentais, mas a execução das componentes estruturais foi menos satisfatória. O mercado de trabalho tornou-se mais flexível e competitivo, estando ainda previstas outras alterações regulamentares no terceiro programa. O setor financeiro foi alvo de uma profunda reestruturação, mas que implicou uma injeção superior a 45 mil milhões de euros no sistema bancário, dos quais apenas uma pequena parte pode, eventualmente, ser recuperada. Em todos os domínios de intervenção, a execução de uma série de reformas fundamentais foi levada a cabo com atrasos significativos ou revelou-se ineficaz.
XIIDe um modo geral, a conceção das condições possibilitou a execução da reforma, mas o Tribunal detetou insuficiências. Algumas medidas cruciais não foram suficientemente justificadas ou adaptadas em função das deficiências específicas dos diferentes setores. No que se refere a outras medidas, a Comissão não teve em devida conta a capacidade de execução da Grécia na elaboração das condições, pelo que não adaptou o âmbito e o calendário em conformidade. O Tribunal detetou igualmente casos em que o âmbito das condições era muito limitado para corrigir desequilíbrios nos setores fundamentais e em que foram incluídas tardiamente medidas destinadas a corrigir desequilíbrios importantes no programa.
XIIIA Comissão não realizou uma avaliação abrangente dos dois primeiros programas, embora essa análise pudesse ser pertinente para adaptar o processo de reforma. Em meados de 2017, a Grécia continua a necessitar de apoio financeiro externo, o que indica que os programas anteriores, também devido a insuficiências da execução, não conseguiram restaurar a capacidade do país para financiar as suas necessidades nos mercados. Os objetivos específicos dos programas só foram cumpridos até certo ponto:
- restabelecimento do crescimento: durante os programas, o PIB diminuiu mais de um quarto e a Grécia não retomou o crescimento, como inicialmente previsto, em 2012;
- sustentabilidade orçamental: foi realizada uma consolidação orçamental em grande escala em termos de saldos estruturais. Contudo, devido a uma evolução macroeconómica desfavorável e ao custo dos juros sobre a dívida existente, o rácio dívida/PIB continuou a aumentar;
- estabilidade financeira: os programas asseguraram a estabilidade financeira a curto prazo, mas não conseguiram evitar uma deterioração acentuada dos balanços dos bancos, sobretudo devido a evoluções macroeconómicas e políticas desfavoráveis, e verificou-se uma contração da capacidade dos bancos para financiar a economia real.
Recomendações do Tribunal
XIVA Comissão Europeia deve:
- melhorar os procedimentos de conceção de programas de apoio, em especial definindo o âmbito de todos os trabalhos analíticos necessários para justificar o conteúdo das condições;
- definir melhor as prioridades no que se refere às condições e especificar medidas urgentes para corrigir os desequilíbrios que são cruciais para realizar os objetivos dos programas;
- sempre que for pertinente para corrigir os desequilíbrios económicos subjacentes, assegurar que os programas são integrados numa estratégia global de crescimento para o país;
- dispor de procedimentos claros e, quando adequado, definir indicadores-chave de desempenho para garantir que o acompanhamento dos programas é sistemático e corretamente documentado;
- colmatar as lacunas de dados de forma mais abrangente desde o início;
- procurar chegar a um acordo com os parceiros dos programas para que as funções e as modalidades de cooperação sejam claramente definidas e transparentes;
- documentar melhor os pressupostos em que assentam os cálculos económicos subjacentes à conceção dos programas, bem como as alterações efetuadas nesses cálculos;
- analisar mais sistematicamente a capacidade administrativa do Estado-Membro para executar as reformas e a necessidade de assistência técnica, devendo as condições ser adaptadas aos resultados dessa análise;
- melhorar o seu trabalho analítico no que se refere à conceção dos programas. Em especial, deve analisar a adequação e o calendário das medidas, tendo em conta a situação específica do Estado-Membro;
- realizar uma avaliação intercalar dos programas sucessivos cuja duração combinada ultrapasse os três anos e utilizar os resultados para avaliar a respetiva conceção e as modalidades de acompanhamento;
- analisar o quadro adequado de apoio e de supervisão para o período que se segue ao encerramento do programa.
Introdução
Os três programas de ajustamento económico gregos
01Com o início da crise financeira mundial, o ambiente internacional mudou drasticamente. A crise exigiu resgates de instituições financeiras sem precedentes e outras políticas monetárias e orçamentais excecionais. No entanto, à crise seguiu-se uma recessão económica mundial e uma crise da dívida na Europa. Embora os países com bases sólidas tenham conseguido retomar a via do crescimento num prazo relativamente curto, os países com desequilíbrios macroeconómicos e fragilidades estruturais enfrentaram grandes dificuldades.1
02No contexto da crise financeira mundial, a acumulação de desequilíbrios macroeconómicos, elevados níveis de dívida pública e externa, fraca competitividade externa, um regime de pensões de reforma insustentável e instituições frágeis tornaram a Grécia particularmente vulnerável a uma maior aversão ao risco nos mercados internacionais. Estes fatores, aliados às revelações sobre a inexatidão das estatísticas oficiais e à revisão significativa dos dados orçamentais para 2008 e 2009, afetaram negativamente a confiança do mercado. Como resultado, as principais agências de notação de risco de crédito baixaram as notações soberanas (de níveis A no final de 2008 para níveis C em 2011). O mercado reagiu energicamente a esta evolução negativa, tendo os custos de financiamento da dívida grega aumentado para níveis insustentáveis nas semanas anteriores ao pedido de assistência financeira do país.
03Como resultado da perda do acesso ao mercado a um preço razoável, em 23 de abril de 2010 a Grécia solicitou assistência financeira aos Estados-Membros da área do euro e ao FMI2. Apesar das medidas orçamentais e estruturais adotadas pela Grécia, o primeiro programa de ajustamento económico não foi suficiente para o país voltar a financiar-se no mercado, pelo que foram acordados dois outros programas, em 2012 e 2015, respetivamente (ver quadro 1).
Programa | Mecanismo | Início | Fim | Financiamento total (em mil milhões de euros) | Apoio desembolsado pela área do euro (em mil milhões de euros) | Apoio desembolsado pelo FMI (em milhões de euros) |
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Grécia I | MCG(1) | 2010 | 2012 | 110 | 52,9 | 20,7 (17,541 DSE) |
Grécia II | FEEF | 2012 | 2015 | 172,6 | 141,8 | 11,6 (10,2 DSE) |
Financiamento intercalar | MEEF | 2015 | 2015 | 7,16 | 7,16 | - |
Grécia III | MEE | 2015 | Em curso (2018) | 86 | 39,4(2) | - |
1Empréstimos bilaterais coordenados pela Comissão em nome dos Estados-Membros da área do euro participantes.
2Situação em julho de 2017.
Fonte: TCE, com base em dados da Comissão e do MEE.
O primeiro programa de ajustamento foi assinado em maio de 2010 (ver figura 1 e anexo I). Foi concebido para decorrer até junho de 2013 com uma dotação de 110 mil milhões de euros (do FMI e dos Estados-Membros da área do euro) e destinava-se a cobrir as necessidades de financiamento da economia e apoiar o sistema bancário (ver quadro 1). Em contrapartida, a Grécia concordou em executar um programa de reformas estruturais que abrangia a política económica, orçamental, financeira e do mercado de trabalho. Este primeiro programa terminou prematuramente em março de 2012, uma vez que o nível de endividamento insustentável e a contração da atividade económica mais acentuada do que o previsto revelaram a necessidade de financiamento adicional. Nessa altura, já tinham sido desembolsados 73,6 mil milhões de euros.
O segundo pacote de assistência financeira foi acordado com os Estados-Membros da área do euro e com o FMI em março de 2012, com um financiamento total de 172,6 mil milhões de euros. Por último, os países da área do euro contribuíram com 141,8 mil milhões de euros sob a forma de empréstimos do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), que tinha sido criado para esse efeito. Um elemento fundamental do segundo programa foi a participação do setor privado, tendo os investidores privados aceitado em reduzir os seus créditos em aproximadamente 107 mil milhões de euros.
06Após o termo do segundo programa, em dezembro de 2014, e das suas duas prorrogações3, e tendo em conta as negociações em curso sobre o terceiro pacote de assistência financeira, foi concedido à Grécia, em julho de 2015, um empréstimo intercalar ao abrigo do Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira. Dada a incerteza da situação, em junho de 2015 foram introduzidas restrições à livre circulação de capitais para salvaguardar a estabilidade financeira (ver anexo II). Em agosto de 2015, as autoridades gregas e os parceiros da área do euro chegaram a acordo sobre o terceiro programa propriamente dito, que assumiu a forma de um empréstimo público através do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE). Prevê-se que o programa decorra até 2018. Em 20 de julho de 2017, a pedido da Grécia, o Conselho Executivo do FMI aprovou em princípio um acordo de “stand-by“ preventivo de 1,6 mil milhões de euros, sujeito a garantias adicionais. Até setembro de 2017, o FMI ainda não tinha efetuado quaisquer pagamentos.
Objetivos do programa
07A lógica de intervenção dos programas de ajustamento gregos tem principalmente consistido em corrigir os desequilíbrios económicos na Grécia e, assim, evitar que a crise económica grega contagiasse o resto da área do euro. Para o efeito, os programas visavam estabelecer uma situação económica e financeira sólida e sustentável no país, bem como restaurar a sua capacidade de se financiar integralmente nos mercados financeiros. Para alcançar este objetivo, os programas gregos4 centraram-se em três desafios fundamentais aos quais a Grécia se comprometeu a dar resposta através de um conjunto abrangente de medidas de reforma:
- restaurar a confiança dos mercados financeiros e a sustentabilidade orçamental: os programas previam medidas orçamentais rigorosas (incluindo reduções nas despesas com pensões, com o sistema de saúde e com a administração pública), bem como reformas da política e da administração fiscais. As reformas orçamentais destinavam-se a reforçar a confiança, recuperar o acesso aos mercados e colocar o rácio dívida/PIB numa trajetória sustentável;
- salvaguardar a estabilidade do setor financeiro: os programas concederam apoio financeiro aos bancos gregos através do Fundo Helénico de Estabilidade Financeira (FHEF) para suprir as suas necessidades urgentes de capital. Os domínios abrangidos pelas reformas incluíram igualmente a reestruturação e consolidação do setor, a gestão de créditos não produtivos, a governação, a supervisão e a liquidez;
- promover o crescimento económico e restaurar a competitividade: por meio de reformas estruturais, os programas visavam melhorar a competitividade dos custos e o ambiente empresarial geral, a fim de facilitar a transição da Grécia para um modelo de crescimento mais orientado para o investimento e a exportação. Os domínios abrangidos pelas reformas incluíram os mercados de trabalho e de bens e serviços, a administração pública, o sistema jurídico e a educação.
Os parceiros dos programas e o papel das instituições europeias
08Os dois primeiros programas foram elaborados no âmbito das discussões entre as autoridades gregas e a denominada “Troika”, constituída pela Comissão, pelo BCE e pelo FMI (designados por “instituições” no âmbito do terceiro programa). Não foram celebrados acordos formais para definir as modalidades da sua cooperação. Em consonância com o tratado que institui o MEE5, este esteve igualmente envolvido na conceção e no acompanhamento do terceiro programa. Embora o FMI não tenha contribuído para o financiamento deste programa, participou ativamente nas discussões sobre o âmbito de aplicação das condições e a trajetória de ajustamento.
09Ao longo dos programas, o papel da Comissão consistiu em agir em nome dos Estados-Membros da área do euro em estreita cooperação com os outros parceiros. Nos termos do MCG, a Comissão foi responsável pela coordenação e execução do programa em nome e segundo as instruções dos Estados-Membros da área do euro, prestando apoio, bem como negociando e assinando um Acordo relativo ao Mecanismo de Empréstimo e um Memorando de Entendimento sobre a condicionalidade política com a Grécia. O acordo-quadro relativo ao FEEF e o Regulamento da UE6, aplicáveis ao segundo programa, confiaram responsabilidades semelhantes à Comissão. O Tratado que institui o MEE solicitava ao Conselho de Governadores do MEE que mandatasse a Comissão Europeia “para negociar, em articulação com o BCE, a condicionalidade de política económica que acompanha cada assistência financeira”.
10O papel do BCE ao longo dos programas consistiu em agir em articulação com a Comissão para avaliar as condições de política para efeitos de assistência financeira e acompanhar regularmente os progressos realizados na aplicação dessas condições. No que se refere ao primeiro programa, o Conselho Europeu convidou a Comissão, logo em 11 de fevereiro de 2010, a acompanhar a execução de medidas de reforma em coordenação com o BCE. O acordo-quadro relativo ao FEEF, o Tratado que institui o MEE e o Regulamento da UE7 definiram o papel do BCE de forma semelhante para o segundo e o terceiro programas. Neste contexto, o BCE prestou aconselhamento e disponibilizou os seus conhecimentos especializados sobre diferentes domínios de intervenção. Desde a criação do Mecanismo Único de Supervisão (em novembro de 2014), participou igualmente nos debates com as instituições e as autoridades gregas. Além disso, durante o período de 2010-2016 e independentemente do processo do programa propriamente dito, o BCE publicou vários pareceres sobre projetos de regulamentação apresentados pelas autoridades gregas, uma vez que estes poderiam ter influenciado significativamente a estabilidade financeira8.
O processo de programação
11A assistência financeira concedida à Grécia estava sujeita à condicionalidade política9, consagrada nos programas de ajustamento económico gregos e organizada de acordo com os seus principais objetivos (orçamentais, financeiros e estruturais). As autoridades gregas deram formalmente início ao processo de programação enviando um conjunto de documentos (ver caixa 1) aos credores, que foram atualizados relativamente a cada uma das avaliações do programa10. O FMI e os credores europeus permaneceram independentes quando da aprovação dos documentos do programa e das decisões em matéria de concessão de empréstimos (ver figura 2).
Caixa 1
Conjunto de documentos apresentados pelas autoridades gregas ao abrigo do primeiro e do segundo programas
- Carta de intenção – especificando os principais compromissos políticos, o financiamento do programa e as etapas posteriores do processo de programação;
- Memorando de Políticas Económicas e Financeiras (MPEF) – descrevendo as políticas a aplicar pelas autoridades gregas, acordadas principalmente com o FMI, e que serviam de base para as avaliações de conformidade a realizar pelo FMI;
- Memorando de Entendimento sobre as condicionalidades de política económica específica - especificando medidas pormenorizadas de política económica, acordadas principalmente com a Comissão, que serviram de referência para avaliar o desempenho das políticas no âmbito das avaliações trimestrais do programa de assistência financeira nos Estados-Membros da área do euro;
- Memorando Técnico de Entendimento (MTE) – definindo os indicadores, os métodos de avaliação e os requisitos em matéria de informação.
Os documentos do programa foram elaborados no âmbito de um processo de negociação com a Comissão, o FMI11 e o BCE, que assumiu a forma de visitas de negociação12. Para a Comissão, o mandato de negociação foi previamente inscrito numa nota de orientação que analisou a situação na Grécia no que diz respeito a domínios de intervenção fundamentais e propôs medidas para inclusão no programa. Para efeitos das negociações, os serviços da Comissão elaboraram a previsão macroeconómica subjacente ao programa. Após a conclusão de cada avaliação, a Comissão publicou-a juntamente com análises qualitativas da situação macroeconómica e financeira, a avaliação da conformidade e os documentos oficiais do programa.
13No termo das negociações, o Conselho debateu o texto enviado pelas autoridades gregas, com base nos documentos apresentados pela Comissão13, e emitiu uma decisão nos termos dos artigos 126º e 136º do TFUE14. Após aprovação da decisão do Conselho, o Vice-Presidente da Comissão (habilitado pelo colégio de Comissários) assinou o Memorando de Entendimento final em nome dos Estados-Membros credores (para o primeiro programa) ou do FEEF (para o segundo programa). Os pormenores técnicos e jurídicos do empréstimo (como o cálculo do prazo de vencimento médio, as taxas de juros, as modalidades de desembolso e de reembolso) foram especificados no acordo de empréstimo (para o primeiro programa)15 ou no acordo referente ao programa de assistência financeira do FEEF (para o segundo programa).
14O terceiro programa foi aprovado através de um Memorando de Entendimento entre a Comissão Europeia (que agia em nome do MEE), a República Helénica e o Banco da Grécia. Foi posteriormente aprovado pelo Conselho. As modalidades e condições financeiras do empréstimo foram definidas num acordo referente ao programa de assistência financeira e o desembolso foi aprovado pelo Conselho de Governadores do MEE com base em relatórios de conformidade da Comissão (em articulação com o BCE).
15O Eurogrupo16 forneceu orientações políticas sobre o processo ao longo do período de programação, tendo em particular chegado a acordo sobre o lançamento dos programas, as principais condições de política, a dotação financeira e as principais condições de financiamento. O Eurogrupo foi apoiado pelo Grupo de Trabalho do Eurogrupo17, que foi consultado acerca da conceção dos programas e decidiu desembolsar os fundos para o primeiro e o segundo programas (a decisão de desembolsar os fundos para o terceiro programa foi tomada pelo Conselho de Governadores do MEE).
Método de auditoria
16A auditoria avaliou se a Comissão geriu os programas de ajustamento gregos de forma adequada. O presente relatório complementa os dois relatórios especiais anteriores do Tribunal, que avaliaram a gestão, pela Comissão, do apoio financeiro prestado a países em dificuldades ao abrigo do mecanismo de apoio à balança de pagamentos e do Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira (Relatório Especial nº 18/2015)18 e da prestação de assistência técnica à Grécia (Relatório Especial nº 19/2015). A auditoria respondeu às seguintes subquestões:
- A Comissão dispunha de mecanismos adequados para a gestão dos programas?
- As condições políticas foram adequadamente concebidas e eficazmente aplicadas?
- Os programas de ajustamento cumpriram os seus principais objetivos?
A auditoria abrangeu a gestão dos três programas de ajustamento económicos da Grécia pela Comissão mas, no que se refere ao terceiro programa em curso, centrou-se nos aspetos de conceção. A conceção, o acompanhamento e a execução das condições dos programas foram auditados com base numa amostra que abrangeu todos os principais objetivos do programa. O Tribunal examinou igualmente a cooperação da Comissão com os parceiros dos programas, mas não as ações do FMI19 e do MEE20. O Tribunal também não realizou uma auditoria das ações empreendidas pelas autoridades gregas, incluindo as questões de apropriação que podem ter tido um impacto no processo de execução. O Tribunal não presta informações sobre a participação do BCE devido às limitações do âmbito da auditoria (ver ponto 20).
18O Tribunal não auditou as decisões políticas de alto nível da UE, por exemplo, sobre a justificação para a concessão de assistência financeira à Grécia, tendo limitado o âmbito da auditoria em vários aspetos. O Tribunal não teve em consideração o cenário contrafactual da não concessão de qualquer assistência financeira. Além disso, também não avaliou se o Conselho optou pelas dotações financeiras, objetivos em matéria de défice ou trajetórias orçamentais mais adequados para resolver a crise. De igual modo, não apreciou as condições de financiamento dos empréstimos concedidos à Grécia, nem a oportunidade e a adequação da redução da dívida ou da sustentabilidade da mesma. O Tribunal avaliou as projeções macroeconómicas da Comissão e os cálculos do défice de financiamento. A auditoria da cooperação da Comissão com os restantes parceiros não aferiu se essa participação se justificava.
19As provas de auditoria foram recolhidas com base numa análise pormenorizada da documentação relativa aos programas de assistência financeira da UE (documentos referentes aos programas, análises internas da Comissão, tabelas de previsões e avaliações e estudos de outras organizações); numa análise sob a forma de grelha de avaliação das condições dos programas e em entrevistas realizadas junto de funcionários da Comissão, de autoridades nacionais, como os ministérios competentes e o Banco da Grécia, de associações empresariais e das partes interessadas, bem como do pessoal do FMI, do MEE e da OCDE.
Limitação do âmbito no que se refere à participação do BCE
20Em consonância com o mandato do TCE para auditar a eficácia operacional do BCE21, o Tribunal tentou examinar a participação do BCE nos programas de ajustamento económico da Grécia22. O BCE questionou o mandato do Tribunal a este respeito e as informações que lhe forneceu constituíam provas insuficientes para permitirem ao Tribunal realizar o trabalho de auditoria23. Devido a esta limitação do âmbito, o Tribunal não teve condições para prestar informações sobre a participação do BCE nos programas de ajustamento económico gregos.
Observações
Parte I – Gestão dos programas de ajustamento económico da Grécia
21A gestão dos programas de ajustamento económico gregos envolveu uma série de processos internos complexos ao nível da Comissão que constituíram um quadro horizontal para as análises e as avaliações de conformidade específicas das de diferentes políticas (ver parte II). É possível distinguir, em termos gerais, três tipos desses processos:
- disposições processuais para efeitos de conceção e acompanhamento dos programas – definição dos princípios e dos mecanismos de gestão dos programas, bem como dos processos de tomada de decisões;
- cooperação com os parceiros dos programas – divisão de responsabilidades, comunicação e coordenação de ações com o FMI, o BCE e o MEE;
- análises económicas fundamentais – elaboração de projeções macroeconómicas e de cálculos em relação ao défice de financiamento, definindo pressupostos económicos fundamentais dos programas.
Disposições para efeitos de conceção e acompanhamento das condições dos programas
Urgência no início dos programas
22A elaboração e as disposições institucionais do primeiro programa de ajustamento económico da Grécia devem ser vistas no contexto da urgência com que o programa foi criado. O motivo imediato para solicitar assistência financeira foi a necessidade de pedir nove mil milhões de euros emprestados para um reembolso da dívida devido em 19 de maio de 2010. Dado que, na primavera de 2010, os custos de financiamento da dívida grega no mercado aumentaram para níveis insustentáveis, o Governo grego necessitava de procurar obter um financiamento alternativo num curto período24 (ver figura 1 e anexo I para uma cronologia pormenorizada da crise).
23Prevendo as dificuldades da Grécia no acesso ao financiamento no mercado para a sua dívida a curto prazo, a Cimeira do Euro25 acordou, em 25 de março de 2010, as condições do apoio financeiro a prestar a este país. As autoridades gregas apresentaram o pedido oficial de financiamento em 23 de abril de 2010, isto é, menos de um mês antes de o reembolso ter de ser efetuado. O primeiro programa de ajustamento económico da Grécia foi assinado em 3 de maio de 2010. Dada a profundidade e o âmbito dos desequilíbrios da economia grega, o tempo disponível para conceber um programa abrangente destinado a corrigir todas as insuficiências era muito limitado.
Procedimentos de conceção e resultados
24Os procedimentos gerais da Comissão para a gestão dos programas de assistência macroeconómica foram estabelecidos, pela primeira vez, em abril de 2011, isto é, 11 meses após o lançamento do programa grego e a conclusão de três avaliações. O documento definiu os mecanismos internos para efeitos de informação e aprovação no interior da Comissão, bem como com o Conselho e os parceiros do programa. Por exemplo, especificou as etapas para a aprovação dos principais documentos do programa (notas de orientação, relatórios de conformidade, projetos de memorandos de entendimento e projetos de recomendações de decisões do Conselho, quando relevante). A Comissão elaborou igualmente roteiros para cada mecanismo de financiamento, estabelecendo as etapas formais tendo em vista o desembolso.
25No entanto, os procedimentos não abrangeram o conteúdo das condições do programa. Não tinham sido formuladas orientações internas específicas da Comissão relativas à conceção das condições do programa em termos de âmbito, nível de pormenor e grau de profundidade do trabalho analítico necessário para as justificar26.
26Os principais documentos de trabalho subjacentes às condições do programa foram as notas de orientação. Esses documentos, centrados nas políticas, foram emitidos para cada avaliação e serviram de base à negociação das avaliações do programa (com algum grau de flexibilidade). O processo de revisão das notas de orientação foi estipulado nos procedimentos da Comissão, mas não foi documentado.
27Em várias ocasiões, os serviços da Comissão elaboraram documentos analíticos de apoio às notas de orientação que corroboram a forma como as condições foram concebidas em determinados domínios. No entanto, esse não foi sistematicamente o caso para todos os programas nem para todos os domínios de intervenção (ver figura 3).
O Tribunal deparou-se com determinados problemas na conceção das condições em vários domínios de intervenção:
- várias condições do programa foram descritas em termos gerais e vagos e não eram mensuráveis, em particular no início dos programas. Por exemplo, no domínio da promoção das exportações, condições como a adoção de medidas destinadas a facilitar parcerias público-privadas ou a reforçar a política de promoção das exportações não especificavam ações claras ou concretas. No setor financeiro, uma das condições do segundo programa consistia em se estabelecer, até ao final de julho de 2013, um plano de execução com o objetivo de melhorar a cobrança de créditos não produtivos e estabelecer metas a este respeito para os bancos em processo de liquidação. A condição era passível de várias interpretações, o que contribuiu para um atraso significativo na sua aplicação;
- as condições tornaram-se cada vez mais precisas. No segundo programa, o seu número e nível de pormenor aumentaram significativamente. Esta situação deveu-se, em parte, a problemas e atrasos na execução. Por outro lado, o elevado nível de pormenor das condições desafiou a capacidade administrativa das autoridades, que tiveram dificuldade em se apropriar delas, uma vez que nem sempre foram suficientemente debatidas e acordadas na fase de conceção27;
- ao aumento do nível de pormenor veio juntar-se o facto de não ter sido claramente indicada no início a importância relativa de cada condição do programa. Determinadas condições foram reconhecidas como particularmente importantes apenas posteriormente, quando não foram cumpridas atempadamente, tendo sido designadas por ações prévias durante as avaliações do programa. O pagamento das parcelas do empréstimo estava explicitamente subordinado ao cumprimento dessas condições28. No terceiro programa, as condições mais importantes passam a ser assinaladas como “realizações essenciais”.
Estratégia global de crescimento
29Os programas tinham objetivos claros a médio prazo, sendo o principal resultado esperado o restabelecimento do acesso da Grécia ao financiamento no mercado, o que exigiu que se colocasse a ênfase na consolidação orçamental. No entanto, apesar dos esforços da Comissão, os programas não foram apoiados por uma estratégia global de crescimento liderada pelas autoridades gregas, que poderia ter-se prolongado para além do período de vigência dos programas. Uma estratégia a longo prazo poderia ter sido mais eficaz na coordenação do processo de ajustamento e na conceção das medidas nos diversos domínios de intervenção em causa.
30A ausência de uma estratégia foi particularmente manifesta na facilitação das exportações. As medidas previstas nos programas a este respeito, que incidiam na competitividade dos preços e nos encargos administrativos, não foram suficientes para favorecer a transição para um modelo de crescimento impulsionado pelas exportações, nem deu resposta a todas as insuficiências identificadas na análise anterior ao programa. Em particular, o primeiro programa não propôs uma estratégia abrangente para setores com uma vantagem competitiva que tivesse em consideração a estrutura específica da economia grega. As condições setoriais figuravam, contudo, no segundo programa. Certos exemplos de medidas concebidas de forma incoerente e de falta de coordenação entre políticas (ver caixa 2) mostram que a conceção global dos programas gregos também carecia de uma estratégia explícita.
Caixa 2
Insuficiências detetadas na coordenação entre políticas
Reformas do mercado de bens e serviços versus reformas do mercado de trabalho e da fiscalidade. Apesar das grandes reformas do mercado de trabalho e de uma redução acentuada dos custos salariais, a queda dos preços não foi suficiente até 2013. Esta situação revela que as reformas do mercado de bens e serviços não conseguiram dar resposta à sua rigidez nas fases iniciais do programa. Além disso, a descida limitada dos preços refletia em parte a subida dos impostos indiretos dos encargos associados à consolidação orçamental, tornando assim as reformas estruturais menos eficazes em termos de impacto sobre os preços e o crescimento. As reformas fiscais previstas nos programas de ajustamento deram origem a compromissos e, nas primeiras fases, a prioridade a curto prazo era a consolidação orçamental, dada a amplitude do défice público da Grécia.
Saúde financeira dos bancos versus medidas orçamentais. Depois de os bancos terem demonstrado que estavam subcapitalizados em 2012 e de a notação da dívida soberana da Grécia ter sido totalmente degradada, não foi realizada nenhuma avaliação da forma como as medidas orçamentais afetariam adicionalmente a solvência dos devedores bancários e, por conseguinte, o valor de mercado dos empréstimos dos bancos. Por exemplo, não foi analisado o efeito do aumento dos impostos recorrentes sobre imóveis afetariam os preços do mercado imobiliário e os créditos à habitação.
Reformas do ambiente empresarial versus reformas fiscais. Não existia um roteiro estratégico para estimular potenciais motores de crescimento na Grécia, o que se refletiu na ausência de uma estratégia de consolidação orçamental em prol do crescimento. Não foi realizada uma avaliação dos riscos para determinar como as medidas orçamentais alternativas/potenciais (por ex., redução das despesas versus aumento de impostos) e a sua sequência temporal afetariam o crescimento do PIB, as exportações e o desemprego.
Instabilidade política durante o período abrangido pelos programas
31Outro desafio que afetou a gestão dos programas foi uma abordagem intermitente em relação às reformas, devido em certa medida à instabilidade política do país. De outubro de 2009 a janeiro de 2015, a Grécia passou por seis eleições e uma mudança de governo sem eleições em novembro de 2011 (ver anexo I). Em cada ocasião, os novos dirigentes levaram algum tempo a reconfirmar o seu compromisso e abordagem em relação às reformas, bem como a redefinir as modalidades de trabalho com as instituições. O referendo realizado em julho de 2015 sobre o pacote de medidas propostas contribuiu igualmente para a incerteza do futuro do programa e a instabilidade económica29. As longas negociações políticas e a incerteza acerca da continuação do programa prejudicaram a boa gestão dos programas e a execução das reformas.
32O calendário real das avaliações do programa afastou-se bastante do calendário trimestral inicial, refletindo atrasos na execução e dificuldades em chegar a um acordo relativamente às novas medidas (ver quadro 2). A situação mais difícil a este respeito foi a transição entre o segundo e o terceiro programas, com um intervalo de 16 meses entre a conclusão da última avaliação e a aprovação do novo programa. Embora o segundo programa nunca tenha sido concluído30, a transição envolveu duas prorrogações do segundo programa e um empréstimo intercalar do MEEF.
Ano | Avaliação | Data do relatório | Duração da avaliação (meses) |
---|---|---|---|
2010 | 1º programa | Maio de 2010 | |
1ª avaliação | Agosto de 2010 | 3 | |
2011 | 2ª avaliação | Dezembro de 2010 | 4 |
3ª avaliação | Fevereiro de 2011 | 2 | |
4ª avaliação | Julho de 2011 | 5 | |
5ª avaliação | Outubro de 2011 | 3 | |
2012 | 2º programa | Março de 2012 | 5 |
1ª avaliação | Dezembro de 2012 | 9 | |
2013 | 2ª avaliação | Maio de 2013 | 5 |
3ª avaliação | Julho de 2013 | 2 | |
2014 | 4ª avaliação | Abril de 2014 | 9 |
2015 | 3º programa | Agosto de 2015 | 16 |
2016 | Memorando de Entendimento suplementar | Junho de 2016 | 10 |
Fonte: TCE.
Procedimentos de acompanhamento
33O processo de acompanhamento do cumprimento das condições do programa está descrito nos procedimentos gerais da Comissão para a gestão de programas de assistência macrofinanceira, mas apenas em relação aos aspetos processuais (isto é, à divisão de responsabilidades e ao processo de aprovação do relatório de conformidade). No entanto, a Comissão não dispunha de um procedimento que definisse os requisitos fundamentais em matéria de âmbito, natureza e documentação do acompanhamento.
34A principal ferramenta para acompanhar o cumprimento das condições do programa por parte da Grécia, que foi criada conjuntamente pelas instituições, foi o “quadro de conformidade”. Para os dois primeiros programas, o documento fazia parte integrante do conjunto de documentos publicados após cada avaliação. O quadro de conformidade foi concluído e revisto pelos serviços da Comissão e, posteriormente, apresentado ao grupo de trabalho do Eurogrupo juntamente com outros documentos do programa. No entanto, os processos de avaliação não foram documentados. Além disso, a Comissão informou oficialmente o Conselho da forma como tinha acompanhado as condições especificamente referidas nas decisões deste último.
35Geralmente, os quadros especificavam o estado de conformidade em relação a cada condição do programa, exigindo uma avaliação específica e uma justificação sucinta (referências à base jurídica, situação atual e motivos de eventuais atrasos). No entanto, nem todas as condições foram sistematicamente acompanhadas desta forma ou atempadamente. Uma vez que o segundo programa não foi concluído, não se realizou uma avaliação formal das condições introduzidas na quarta, e última, avaliação. A Comissão acompanhou a evolução da situação na Grécia entre o segundo e o terceiro programas, designadamente através de notas de orientação. O primeiro relatório de conformidade relativo ao terceiro programa (publicado em junho de 2016) não continha o quadro de conformidade, embora várias condições devessem ser cumpridas até junho de 2016.
Práticas em matéria de acompanhamento
36Para a maioria das condições analisadas, a Comissão conseguiu demonstrar que tinha avaliado o cumprimento das condições dos programas e que teve uma base sólida para fazê-lo. Em vários domínios de intervenção, a Comissão realizou análises aprofundadas dos atos jurídicos visados pelas condições e acompanhou as alterações necessárias. Em alguns casos, recorreu a peritos externos (por ex., no domínio das profissões regulamentadas) para assegurar uma avaliação abrangente e alterou devidamente as respetivas condições nas avaliações subsequentes dos programas.
37Embora a Comissão tenha acompanhado e comunicado informações regularmente sobre o cumprimento formal das condições dos programas, o Tribunal detetou, ocasionalmente, insuficiências como avaliações em falta ou imprecisas (ver anexo III). Além disso, por vezes, os relatórios de conformidade da Comissão careciam de clareza quanto à avaliação das condições. O facto de terem sido utilizados muitos termos diferentes31 para comunicar o incumprimento das condições do programa introduziu ambiguidade no que diz respeito ao significado global da avaliação.
38Em alguns casos, no entanto, o cumprimento formal de uma condição (por ex., a adoção de um ato legislativo específico) não garantiu a aplicação efetiva dessa condição, isto é, não conduziu aos resultados pretendidos. Pode citar-se a aplicação do Programa Legislar Melhor. Após a aprovação da respetiva lei, em 2012, as insuficiências detetadas mantinham-se, como observado pela OCDE no seu documento intitulado “Regulatory Policy Outlook 2015“ (Perspetivas da OCDE sobre a política da regulamentação, 2015)32.
39De um modo geral, embora a Comissão tenha acompanhado a consecução dos objetivos quantitativos dos programas (isto é, a redução dos postos de trabalho na função pública, dos custos salariais e dos lugares de direção), dispunha de instrumentos limitados para verificar se as reformas estruturais tinham sido devidamente levadas a cabo. As dificuldades no acesso a dados abrangentes contribuíram para esse problema. O Tribunal identificou especificamente lacunas de dados no domínio da fiscalidade (ver anexo IV, parte A) e das profissões regulamentadas (dados incompletos sobre as restrições de acesso a determinadas profissões, como advocacia, notariado, engenharia e arquitetura). Os programas não permitiram colmatar completamente estas lacunas, embora tivessem sido registadas algumas melhorias nas avaliações posteriores. Para a maioria das condições estruturais, a Comissão conseguiu acompanhar a adoção das alterações jurídicas, mas não dispunha de indicadores e metas de desempenho adequados para avaliar a execução das reformas.
40A ausência de indicadores de desempenho adequados impediu a Comissão, por exemplo, de verificar a consecução de objetivos de eficiência no contexto da reorganização da administração central. No setor financeiro, só em abril de 2014 é que o segundo programa introduziu uma condição segundo a qual era solicitado ao Banco da Grécia que estabelecesse indicadores de desempenho fundamentais para acompanhar os progressos realizados pelos bancos na redução das suas grandes carteiras de créditos não produtivos. Além disso, ainda no setor financeiro, a Comissão não fez pleno uso da sua capacidade de observadora junto dos órgãos de decisão do FHEF, o que proporcionou uma oportunidade adicional para garantir o cumprimento das condições dos programas33.
Cooperação com parceiros dos programas
41A nível técnico, as condições foram principalmente concebidas pela Comissão (sob a coordenação da DG ECFIN) e pelo FMI, em consulta com o BCE. No âmbito do terceiro programa, o MEE atuou como um quarto parceiro institucional. Os textos definitivos do Memorando de Entendimento mostram que as instituições chegaram a acordo entre si, bem como com as autoridades gregas, o que exigiu que todas as partes adaptassem as suas posições em função das necessidades.
42Não foram elaboradas orientações nem estabelecidos procedimentos específicos para a cooperação entre instituições e o processo não foi documentado formalmente (por ex., em atas), o que afetou a sua transparência. No entanto, as respetivas equipas do programa celebraram acordos de cooperação informais. Mantinham contacto regular via telefone e mensagens de correio eletrónico, bem como através de reuniões. Realizaram intercâmbios de informações, dados e análises preliminares e debateram soluções alternativas no que se refere à conceção dos programas. A Comissão e o FMI compartilharam os seus projetos de documentos dos programas a fim de garantir a coerência da condicionalidade. O facto de os serviços das três instituições disporem de experiência e de conhecimentos especializados variados possibilitou a elaboração de previsões e a realização de avaliações mais aprofundadas, reduzindo assim o risco de erros e omissões na conceção do programa e nas respetivas atualizações.
43O BCE e o Banco da Grécia adaptaram alguns dos seus instrumentos às políticas económicas dos programas34. No entanto, os programas não eram explícitos sobre a medida em que a disponibilização de liquidez à Grécia estava subordinada ao cumprimento das condições dos programas35 e sobre a forma como esse apoio foi tido em consideração para estimar as previsões macroeconómicas e os défices de financiamento.
Pressupostos económicos dos programas
44As projeções macroeconómicas e o cálculo do défice de financiamento foram os dois processos fundamentais que definiram o quadro económico para a conceção e alteração dos programas (ver caixa 3). A Comissão realizou estas análises para cada programa e elaborou uma atualização para cada avaliação. Todas as instituições envolvidas na gestão dos programas realizaram as suas análises económicas separadamente, mas o resultado final refletiu o consenso a que todas chegaram.
Caixa 3
Principais características dos processos económicos subjacentes à conceção dos programas
Projeções macroeconómicas – fornecem a melhor estimativa da Comissão sobre as principais evoluções económicas do país, com base no pressuposto de que as condições do programa serão plenamente cumpridas. As projeções captam a evolução da economia real (evolução do PIB e suas componentes, bem como do mercado de trabalho) e ainda a trajetória orçamental (dívida e défice) para efeitos da avaliação da sustentabilidade da dívida. As projeções implicam um processo que interage com as previsões habituais da Comissão, mas que também as transcende. Mesmo quando o calendário é diferente, as previsões efetuadas no âmbito dos programas de ajustamento económico assentam nas últimas previsões económicas europeias disponíveis, que são utilizadas como base pelos serviços competentes.
Cálculo do défice de financiamento – estimativa das necessidades de financiamento da Grécia, a fim de assegurar que o défice de financiamento pode ser coberto pela assistência financeira autorizada no âmbito do programa. Por défice de financiamento entende-se as necessidades de financiamento do Estado, calculadas como a diferença entre as despesas, por um lado, e as receitas provenientes de fontes que não a assistência prestada ao abrigo do programa, por outro.
Pontos fortes e fracos da metodologia
45As folhas de cálculo utilizadas na elaboração das projeções macroeconómicas forneceram informações claras e pormenorizadas sobre dados históricos e projeções para o conjunto das variáveis macroeconómicas. A previsão das tendências para as principais variáveis macroeconómicas e orçamentais esteve em consonância com as projeções das suas componentes e foi tida em conta num vasto leque de fontes de informação. A Comissão recorreu aos pressupostos mais recentes sobre a evolução da economia internacional e indicadores técnicos. No entanto, não incorporou explicitamente alguns fatores habitualmente utilizados nos modelos macroeconómicos e não integrou suficientemente as projeções macroeconómicas e orçamentais (ver caixa 4).
Caixa 4
Pontos fracos da metodologia de previsão da Comissão
Exaustividade – determinados fatores (por ex., o produto potencial ou a taxa de desemprego não aceleradora da inflação) não foram incorporados explicitamente nas projeções macroeconómicas. A Comissão optou igualmente por não documentar a forma como tais fatores foram utilizados na fase de avaliação e que elementos das previsões económicas europeias foram utilizados para efeitos das previsões do programa.
Coordenação das projeções - A Comissão elaborou as projeções macroeconómicas e orçamentais separadamente e não as integrou num modelo único. Por conseguinte, a tomada em consideração do impacto mútuo de ambas as projeções comporta uma parte de apreciação subjetiva.
Abordagem da análise da sustentabilidade da dívida - a trajetória a longo prazo da dívida expressa em percentagem do PIB foi definida por um procedimento mecânico de aplicação generalizada de acumulação de dívidas. Esta abordagem carece de um mecanismo interno que estabeleça uma interligação entre a trajetória da dívida e a atividade económica (produção, distribuição e consumo de bens e serviços).
De um modo geral, a complexidade da metodologia do défice de financiamento aumentou ao longo dos programas e as folhas de cálculo para o segundo programa incluíram cálculos, avaliações e ferramentas de modelização muito mais complexos. O âmbito do cálculo do défice de financiamento também foi alargado para ter em consideração elementos e fatores adicionais numa fase posterior do programa, embora tenham continuado a verificar-se determinadas deficiências metodológicas (ver anexo V). A metodologia manteve-se praticamente inalterada no terceiro programa.
47A Comissão não dispunha de quaisquer procedimentos para iniciar, autorizar, registar, processar e comunicar os cálculos do défice de financiamento. Os controlos de qualidade realizados eram de natureza informal, tendo o Tribunal identificado insuficiências significativas no ambiente de controlo no que se refere às folhas de cálculo36. Não houve melhorias a este respeito durante os três programas.
48Apesar da utilização de múltiplas fontes, os dados não foram referenciados nem datados. Por isso, a reconciliação dos dados foi problemática e o Tribunal não conseguiu verificar se as informações utilizadas eram sempre as mais atualizadas. Na apresentação dos resultados do défice de financiamento do primeiro programa, o Tribunal identificou vários erros. Estes não tiveram impacto no montante global do défice de financiamento, mas indiciam a existência de insuficiências nas disposições internas da Comissão em matéria de controlo da qualidade37.
Testes de sensibilidade e justificação dos pressupostos
49A Comissão acompanhou regularmente a situação da Grécia em matéria de liquidez e atualizou igualmente o ficheiro utilizado para o cálculo do défice de financiamento entre as avaliações. Os documentos do programa acessíveis ao público não apresentavam os testes que permitiam determinar o grau de sensibilidade do cálculo do défice de financiamento a resultados ou factos diferentes, mas essas análises figuravam nos documentos de trabalho da Comissão. Esta construiu os seus cenários em torno de vários elementos, como o calendário de diferentes desembolsos, o nível de receitas de privatizações e os pagamentos em atraso liquidados. Por outro lado, não foi realizada nenhuma análise de cenário para as projeções macroeconómicas. Estas não incorporaram sistematicamente choques externos sofridos pela economia grega, como uma depreciação muito acentuada do euro ou um declínio abrupto dos preços dos produtos de base, que acabaram, efetivamente, por se materializar posteriormente durante o período de vigência dos programas.
50No que diz respeito à justificação de pressupostos e à documentação, o Tribunal detetou deficiências em ambos os processos. No que se refere ao défice de financiamento, a documentação do programa incluía um ponto sobre a gestão da tesouraria e o financiamento dos programas. No entanto, frequentemente, as observações eram vagas e não explicavam as alterações efetuadas nas atualizações do cálculo do défice de financiamento. Em vários casos, os pressupostos específicos subjacentes ao cálculo do défice de financiamento mereciam uma justificação explícita38. Os problemas associados à justificação continuaram a verificar-se no terceiro programa. A Comissão aceitou, por sugestão do FMI, aumentar a reserva de liquidez para 8 mil milhões de euros. No entanto, não conseguiu justificar o motivo subjacente a este nível específico para a reserva de liquidez, tendo invocado a experiência anterior adquirida com outros programas.
51Ao incorporar o impacto das reformas estruturais nas projeções macroeconómicas, a Comissão baseou-se nos elementos de apreciação subjetiva, que não foram documentados. Além disso, devido ao tratamento separado de que foram objeto as projeções orçamentais e macroeconómicas, não foi possível verificar a forma como a Comissão definiu e quantificou o impacto das políticas orçamentais nas projeções macroeconómicas.
Precisão e ajustamentos
52Especialmente no primeiro programa, a previsão da Comissão subestimou significativamente a profundidade da crise (ver anexo VI), o que se deveu sobretudo ao facto de a Comissão ter subestimado a queda do consumo privado e do investimento. No entanto, a precisão global das previsões macroeconómicas da Comissão foi, geralmente, semelhante à de outras organizações39 e parcialmente influenciada pela inexatidão dos dados estatísticos comunicados pelas autoridades gregas referentes ao período anterior ao programa. Relativamente a 2010 e a 2011, a previsão inicial da Comissão subestimou o saldo das administrações públicas, em oposição ao que se verificou relativamente ao período de 2012-2013.
53Os cálculos do défice de financiamento deixaram à Grécia muito pouca margem de manobra no que diz respeito à reserva de liquidez, definida em termos de situação de tesouraria. Em média, essas reservas diminuíram durante o período de programação, mas sem fosse fornecida qualquer justificação. Chegou, efetivamente, a prever-se que o nível das reservas fosse reduzido para zero no final do primeiro trimestre de 2014. A situação de tesouraria, com 3 mil milhões de euros disponíveis em média representava apenas 11 dias de despesas primárias. No entanto, para aumentar a reserva de liquidez seria necessário ajustar o financiamento global do programa ou introduzir nele medidas orçamentais adicionais.
54Dada a limitação da reserva de liquidez e a deterioração da situação orçamental, a Grécia contraiu empréstimos a curto prazo emitindo bilhetes do Tesouro ou atrasando pagamentos e aumentando assim os pagamentos em atraso. O valor dos bilhetes do Tesouro a emitir variou significativamente consoante os cálculos do défice de financiamento e serviu de principal variável de ajustamento para manter o financiamento da economia grega no bom caminho.
Parte II - Conceção e execução das reformas
55O apoio financeiro desembolsado ao abrigo dos três programas de ajustamento económico a favor da Grécia estava condicionado à execução de reformas associadas aos três tipos de objetivos dos programas, isto é, orçamentais, financeiros e de crescimento. A conceção e o âmbito específico das reformas, que eram muito amplos desde o início, evoluíram ao longo dos programas. Os programas abrangeram praticamente todas as funções do Estado grego, em alguns casos exigindo alterações estruturais profundas. Registaram-se atrasos substanciais no cumprimento das condições dos programas em todos os domínios de intervenção (ver anexo VII).
56A análise efetuada pelo Tribunal, conforme apresentada na presente secção do relatório, incidiu numa amostra de políticas e centrou-se nas que tiveram o maior impacto em termos de realização dos objetivos do programa. A presente parte inclui secções específicas sobre as reformas nos domínios da fiscalidade, da administração pública, do setor financeiro e das reformas do mercado de trabalho, enquanto os outros domínios de intervenção abrangidos pelo trabalho de auditoria do Tribunal são analisados nas partes I e III (ver figura 4)40.
Para cada um dos domínios de intervenção, o trabalho de auditoria realizado pelo Tribunal abrangeu os seguintes aspetos:
- a conceção das condições relativas às políticas (justificação e contexto analítico das medidas, adequação, especificidade e calendário);
- a execução e os resultados (cumprimento das condições relativas às políticas e evolução das reformas nos domínios específicos sujeitos às condições dos programas). Em contraste, os impactos mais amplos das reformas (em termos de crescimento, sustentabilidade orçamental e estabilidade financeira) são debatidos na parte III do relatório para que se possa estabelecer uma distinção entre os referidos impactos e os resultados das condições específicas que são apresentados nas secções seguintes da parte II.
Fiscalidade
58A melhoria sustentável do saldo orçamental grego e o fomento do crescimento figuravam entre os principais objetivos dos três programas de ajustamento económico. Estes objetivos a médio prazo eram igualmente partilhados pelo FMI. Para os alcançar, os programas incluíram condições que visavam aumentar a receita fiscal e a eficácia da administração fiscal na cobrança de impostos (isto é, reformas destinadas a aumentar a capacidade de aumento das receitas por parte dos poderes públicos). O trabalho de auditoria realizado pelo Tribunal centrou-se nas alterações do sistema fiscal (incluindo as contribuições sociais) e nas reformas da administração pública destinadas a melhorar a cobrança das receitas fiscais.
Conceção da condicionalidade - políticas fiscais
Combinação e estabilidade das medidas fiscais
59As recomendações gerais de política sobre consolidações orçamentais (por ex., da OCDE) e as avaliações do sistema fiscal da Grécia realizadas no período anterior à crise consideravam que, entre as medidas fiscais, deve ser dada prioridade às medidas relativas aos impostos sobre o consumo (impostos indiretos) e ao alargamento das bases tributárias, devido ao seu menor impacto negativo no crescimento económico. Contrariamente a estas avaliações, durante o primeiro programa o aumento das taxas de imposto e os impostos temporários foram privilegiados sobre o alargamento das bases tributárias, já que se esperava que contribuíssem rapidamente para alcançar os objetivos orçamentais a curto prazo.
60As medidas destinadas a alargar as bases tributárias fizeram principalmente parte do segundo e do terceiro programas, tendo algumas delas exigido reformas consideráveis dos códigos fiscais. Conforme previsto, os aumentos das receitas fiscais durante os dois primeiros programas basearam-se principalmente na tributação indireta (em particular, foram aumentadas as taxas dos impostos indiretos e foi introduzido um imposto predial recorrente de ampla base de incidência). No entanto, determinados aumentos de impostos indiretos (por ex., impostos sobre a energia ou a poluição) colocam uma pressão adicional sobre os custos de produção das empresas.
61As condições dos programas conduziram a uma instabilidade considerável da política fiscal que afetou todos os principais tipos de impostos e nem mesmo o rumo das alterações permaneceu estável (por ex., o primeiro programa preconizava um tratamento fiscal unificado das fontes de rendimento das pessoas singulares, ao passo que o segundo programa enveredou por uma trajetória oposta, ver anexo IV, parte B). Até certo ponto, a instabilidade deveu-se a problemas de capacidade administrativa em matéria de conceção da política fiscal e a uma fraca capacidade de execução, conforme reconhecido pela Comissão, o que exigiu ajustamentos frequentes das condições dos programas. No primeiro programa, a instabilidade foi igualmente motivada pela procura de medidas fiscais pontuais e urgentes com o intuito de alcançar os objetivos em matéria de défice. A ausência de uma estratégia inicial da Comissão em matéria de políticas fiscais e as lacunas que afetavam os dados (ver anexo IV, parte A) contribuíram igualmente para o problema, embora tenham sido observadas melhorias durante o período de vigência dos programas.
Justificação das medidas
62A justificação das condições de política fiscal não foi documentada de forma sistemática41. Os aumentos significativos das taxas de IVA e de impostos especiais de consumo em 2010 foram justificados com base na necessidade de consolidação orçamental e acordados com as autoridades, mas não foi realizado um estudo das consequências de medidas fiscais alternativas, como um imposto predial recorrente de ampla base de incidência42, que foi introduzido em 2011 como parte de um plano orçamental adicional. A documentação da fase de conceção melhorou ao longo do tempo, graças a uma melhor qualidade dos dados fornecidos pelas autoridades competentes (por ex., no caso da modelização das reformas do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares no segundo programa e dos aumentos das taxas de IVA previstos no terceiro).
Conceção da condicionalidade - cobrança dos impostos
63Várias instituições internacionais (FMI, OCDE e Comissão) enunciaram os problemas consideráveis relacionados com a cobrança dos impostos na Grécia no período anterior à crise. Os resultados do primeiro programa nesse domínio foram fracos43 e podem ser atribuídos a três grandes tipos de problemas: i) foi dada uma prioridade limitada às condições que, além disso, não foram especificadas de forma clara, nem eram suficientemente sólidas (ver caixa 5); ii) a capacidade de execução dos planos das próprias autoridades contra a evasão fiscal foi fraca; iii) o acompanhamento da Comissão baseou-se em critérios e dados insuficientes (ver parte I).
Caixa 5
Exemplos de problemas na conceção das medidas de cobrança dos impostos
Inclusão tardia nos programas
As condições do primeiro programa deram uma prioridade limitada a medidas específicas contra a evasão fiscal. Várias medidas fundamentais foram incluídas apenas no segundo programa (unificação dos números de identificação fiscal dos contribuintes, introdução de um sistema informático para interligar todos os serviços fiscais, criação de um registo central de contas bancárias) ou no terceiro programa (por ex., promoção e facilitação de pagamentos eletrónicos, publicação de listas de devedores ao fisco e à segurança social).
O âmbito das medidas não era abrangente
A avaliação comparativa com outros Estados-Membros revela que poderiam ter sido consideradas medidas mais específicas na Grécia como, por ex., um mecanismo de pagamento fracionado do IVA para operações realizadas com instituições públicas e uma utilização mais intensiva de dispositivos fiscais eletrónicos.
Nível de pormenores insuficiente no início
O primeiro programa previa a aprovação de legislação destinada a melhorar a eficiência da administração e dos controlos fiscais, mas não foi elaborada nenhuma lista com as medidas específicas acordadas. Esta condição baseou-se em recomendações formuladas pelo FMI em matéria de assistência técnica em maio de 2010, mas que não foram transpostas na íntegra.
A maioria das condições para reforçar a administração fiscal foi incluída no segundo e no terceiro programas, corrigindo assim algumas das insuficiências de conceção do primeiro. Estas condições basearam-se principalmente nas recomendações do Grupo de Missão para a Grécia e conduziram a uma melhoria em termos de clareza, mas aumentaram também significativamente o nível de pormenor44. Esta evolução explica-se pelo facto de as condições anteriores não terem sido aplicadas de forma adequada. Algumas condições também tinham prazos irrealistas (ver anexo IV, parte C).
Execução e resultados
65As medidas de política fiscal acordadas nos programas provocaram um aumento da carga fiscal45 sobre a economia durante o período de 2010-2014 (5,3% do PIB), que se acentuou com as novas medidas fiscais do terceiro programa. Desta forma se vê que as medidas aplicadas contribuíram de forma duradoura para a melhoria das finanças públicas. O aumento foi maior do que o registado em qualquer outro país abrangido pelo programa e fez com que a Grécia atingisse a média (não ponderada) de encargos fiscais dos Estados-Membros da área do euro no final de 2014 (ver figura 5). A maior parte do aumento foi alcançado durante o período de 2010-2012, que constituiu a fase mais grave da crise económica grega.
No final do segundo programa, a Comissão considerou que a Grécia tinha aplicado um vasto leque de condições em matéria de evasão fiscal e cobrança de impostos, mas o seu contributo para a consolidação orçamental tinha sido limitado46. Essa situação devia-se ao facto de algumas das reformas não terem sido devidamente executadas, ainda necessitarem de mais tempo para serem visíveis nas estatísticas ou a sua eficácia ter sido afetada pela instabilidade do ambiente fiscal. Os indicadores de desempenho dos programas em matéria de administração fiscal revelam uma melhoria frágil e parcial do número de inspeções fiscais e das taxas de cobrança nos centros de auditoria especializados mas, entre 2012 e 2014, os objetivos raramente foram alcançados (ver anexo IV, parte D). Durante o período de 2010-2014, as dívidas fiscais aumentaram, em média, cerca de 8,2 mil milhões de euros por ano (4,2% do PIB), apesar das anulações de dívidas e das medidas de cobrança. Os programas não previam indicadores para acompanhar a estimativa dos impostos não declarados (“diferencial de tributação”) ou do trabalho não declarado, mas a estimativa dos desvios do IVA47 mostrou que a evasão fiscal aumentou durante o primeiro programa e registou uma melhoria tímida em 2014, em comparação com os valores registados em 2010.
Reforma da administração pública
67O objetivo da reforma da administração pública consistia em aumentar a eficiência, reduzindo os gastos com a administração pública e, simultaneamente, aumentando a qualidade dos serviços públicos prestados. Por conseguinte, os programas eram constituídos por componentes orçamentais e estruturais. O terceiro programa enfatizou ainda mais a importância da reforma da administração pública, que considerou ser um pilar específico do programa. O trabalho de auditoria realizado pelo Tribunal centrou-se nos ganhos de eficiência obtidos através da reforma ao nível central da administração pública.
Conceção da condicionalidade
Prioridades a curto prazo e perspetiva estratégica da reforma da administração pública
68Num contexto de crise orçamental, a principal prioridade do primeiro programa no domínio da administração pública foi a consolidação orçamental48. Os aspetos estruturais ganharam um novo impulso nas condições do segundo programa, mas não assentavam num planeamento estratégico adequado. No que se refere à administração pública, a condicionalidade relativa às reformas estruturais não se inseria num programa mais amplo e abrangente, aplicável por etapas de forma coerente e planeada ao conjunto dos serviços públicos. As reformas estruturais da administração pública não tinham em conta fatores fundamentais que a própria Comissão considerava necessários para conceber uma boa reforma global da administração pública, ou seja, um intercâmbio das melhores práticas a nível da UE, a participação das partes interessadas e da sociedade civil, bem como a continuidade e a estabilidade das reformas (ver anexo VIII, parte A).
69Em 2013, foi solicitado às autoridades gregas, no âmbito do segundo programa, que apresentassem uma estratégia e um plano de ação para as reformas da administração pública, mas este requisito não foi sincronizado com as ações fundamentais do programa (a reorganização do setor público grego teve início em 2012, dois anos antes da apresentação da estratégia). Este plano não foi posto em prática e, em 2015, foi-lhes solicitado que apresentassem, no âmbito do terceiro programa, uma nova estratégia trienal para as reformas da administração pública.
Abrangência das reformas
70O primeiro programa solicitou a realização de uma análise do funcionamento da administração central pela OCDE, para permitir estabelecer por ordem de prioridade as reformas neste domínio e definir uma abordagem especificamente adaptada ao país. Embora a análise tenha evidenciado claramente as fragilidades da administração grega e os domínios de intervenção que necessitavam de apoio administrativo, 13 das recomendações da OCDE foram incluídas nas condições após algum atraso (ver caixa 6). As recomendações não foram seguidas de forma sistemática e não existia um quadro para acompanhar a evolução das reformas nem uma estratégia para resolver questões relacionadas com a gestão e a recolha de dados (ver anexo VIII, parte B).
Caixa 6
Exemplos de atrasos na aplicação das recomendações da OCDE
No domínio das TIC, foi incluído no programa um plano destinado a garantir a interoperabilidade entre os vários ramos da administração central um ano após a publicação do relatório da OCDE e, no caso das estratégias de recursos humanos e comunicação, após dois anos.
Mesmo antes do início do primeiro programa, a UE dispunha de instrumentos (principalmente o Programa Operacional de Reforma Administrativa – PORA – financiado pelo Fundo Social Europeu) para debelar as fragilidades da administração pública da Grécia. Embora a Comissão estivesse ciente da gravidade desses problemas, os programas não incorporavam medidas específicas para desenvolver as capacidades institucionais49. A este respeito, foi prestado algum apoio, embora de âmbito e escala limitados, sob a coordenação do Grupo de Missão para a Grécia50. Pelo contrário, não se estabeleceu uma ligação entre os projetos de reforço das capacidades, que já estavam em execução em 2010 no âmbito do PORA, e a condicionalidade do programa, tendo mesmo alguns deles sido cancelados durante o período coberto pelos programas de ajustamento. A abrangência das condições e a coordenação com outros instrumentos (incluindo a assistência técnica) melhoraram no quadro do terceiro programa, em especial através do estabelecimento de uma ligação explícita entre a assistência técnica e o programa de ajustamento.
Justificação das medidas
72Apesar de a Comissão ter realizado algum trabalho analítico no que se refere à conceção das reformas da administração pública, a justificação apresentada para determinadas medidas específicas não era satisfatória. Em particular, a Comissão não conseguiu fornecer análises quantitativas ou qualitativas para os dois principais objetivos das reformas (isto é, supressão de 150 000 postos de trabalho na função pública durante o período de 2011-2015 e saída obrigatória de 15 000 trabalhadores até 201451).
73O problema da falta de justificação verificou-se igualmente no faseamento das reformas e dos prazos de execução. Embora a Comissão não tenha conseguido fornecer a análise subjacente à conceção dos programas a este respeito, os prazos estabelecidos para o cumprimento de determinadas condições acabaram por revelar-se demasiado ambiciosos e não tiveram em consideração a capacidade de execução. Por exemplo, o prazo estipulado para a criação e aplicação de um novo sistema de avaliação do pessoal aplicável à totalidade da administração pública foi de 11 meses, ao passo que um estudo comparativo do programa SIGMA (Apoio à Melhoria da Governação e da Gestão) da OCDE sobre sistemas de administração pública em seis países da UE sugere que o prazo ideal para a preparação dessa reforma era 1,5 a 3 anos. O pessoal da administração pública não foi objeto de avaliação durante o segundo programa. Por conseguinte, o terceiro programa estabeleceu uma nova condição, segundo a qual o legislador deveria introduzir um novo sistema, moderno, de avaliação de desempenho no prazo de quatro meses (até novembro de 2015). A lei foi aprovada em fevereiro de 2016, mas era necessário introduzir diplomas de execução adicionais até junho de 2016 (sete meses depois). A primeira avaliação estava prevista para junho de 2017, quase dois anos após o início do terceiro programa.
Execução e resultados
74As reformas da administração pública da Grécia alcançaram o objetivo de redução dos custos fixado pelos programas. O objetivo de redução global dos postos de trabalho na função pública foi alcançado em 2013, isto é, dois anos antes do previsto, devido à aplicação da regra de atrito para novos recrutamentos, à redução do recrutamento de agentes contratuais e aos regimes de reforma antecipada. Entre 2009 e 2015, o número de funcionários públicos diminuiu mais de 225 000 (ver figura 6).
Em termos de resultados orçamentais, o custo anual com os postos de trabalho da administração pública registou uma queda de 37,9% (9,6 mil milhões de euros) entre 2009 e 2015. Em 2015, o nível de salários do setor público estava alinhado com a média da área do euro (9,1% do PIB na área do euro versus 9% na Grécia; ver figura 7). No entanto, estas poupanças resultaram num aumento das despesas associadas ao regime de pensões.
As componentes estruturais da reforma da administração pública beneficiaram de um apoio limitado a nível nacional e foram prejudicadas pela instabilidade política (ver pontos 31-32). Consequentemente, produziram muito menos resultados tangíveis do que as medidas orçamentais. Os primeiros programas realizaram progressos limitados em termos de reorganização das entidades públicas, gestão de recursos humanos e despolitização do serviço público (ver caixa 7). Pelo contrário, os avanços positivos incluíram a criação de um Conselho Governamental para a Reforma, do Secretariado-Geral para a Coordenação da Ação Governamental, da Agência Única de Pagamento e de uma base de dados de censos dos empregos públicos.
Caixa 7
Reforma da administração pública - aspetos estruturais
Avaliação de entidades públicas - a avaliação do primeiro programa, realizada em julho de 2011, exigiu que, após uma primeira vaga de 153 entidades, as novas avaliações deveriam abranger 1 500 entidades públicas, incluindo um procedimento abrangente de avaliação comparativa. Porém, não foi empreendida nenhuma ação a este respeito.
Gestão de recursos humanos e despolitização - determinadas medidas (seleção de gestores e adoção de um sistema de avaliação de pessoal) foram introduzidas tardiamente (2013) no segundo programa e não foram aplicadas. A despolitização da gestão e dos órgãos superiores de gestão, incluindo Secretários-Gerais e pessoal de entidades de direito público e privado, foi introduzida no âmbito do terceiro programa.
Grelhas salariais - no âmbito do primeiro programa, o objetivo consistia em reduzir a carga orçamental. Só no segundo programa se introduziu a condicionalidade para melhor refletir as competências e responsabilidades do pessoal, que, no entanto, não foi executada. Em 2015, no terceiro programa foi exigida uma nova reforma da grelha salarial unificada. A reforma visava alterar a grelha salarial - de forma neutra do ponto de vista orçamental - para refletir melhor as competências e responsabilidades dos diferentes empregos.
Reformas do setor financeiro
77A salvaguarda da estabilidade financeira nacional foi um dos principais pilares dos programas de ajustamento económico da Grécia. Para atingir esse objetivo, os programas incluíram condições destinadas a reforçar a saúde e a resistência do setor financeiro através do aumento dos fundos próprios dos bancos, da manutenção de liquidez suficiente, da eliminação dos créditos não produtivos e da melhoria da governação e da supervisão (ver caixa 8 e informações pormenorizadas sobre as estratégias do programa e as condições fundamentais para o setor financeiro no anexo IX, parte A). A análise realizada pelo Tribunal centrou-se nas medidas adotadas para reestruturar e recapitalizar o setor bancário e nas reformas relacionadas com a governação e a qualidade dos ativos, em particular os créditos não produtivos.
Caixa 8
Aspetos fundamentais das reformas do setor financeiro
Fundo Helénico de Estabilidade Financeira (FHEF) - criação do FHEF com o objetivo de contribuir para a estabilidade financeira do sistema bancário grego, disponibilizando capitais próprios, se necessário.
Recapitalização e resolução bancárias - ao abrigo do primeiro programa, foi afetado um montante de 10 mil milhões de euros para injeções de capital nos bancos através do FHEF, mas que acabou por ser apenas marginalmente utilizado. No segundo programa, foi afetado um montante de 50 mil milhões de euros para efeitos de recapitalização bancária e custos de resolução através do FHEF. Foram previstas reservas adicionais no montante máximo de 25 mil milhões de euros para o mesmo efeito ao abrigo do terceiro programa.
Liquidez - preservação de liquidez suficiente no sistema bancário, em conformidade com as regras do Eurosistema. A médio prazo, realização de um modelo de financiamento bancário sustentável através da redução gradual da dependência dos bancos dos empréstimos concedidos pelo banco central.
Créditos não produtivos - reforço do quadro de insolvência e da capacidade de gestão de créditos não produtivos dos bancos, desenvolvimento de um mercado de prestação de serviços e de venda desses créditos e melhoria da gestão dos bancos em processo de liquidação.
Governação e supervisão - reforço da governação do FHEF, dos bancos e do Banco da Grécia. Melhorias na supervisão e regulação a nível nacional.
Não obstante a fraca procura de empréstimos durante os períodos abrangidos pelos programas, todos eles previam um número muito limitado de reformas do setor financeiro52 para resolver diretamente a questão da contração de crédito na Grécia, quer em termos de oferta de crédito bancário quer de custo de crédito. As restrições em matéria de facilidades de crédito dificultaram os esforços para restabelecer a competitividade da economia grega, uma vez que as PME nacionais enfrentaram dificuldades significativas para obter acesso ao crédito.
Conceção da condicionalidade
79A análise da Comissão nem sempre justificou de forma suficiente os riscos de algumas opções políticas. Por exemplo, no contexto da recapitalização bancária de 2013, a Comissão ponderou várias opções para atrair investidores privados. Tendo concluído que as propostas das autoridades gregas ofereciam demasiados atrativos aos investidores privados, acabou por optar pela emissão de warrants53. No entanto, a análise não identificou de forma abrangente alguns dos riscos dos warrants, por exemplo, o possível impacto sobre os preços das ações dos bancos (ver anexo IX, parte B).
Reestruturação e recapitalização do setor bancário
i) Avaliações das necessidades de capital
80As avaliações das necessidades de capital previstas nos dois primeiros programas nem sempre tiveram por base pressupostos suficientemente prudentes. Por exemplo, mesmo o cenário desfavorável para o crescimento do PIB, datado de janeiro de 2011, foi mais positivo do que o desempenho económico real em 4,6 pontos percentuais, 7,8 pontos percetuais e 4,7 pontos percentuais, respetivamente, para 2011, 2012 e 201354. Além disso, a parte remanescente dos fundos do segundo programa (cerca de 11 mil milhões de euros) influenciou parcialmente a análise, pela Comissão, de uma nova avaliação das necessidades de capital realizada no início de 2014 pelo Banco da Grécia.
ii) Avaliação da viabilidade
81Uma condição do segundo programa solicitava ao Banco da Grécia que avaliasse quais, dos 15 bancos nacionais, eram viáveis e, por conseguinte, elegíveis para efeitos de recapitalização através dos fundos do programa. Os bancos restantes seriam objeto de resolução, a menos que pudesse ser gerado capital privado. O programa não exigiu ao Banco da Grécia que garantisse que o processo era suficientemente transparente. Por exemplo, os bancos não tiveram acesso às avaliações que lhes diziam respeito, nem aos cálculos subjacentes às mesmas.
iii) Recapitalizações bancárias de 2014 e 2015
82As condições do segundo e do terceiro programas permitiram que o FHEF fosse utilizado apenas como fonte de apoio de último recurso nas recapitalizações de 2014 e 2015 (ver anexo IX, parte B). Por isso, o FHEF não podia participar nas recapitalizações bancárias caso houvesse interesse do setor privado, a fim de minimizar novas injeções de fundos públicos. No processo de recapitalização, foi exercida uma pressão descendente significativa sobre os preços das ações, o que resultou na diluição substancial da participação do FHEF55, que já era um acionista maioritário na sequência da recapitalização de 2013.
Qualidade dos ativos – Créditos não produtivos
83No caso da gestão de créditos não produtivos, a criação de uma sociedade de gestão de ativos é uma das soluções mais comuns a nível internacional. No entanto, essa solução não foi utilizada nos programas gregos devido a restrições de financiamento e a outros fatores, como a diversificação de créditos não produtivos em todos os setores, questões de governação e considerações em matéria de auxílios estatais da UE. Não obstante as eventuais restrições, as estimativas da Comissão no que se refere às necessidades de financiamento de uma sociedade de gestão de ativos não eram suficientemente realistas para avaliar de forma aprofundada se a medida era adequada no contexto grego.
84Os dois primeiros programas colocaram a tónica na recapitalização dos bancos e na prestação de apoio à liquidez, sem que se juntasse uma ação eficaz no que se refere à gestão de créditos não produtivos (por ex., o primeiro programa só previa o compromisso de rever a legislação relativa à insolvência). O segundo programa tentou abordar o problema dos créditos não produtivos apoiando-se principalmente na gestão interna desses créditos pelos bancos, o que, embora essencial, se revelou bastante ineficaz56. À medida que o segundo programa avançava, a capacidade dos bancos para gerir os créditos não produtivos foi adquirindo uma maior prioridade, mas só foram executadas reformas tangíveis para melhorar os processos de gestão internos a partir do terceiro programa.
85No que se refere à insolvência das pessoas singulares e coletivas na Grécia, as condições dos dois primeiros programas conservaram um caráter geral e a série de alterações legislativas que foram devidamente introduzidas para lidar com ativos de alto risco eram, na sua maioria, de âmbito limitado e ineficazes57. Muitas reformas foram caracterizadas por uma abordagem fragmentada e um conjunto diversificado de prioridades políticas que, frequentemente, deram origem a objetivos políticos contrários. Em alguns casos, tais reformas chegaram mesmo a ser executadas sem a realização de uma consulta adequada das partes interessadas e de uma análise de impacto. A complexidade do quadro de insolvência perpetuou o problema dos créditos não produtivos em vez de resolvê-lo num quadro estratégico coerente e centralizado com prioridades políticas claras. A conceção do quadro também não teve em conta a capacidade limitada do sistema judicial para lidar eficazmente com o grande volume de processos. Em conjunto, esses problemas de complexidade e capacidade geraram atrasos, disseminando assim o risco de incumprimento estratégico e moral por todo o sistema (ver caixa 9).
Caixa 9
Insolvência das pessoas singulares
O quadro jurídico de insolvência das pessoas singulares resultou na apresentação de cerca de 200 000 pedidos que inundaram o sistema judicial, o que culminou com os devedores a receber uma moratória relativa ao pagamento devido a um enorme atraso que deverá prolongar-se até 15 anos. O problema foi exacerbado pela insuficiência das orientações fornecidas aos juízes e pelos problemas de conceção que precederam a lei de 2015 (uma condição do terceiro programa), como a exigência de que os devedores pagassem um montante mínimo, ou mesmo nada, enquanto aguardavam uma audiência em tribunal.
Consequentemente, o quadro não foi bem orientado, pois permitiu que devedores não elegíveis solicitassem admissão no regime de insolvência como forma de evitar as ações dos credores até ao momento em que os seus processos fossem apreciados em tribunal. A falta de orientação das regras relativas à insolvência dos agregados familiares contribuiu igualmente para enfraquecer a cultura de pagamento entre os mutuários. O Banco da Grécia e os bancos nacionais estimam que um sexto das empresas e pelo menos um quarto dos agregados familiares tenham organizado estrategicamente a sua insolvência.
Só o terceiro programa incluiu uma condição para a criação de um mercado viável de prestação de serviços e de venda de créditos. No entanto, vários obstáculos fundamentais não foram removidos pela legislação adotada no final de 2015 nem por duas novas alterações em 2016 (que abrangiam igualmente os créditos produtivos), pelo que o quadro jurídico permaneceu complexo.
87No caso dos bancos em processo de liquidação especial que lidavam sobretudo com créditos não produtivos, durante um longo período as operações estiveram fragmentadas, dando origem a uma baixa eficiência em termos de cobrança de créditos não produtivos e custos operacionais. Por exemplo, a consolidação das operações (16 entidades numa) foi apenas uma condição do terceiro programa e foi aplicada mais de três anos após a proposta inicial apresentada por consultores externos. O processo de liquidação absorveu 13,5 mil milhões de euros do financiamento dos programas através do FHEF (ver quadro 3) e outros 1,7 mil milhões de euros do fundo nacional de garantia de depósitos.
Fundos utilizados | Fundos recuperados | Quantia recuperável estimada | Perdas esperadas | |
---|---|---|---|---|
Bancos sistémicos | 31,91 | 2,72 | 3,83 | 25,4 |
Bancos em processo de liquidação | 13,5 | 0,5 | 1,9 | 11,0 |
Total | 45,4 | 3,2 | 5,7 | 36,4 |
1 Incluindo os fundos utilizados para a injeção de capital de duas instituições de crédito temporárias (bancos de transição).
2 Incluindo o produto da emissão dos warrants, o reembolso dos CoCos (instrumentos de capital contingente) e os respetivos juros.
3 Incluindo o justo valor das ações dos bancos e o justo valor dos CoCos.
Fonte: Contas financeiras provisórias do FHEF, dezembro de 2016.
Governação
i) Governação bancária
88Embora as reformas do setor financeiro tenham ganho importância ao longo do primeiro programa, o próprio programa não incluiu condições para melhorar a governação dos bancos. No entanto, já existiam problemas relacionados com a governação (como a concessão de empréstimos a partes relacionadas em condições que não as de mercado) muito antes da crise, uma vez que a governação societária dos bancos gregos era, em média, de qualidade consideravelmente inferior à dos seus homólogos europeus desde o início.
89O segundo programa estabelecia que os quatro grandes bancos gregos (bancos “sistémicos”) seriam recapitalizados sobretudo por fundos do programa através do FHEF, mas não garantia um escrutínio suficiente da sua gestão privada. Contrariamente à prática internacional, as mudanças de propriedade que, em 2013, levaram à nacionalização quase completa do setor bancário nacional não se refletiram na maioria dos conselhos de administração dos bancos. De facto, em alguns casos, os acionistas históricos continuaram a deter o controlo da gestão e o FHEF não tinha competência para avaliá-los em termos de experiência, reputação e independência. A primeira condição relativa à avaliação da governação societária dos bancos foi incluída apenas no terceiro programa, quando o FHEF foi encarregado de avaliar todos os membros dos conselhos de administração dos bancos.
90Para o efeito, bem como para impedir uma eventual ingerência política ou empresarial, o terceiro programa previa critérios de seleção mais rigorosos no que diz respeito às qualificações e à experiência dos membros dos conselhos de administração dos bancos. No entanto, os critérios restringiam as candidaturas às pessoas que dispusessem de conhecimentos especializados no setor bancário e financeiro, o que não está plenamente em conformidade com as práticas internacionais e os requisitos da UE/do MUS que, em princípio, promovem a diversidade do conselho de administração, devendo os seus membros dispor coletivamente dos conhecimentos necessários.
91As reformas do setor financeiro também não se concentraram suficientemente na governação e na supervisão nacional de bancos de menor envergadura. Quase seis anos após a introdução do primeiro programa, uma inspeção no local realizada pelo Banco da Grécia e pelo MUS em março de 2016 revelou graves insuficiências internas em termos de governação, gestão de riscos e práticas de concessão de empréstimos num banco.
ii) Governação do FHEF
92A estrutura de governação inicial do FHEF foi definida no primeiro programa, mas não lhe conferiu independência em relação às autoridades. O segundo programa acrescentou uma condição segundo a qual a estrutura de gestão do FHEF deveria ser dualista (isto é, composta por um Conselho Geral e por um Conselho Executivo), mas continuaram a verificar-se problemas relacionados com a independência. O terceiro programa corrigiu esta deficiência concentrando-se no processo de seleção dos quadros superiores do FHEF. No entanto, as soluções propostas nos segundo e terceiro programas não asseguraram uma divisão eficiente de responsabilidades e poderes entre os dois conselhos responsáveis pela tomada de decisões. O processo de tomada de decisões do FHEF suscitou igualmente graves preocupações quanto à sua transparência. Por exemplo, em 2013, o FHEF aprovou a venda de uma participação maioritária numa filial bancária, apesar de a operação não ter por base um concurso público com vários proponentes.
93As condições dos programas conduziram a alterações frequentes nos quadros superiores do FHEF (34 pessoas nos primeiros seis anos, incluindo quatro presidentes e quatro diretores executivos), o que implicou o risco de lacunas de conhecimento e diminuiu a influência nos bancos em que o FHEF detinha ações.
Resultados financeiros esperados
94Em dezembro de 2016, o FHEF tinha injetado 45,4 mil milhões de euros no setor bancário grego, com perdas esperadas de 36,4 mil milhões de euros (ver quadro 3). De um modo geral, apenas uma pequena parte das perdas esperadas poderia, eventualmente, ser recuperada ao longo do tempo, devido a uma valorização do valor de mercado das ações dos bancos sistémicos, devendo a maior parte dos fundos concedidos aos bancos nacionais no âmbito dos programas continuar a fazer parte da dívida pública da Grécia.
Reformas do mercado de trabalho
95O objetivo global das reformas do mercado de trabalho consagrado nos programas consistia em melhorar o desempenho do mesmo, nomeadamente favorecendo um ajustamento rápido dos custos do trabalho. Esperava-se que as reformas neste domínio contribuíssem para restabelecer a competitividade da economia grega em termos de custos e conter as perdas de postos de trabalho durante a recessão. No que diz respeito aos custos do trabalho, o segundo programa estabeleceu como objetivo indicativo uma redução de 15% dos custos unitários do trabalho (CUT) durante o período de 2012-2014.
96Desde o seu início, em 2010, os programas incluíram um vasto leque de medidas destinadas a dar resposta à rigidez do mercado de trabalho grego. Essas medidas concentram-se na negociação e fixação dos salários, na definição e no valor do salário mínimo, na legislação de proteção do emprego e na flexibilidade do horário de trabalho. Paralelamente às medidas de liberalização, a partir do segundo programa foi colocada cada vez mais ênfase no combate ao trabalho não declarado e nas políticas ativas do mercado de trabalho que visavam diretamente a criação de emprego, mas estes aspetos não foram abrangidos pela auditoria.
Conceção da condicionalidade
Justificação e base analítica das reformas
97A abordagem da Comissão no que respeita às reformas do mercado de trabalho assentou em notas de orientação e outros documentos de trabalho, que forneceram análises de opções alternativas (por ex., como reduzir os custos unitários do trabalho ou estabelecer o quadro de negociação salarial). No entanto, a Comissão não teve em consideração certos riscos nessas análises, especialmente nas fases iniciais de conceção. Em particular, não foi realizada uma avaliação do impacto das reformas na zona cinzenta do mercado de trabalho, embora algumas das medidas implicassem um risco acrescido a este respeito58. O impacto social foi avaliado apenas para o terceiro programa, mas a análise foi de natureza descritiva e não foi realizada uma tentativa de estimar os impactos ou a repartição de encargos de forma quantitativa, quer relativamente a medidas específicas quer para as reformas do mercado de trabalho no seu conjunto.
98A Comissão documentou extensos intercâmbios de informações e debates relativos à política com as partes interessadas (incluindo as autoridades gregas, associações empresariais e outros parceiros não governamentais), o FMI e internamente. No que diz respeito ao compromisso alcançado pelos parceiros da Troika, prevaleceu a opinião da Comissão em alguns casos (não foi imposto nenhum corte salarial ao setor privado, tal como defendido pelo FMI) e a do FMI noutros (por ex., a legislação de proteção do emprego foi ainda mais liberalizada depois da primeira vaga de reformas). No último caso, a Comissão não conseguiu justificar plenamente o desvio em relação à sua posição inicial.
Adequação das medidas
99Em alguns casos, a conceção de condições específicas também não teve em conta as características específicas da economia grega, em particular a prevalência de micro e pequenas empresas. Por exemplo, a reforma da negociação salarial tal como inicialmente concebida previa a possibilidade de negociação ao nível das empresas, embora continuava a ser exigida uma representação oficial do pessoal. Como as pequenas empresas frequentemente não dispõem dessa representação, não puderam tirar partido dessa reforma. A questão foi regularizada apenas mais tarde, no primeiro programa, com a introdução de “associações de pessoas”59, o que permitiu a realização de negociações salariais diretamente com os funcionários ao nível das empresas.
Calendário
100As reformas do mercado de trabalho tiveram início em 2010 e as autoridades gregas executaram a primeira vaga de reformas (negociação salarial e legislação de proteção do emprego) pouco depois de o programa ter sido aprovado. No entanto, embora várias medidas do programa tenham sido aplicadas no período de 2010-2016, os mesmos temas foram debatidos nas negociações do terceiro programa. Esses desenvolvimentos apontam para problemas com o calendário e o faseamento das reformas, que vão além dos atrasos na execução (ver caixa 10).
Caixa 10
Calendário das reformas do mercado de trabalho
Alguns elementos determinantes para a eficácia do quadro de negociação salarial surgiram apenas no segundo programa (por ex., foram criadas associações de pessoas e limitadas as prorrogações automáticas de convenções em vias de caducar se não se alcançasse um compromisso sobre a sua renovação).
O prazo para uma primeira redução nominal do salário mínimo foi o ano de 2012. O novo quadro para a fixação do salário mínimo só deveria ser aplicado após o termo do segundo programa.
Os prazos para a execução de reformas foram irrealisticamente curtos em alguns casos (principalmente no âmbito da terceira avaliação do segundo programa), por ex., a revisão da regulamentação do trabalho e a compilação de toda a legislação laboral existente tinham o mesmo prazo.
Execução e resultados
101Em inúmeros casos, as reformas do mercado de trabalho foram executadas com atraso (que chegou aos 21 meses) em relação aos prazos previstos nos programas, ou não chegaram sequer a cumprir esses prazos (ver anexo VII). As condições estavam associadas a aspetos fundamentais das reformas do mercado de trabalho (por ex., negociação salarial e legislação de proteção do emprego).
102Apesar das insuficiências na execução, o Tribunal observou algumas melhorias nos indicadores que apontam para uma maior flexibilidade e competitividade do mercados de trabalho:
- a legislação de proteção do emprego tornou-se menos restritiva. No entanto, em 2013 (isto é, após a introdução de reformas fundamentais), o indicador ainda estava acima da média da OCDE (ver figura 8);
- o salário mínimo baixou, passando de 863 euros em 2010 para 684 euros em 2012;
- os custos unitários do trabalho sofreram um ajuste significativo. A diminuição de 14,1% dos CUT no período de 2010-2015 foi a mais elevada entre os Estados-Membros da UE. Porém, o segundo programa visava reduzir os CUT em aproximadamente 15% no período de 2012-2014. Este objetivo indicativo não foi cumprido porque, durante o respetivo período, os CUT sofreram um ajustamento de 10,9%.
Parte III - Realização dos objetivos do programa
103Sete anos, três programas e mais de 265 mil milhões de euros de assistência desembolsada (mais de 150% do PIB grego): o apoio conjunto da área do euro e do FMI à Grécia assumiu uma dimensão sem precedentes. Estes números mostram, por si só, que os programas não conseguiram corrigir desequilíbrios económicos profundos nem permitir à Grécia gerir as suas obrigações financeiras sem apoio externo. No entanto, asseguraram a continuidade do financiamento e da atividade económica no país.
104Os programas de ajustamento económico da Grécia tinham objetivos em três domínios:
- sustentabilidade orçamental;
- estabilidade financeira;
- restabelecimento do crescimento.
Durante os sete anos, a Comissão não tentou avaliar de forma abrangente, através de avaliações intercalares ou ex post, até que ponto os dois primeiros programas alcançaram os seus objetivos. A realização dessas avaliações foi uma prática habitual para outros programas de apoio geridos pela Comissão e, ao fornecerem ensinamentos úteis, teriam sido particularmente relevantes no caso da Grécia, onde foram aplicados três programas sucessivos.
106Na presente secção do relatório analisa se a realização dos três principais objetivos dos programas, sempre que possível recorrendo às metas específicas consagradas nos próprios programas. Nesta análise, o Tribunal vai além da avaliação dos resultados das medidas específicas (apresentada na parte II) e centra-se nos impactos mais alargados que não podem ser associados a uma ou outra condição dos programas. Esta análise permite compreender a ampla evolução económica registada Grécia durante os três programas de ajustamento económico, embora importe sublinhar que a evolução em questão foi influenciada não só pela conceção e aplicação dos programas, mas também por vários outros fatores. Entre eles incluiu-se a incerteza política, que levou a atrasos na execução de reformas, afetou a confiança dos mercados e, consequentemente, reduziu a eficácia dos programas.
Garantir a sustentabilidade orçamental
107A crise económica grega começou como uma crise da dívida e, por isso, o restabelecimento da sustentabilidade orçamental, incluindo a capacidade de o país financiar as suas necessidades no mercado, foi o objetivo imediato dos programas.
Acesso aos mercados
108O primeiro programa previa que a Grécia iria recuperar o acesso aos mercados financeiros em 2014 e financiar as suas obrigações de dívida no montante total de 60 mil milhões de euros em 2015. Em 2014, o Estado grego financiou-se nos mercados financeiros em duas ocasiões, embora apenas num montante total de 4,5 mil milhões de euros, que representou menos de 5% do financiamento total do segundo programa (110 mil milhões de euros). Foram necessários mais dois programas de assistência (terminando o terceiro em 2018), porque o país não tinha recuperado a capacidade de financiar todas as suas necessidades no mercado.
Utilização dos fundos e financiamento após o programa
109Com base na atualização mais recente do défice de financiamento realizada pela Comissão no âmbito da primeira avaliação do terceiro programa, espera-se que a Grécia alcance um excedente primário de 1,4 mil milhões de euros em 2017 e 3 mil milhões de euros entre janeiro e agosto de 2018, que são os últimos meses do terceiro programa. Por conseguinte, o financiamento do programa para este período será utilizado para reembolsar a dívida e permitirá um aumento da reserva de liquidez (ver figura 9).
Imediatamente após o termo do programa, a Grécia terá de reembolsar montantes significativos da dívida (ver figura 10). Em 2019, as necessidades brutas de financiamento ascenderão a 21 mil milhões de euros em pagamentos de capital e de juros. Os programas pressupunham que, após a sua conclusão, o reembolso da dívida seria totalmente financiado pelo excedente primário e pelo financiamento no mercado. Para o segundo programa, realizaram-se em 2014 alguns trabalhos analíticos sobre o quadro eventual após o programa, ao passo que, para o terceiro programa, estes trabalhos estão apenas a começar, não estando, portanto, refletidos nos documentos do programa.
Consolidação orçamental
111A situação orçamental existente no início da crise exigiu um ajustamento muito profundo. Em 2009, o défice da administração pública excedeu 15,1% do PIB, em comparação com o limite máximo de 3% do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Os principais objetivos orçamentais anuais dos programas (isto é, o défice nominal60) foram fixados por decisões do Conselho no âmbito do procedimento relativo aos défices excessivos (PDE) da Grécia. Os programas estabeleceram outros critérios pormenorizados de desempenho orçamental nominal no MPEF, mas os planos orçamentais que apoiaram esses objetivos nem sempre eram credíveis (ver caixa 11).
Caixa 11
Problemas de credibilidade no plano orçamental inicial
O primeiro programa orçamental (maio de 2010) visava alcançar um excedente primário sem precedentes de 5% do PIB em 2014 (isto é, para além da duração do programa, que era inicialmente de três anos).
O programa orçamental estimava que deviam ser tomadas medidas, que não eram especificadas, num total de 4,4% do PIB (34% do esforço orçamental global) a concentrar em 2013 e 2014.
A quantificação das medidas de alargamento da base do IVA realizada pela Comissão não correspondia às estimativas do FMI:
- o FMI previa um rendimento orçamental de 1,8% do PIB em 2013, decorrente de medidas orçamentais estruturais (como a melhoria da administração fiscal, do controlo orçamental e dos processos orçamentais). Na sua estimativa das medidas de 2013, a Comissão não especificava as medidas que deviam corresponder a este rendimento;
- ao contrário da Comissão, o FMI não estimou nenhuma medida orçamental para 2014.
Os objetivos orçamentais fixados para os dois primeiros programas só foram realizados em 2012 e 2013 (ver quadro 4). No que se refere aos outros anos, esses objetivos não foram cumpridos por uma diferença entre 3 e 6 mil milhões de euros, apesar de a Grécia ter recorrido a medidas extraordinárias de aumento das receitas a fim de chegar às projeções em matéria de tesouraria ou de défice. Durante o primeiro programa, os objetivos nominais do PDE, que permaneceram inalterados, não foram atingidos principalmente devido ao agravamento do ambiente económico (isto é, quedas inesperadas das receitas fiscais nominais e aumentos das despesas com juros). A erosão da base tributária eliminou parcialmente as receitas que deviam ser geradas por medidas fiscais importantes, tendo sido precisamente esse o caso das receitas do IVA. Além disso, o cumprimento dos objetivos orçamentais em todos os programas assentou na acumulação de pagamentos em atraso da despesa pública e do reembolso de impostos.
1º programa1 | 2º programa1 | 3º programa1 | |||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
2010 | 2011 | 2012 | 2013 | 2014 | 2015 | 2016 | |
Decisão do Conselho (maio de 2010): saldo nominal (mil milhões de euros) | -18,5 | -17,1 | -14,9 | -11,4 | -6,4 | ||
Decisão do Conselho (março de 2012): saldo primário, excluindo as medidas bancárias (mil milhões de euros) | -2 | 3,7 | 9,4 | ||||
Decisão do Conselho (dezembro de 2012): saldo primário, excluindo as medidas bancárias (mil milhões de euros) | -2,9 | 0 | 2,8 | 5,7 | 9 | ||
Decisão do Conselho (agosto de 2015): saldo primário (% do PIB) | -0,25 | 0,5 | |||||
Real (primeiro acompanhamento ex post) | -22 | -20 | -2,6 | 1,5 | n.d. | -3,4 | 3,9 |
Real (últimos dados SEC95 ou SEC10) | -24,5 | -20,1 | -2,6 | 0,6 | n.d. | -2,3 | 3,9 |
Diferença (objetivo visado vs. real) | -6 | -3 | 0,3 | 0,6 | n.d. | -2,05 | 3,4 |
1 Objetivo visado em negrito.
Fonte: TCE.
Embora a Grécia não tenha cumprido os objetivos orçamentais nominais, o saldo estrutural primário61 melhorou significativamente. O ajustamento global excedeu 17% do PIB no período de 2009-2015, o que refletiu o desequilíbrio muito profundo da Grécia nesse domínio no início da crise.
114Num contexto macroeconómico desfavorável, a dívida pública global continuou a aumentar ao longo do período abrangido pelo programa, apesar do esforço orçamental realizado. Em 2016, a dívida pública da Grécia excedeu 181% do PIB em comparação com 126,7% em 2009 (ver figura 11). A dívida pública caiu apenas em 2012, devido ao procedimento relativo à participação do setor privado ao abrigo do qual foi solicitado aos investidores privados que concordassem em reduzir 53,5% do valor nominal das obrigações de dívida pública gregas que detinham. Segundo as projeções do primeiro programa, a dívida pública devia atingir o seu nível mais elevado em 2013 (149,7% do PIB na versão inicial e 164,2% do PIB na segunda). O fator que mais contribuiu para o aumento relativo da dívida foi o declínio do PIB nominal.
Sustentabilidade do regime de pensões
115Um dos principais obstáculos à estabilização da situação orçamental da Grécia continua a ser o custo considerável do regime de pensões de reforma. Os cortes sucessivos nas pensões reduziram as despesas nominais na matéria em 2,5 mil milhões de euros no período de 2009-2015. No entanto, devido ao declínio do PIB, os custos com pensões em percentagem do PIB aumentaram sistematicamente no período de 2010-2015, mostrando assim a eficácia limitada das reformas em termos de ajustamento orçamental sustentável. Em 2016, a despesa pública com pensões foi a mais elevada da área do euro (mais de 16% do PIB da Grécia), tendo o financiamento público anual dos défices do regime de pensões excedido 9% do PIB (a média da área do euro era 2,5%).
116Com base nas projeções dos relatórios de 2012 e 2015 sobre o envelhecimento da população, espera-se que as reformas das pensões consagradas nos dois primeiros programas produzam alguns resultados positivos para a sustentabilidade a longo prazo do regime de pensões da Grécia. De acordo com a condicionalidade dos programas, durante o período de 2010-2060, a Grécia deve limitar o aumento das despesas públicas com pensões a um valor inferior a 2,5 pontos percentuais do PIB. À luz do Relatório de 2015 sobre o envelhecimento da população, espera-se que as reformas das pensões resultem numa diminuição global das despesas públicas com pensões de 1,9 pontos percentuais, que é melhor do que o objetivo dos programas. No entanto, estas despesas deverão manter-se num nível muito elevado, elevando se a 14,3% do PIB em 2060.
Restabelecimento da estabilidade financeira
117O êxito das reformas do setor financeiro depende igualmente de fatores externos aos programas. No entanto, com base numa série de indicadores, é possível avaliar a evolução geral do setor bancário ao longo dos programas e, assim, determinar em que medida os seus objetivos gerais foram alcançados. Os principais aspetos a considerar nesta análise são a solvência, o risco de crédito e a qualidade dos ativos, bem como a liquidez e a rendibilidade. Estes indicadores estiveram igualmente no cerne das condições do programa e dos planos de reestruturação bancária aprovados pela Comissão.
Solvência
118Graças, em grande medida, ao financiamento avultado do programa (31,9 mil milhões de euros) e à reestruturação do setor, os rácios de capital dos bancos gregos melhoraram consideravelmente, em consonância com as tendências internacionais desde a crise mundial. Por conseguinte, o principal rácio de capital (fundos próprios principais de nível 1) atingiu 17% em 2016, ultrapassando a média da UE de 14,2% e o nível anterior à crise (ver anexo X). No entanto, o elevado nível de créditos fiscais sobre o Estado grego e de créditos não produtivos continuou a constituir uma preocupação para a solvência dos bancos.
Risco de crédito e qualidade dos ativos
119Durante o período abrangido pelo programa, as notações de crédito dos quatro grandes bancos gregos diminuíram significativamente, com uma queda para a categoria de risco de incumprimento em 201562. Apesar da terceira recapitalização, que permitiu que o capital dos bancos ficasse num nível adequado, todos os bancos mantiveram a notação de não investimento63 em 2016.
120No que diz respeito à qualidade dos ativos, quando eclodiu a crise mundial em 2008, os créditos não produtivos em dívida dos bancos gregos representavam um total de 5,5% da sua carteira de empréstimos (7% em 2009), percentagem que é significativamente superior à média da área do euro. Devido à recessão económica sem precedentes, ao aumento subsequente do desemprego e aos incumprimentos estratégicos dos mutuários, os créditos não produtivos aumentaram acentuadamente ao longo dos programas. Em 2016, com base numa definição mais abrangente, as exposições não produtivas atingiram o nível mais elevado na UE (45,9%) e foram nove vezes superiores à média da UE (5,1%, ver anexo X).
Liquidez
121Desde o primeiro programa, foi solicitado aos bancos gregos que reduzissem a sua dependência dos empréstimos concedidos pelo banco central (isto é, pelo Eurosistema), uma vez que a sua situação de liquidez já era frágil. Neste contexto, o primeiro programa não conseguiu reduzir essa dependência, contrariamente aos dois seguintes. Não obstante, em 2016, os bancos gregos continuaram a enfrentar condições de liquidez restritivas, uma vez que a sua dependência do financiamento do banco central permaneceu bem acima do nível de 2009 (ver quadro 5), embora fosse inferior ao pico registado em meados de 2015 (150 mil milhões de euros). No que diz respeito às fontes de liquidez tradicionais, em 2016 não houve provas de um regresso sustentado dos depósitos (quase metade em comparação com 2009, tendo diminuído de 238 mil milhões de euros para 121 mil milhões de euros) e o acesso dos bancos nacionais a outras fontes de financiamento continuava a ser limitado.
2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 | 2014 | 2015 | 2016 | |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Empréstimos concedidos pelo banco central | 49,7 | 97,7 | 128,7 | 121,2 | 73,0 | 56,0 | 107,6 | 66,6 |
Depósitos do setor privado | 237,5 | 209,6 | 174,2 | 161,5 | 163,3 | 160,3 | 123,4 | 121,4 |
Fonte: Banco da Grécia.
Rendibilidade
122As políticas aplicadas no âmbito dos programas tentaram melhorar a rendibilidade dos bancos através de uma consolidação e reestruturação aprofundadas. Ao reduzir drasticamente o pessoal e o número de agências, os bancos nacionais melhoraram significativamente o seu rácio custo/benefício (51,9%, em comparação com uma média da UE de 65,7% em 2016) e reduziram as suas despesas de funcionamento. No entanto, numa base consolidada, continuaram deficitários durante a maior parte do período acima mencionado e o seu desempenho em relação a uma série de indicadores de rendibilidade continuava a figurar entre os piores da UE (ver anexo X).
123De um modo geral, os programas não conseguiram evitar uma deterioração acentuada dos balanços dos bancos gregos, sobretudo devido a evoluções macroeconómicas e políticas desfavoráveis. O papel de intermediário dos bancos foi prejudicado e os canais de financiamento da economia real eram restritos64 e dispendiosos.
Estimular o crescimento
124Após a sua integração na área do euro em 2001, a Grécia desfrutou de um período de crescimento económico muito elevado mas, simultaneamente, sofreu perdas significativas de competitividade. Por conseguinte, a correção dos desequilíbrios estruturais e a supressão dos entraves à competitividade faziam parte dos objetivos dos programas, com a finalidade de restabelecer o crescimento sustentável a longo prazo e, assim, facilitar o ajustamento orçamental. Este objetivo não foi alcançado, já que a Grécia enfrentou uma recessão prolongada e excecionalmente profunda que teve graves consequências para o mercado de trabalho. Os principais indicadores macroeconómicos apresentavam sistematicamente resultados inferiores às previsões dos programas (ver anexo XI).
Crescimento económico e respetivo contexto
125A economia grega não retomou o crescimento tão rapidamente como os outros Estados-Membros da área do euro, incluindo aqueles que beneficiaram de programas de assistência financeira (p. ex., Irlanda e Portugal). Embora determinadas insuficiências na conceção e aplicação dos programas (ver parte II) não tenham contribuído para facilitar a recuperação, a situação macroeconómica também se ficou a dever a uma série de fatores externos e à profundidade dos desequilíbrios acumulados antes da crise. Os programas não cumpriram os seus objetivos de crescimento, mas não é possível saber qual teria sido o cenário macroeconómico se eles não tivessem existido.
126A economia grega teve um desempenho sistematicamente insatisfatório em comparação com os objetivos de crescimento em que assentaram as projeções macroeconómicas. Entre 2009 e 2016, a economia da Grécia registou uma contração superior a um quarto. Em 2011 e 2012, o crescimento real do PIB foi inferior ao previsto no primeiro programa (maio de 2010) em 6,5 e 8,4 pontos percentuais, respetivamente (ver figura 12). O programa previa um retorno ao crescimento em 2012, mas este verificou-se efetivamente em 2014 e durou apenas um ano. A economia grega também apresentou um desempenho insatisfatório em comparação com as previsões de março de 2012 e de abril de 2014, embora as discrepâncias tenham sido significativamente menores.
Durante o período abrangido pelos programas (até 2015), a Grécia registou sistematicamente um crescimento das exportações, embora seja de recordar que tinha havido uma profunda contração em 2009. Os resultados foram, em geral, inferiores às previsões dos programas, mas a diferença foi inferior à registada nas previsões do PIB. Em 2013, as exportações atingiram o nível de 2008, ao passo que as importações caíram 30% durante o mesmo período, o que permitiu à Grécia alcançar o reequilíbrio externo.
128No entanto, a recuperação das exportações a partir de 2010 não pode ser totalmente atribuída às reformas dos programas. Alguns setores importantes, como o turismo, beneficiaram da desvalorização interna. Contudo, a análise setorial mostra que as exportações gregas são também influenciadas por setores que não são afetados pelos preços e salários praticados a nível nacional65 (como os produtos petrolíferos e o transporte marítimo), cujo desempenho reflete as tendências dos mercados mundiais e não uma melhoria da competitividade nacional (ver anexo XI).
Preços e desemprego
129Os níveis de preços não evoluíram em consonância com as projeções do programa. A previsão inicial (maio de 2010) subestimou significativamente a inflação para o período de 2010-2011 (também devido ao impacto das medidas fiscais) e não antecipou a deflação de 2013-2014 (ver anexo XI). Por conseguinte, o aumento dos preços durante o primeiro programa retardou o processo de desvalorização interna, o que impediu a Grécia de melhorar a sua competitividade externa. As discrepâncias entre a evolução real dos preços e a evolução prevista mantiveram-se posteriormente, mas não tão acentuadas.
130Em consonância com uma recessão económica mais profunda que esperado, o mercado de trabalho apresentou um desempenho significativamente inferior quando comparado com os pressupostos do primeiro programa (ver figura 13). O desemprego atingiu um pico de 27,5% em 2013 e não de 15,2% em 2012,como inicialmente previsto. O desemprego ultrapassou igualmente o nível projetado em previsões posteriores. A taxa de desemprego dos trabalhadores com idades inferiores a 25 anos atingiu um pico de quase 60% em 2013, tendo depois caído significativamente para menos de 50% nos dois anos seguintes (ver anexo XI).
Conclusões e recomendações
Gestão dos programas de ajustamento económico da Grécia
131O primeiro programa de ajustamento económico grego foi concebido numa situação de extrema urgência e a gestão dos três programas foi afetada por incertezas políticas e económicas. A Comissão foi apenas um de vários parceiros envolvidos no processo, uma vez que estava vinculada pela orientação política do Eurogrupo, e a aprovação dos programas exigia um acordo entre as autoridades gregas e todas as instituições representantes dos credores (o FMI, a Comissão, o BCE e o MEE no âmbito do terceiro programa; ver Introdução, pontos 22-23 e 31-32).
132A Comissão estabeleceu procedimentos de gestão dos programas quase um ano após o lançamento do primeiro programa grego. Os procedimentos estipulavam modalidades internas em matéria de circuitos de informação e aprovação a nível da Comissão e do Conselho, bem como com os parceiros do programa, mas não forneciam orientações sobre a própria conceção dos programas, por exemplo em termos de âmbito ou nível de pormenor das condições (ver pontos 24-25).
133Nas fases iniciais do processo de programação, algumas condições eram vagas e não especificavam ações concretas. As condições tornaram-se mais claras no segundo programa, quando o seu número e nível de pormenor aumentaram. Só no terceiro programa é que a Comissão assinalou as condições importantes como “realizações essenciais”, ao contrário dos dois primeiros programas, em que a importância relativa das medidas não foi indicada (ver pontos 26-28).
Recomendação 1
A Comissão deve melhorar os procedimentos gerais de conceção de programas de apoio, em especial definindo o âmbito dos trabalhos analíticos necessários para justificar o conteúdo das condições e, quando possível, indicando os instrumentos que podem ser utilizados em determinadas situações. No caso de programas futuros, essas orientações devem facilitar a organização do seu trabalho numa situação de extrema urgência na fase inicial do programa.
Prazo de execução: final de 2018.
Recomendação 2
A Comissão deve definir melhor as prioridades no que se refere às condições e especificar medidas urgentes para corrigir os desequilíbrios que são cruciais para realizar os objetivos dos programas.
Prazo de execução: imediatamente, se aplicável.
134Apesar dos esforços da Comissão, as condições dos programas não se inseriam no quadro de uma estratégia de crescimento mais ampla para a Grécia suscetível de durar para além dos programas. Nas fases iniciais dos programas, a prioridade imediata foi o restabelecimento da sustentabilidade orçamental, mas a necessidade de uma estratégia desse tipo tornou-se mais clara com o passar do tempo. O Tribunal detetou insuficiências na coordenação entre políticas na fase de conceção do programa e casos em que o âmbito das medidas do programa não era abrangente. Estes dois aspetos afetaram a eficácia das reformas estruturais, em particular as que visavam tornar a economia grega mais competitiva (ver pontos 29-30).
Recomendação 3
Sempre que for pertinente para corrigir o desequilíbrio económico subjacente, a Comissão deve assegurar que os programas são integrados numa estratégia global de crescimento para o país, que já esteja em curso ou que tenha sido concebida com o Estado-Membro no decurso dos mesmos. Se a estratégia não puder ser estabelecida na fase inicial do programa, deve ser adotada com a maior brevidade possível e refletir-se em qualquer avaliação subsequente do programa.
Prazo de execução: imediatamente, se aplicável.
135Embora a Comissão não dispusesse de procedimentos formalizados no que se refere ao âmbito do acompanhamento, avaliou e comunicou informações regularmente sobre o cumprimento das condições do programa. Normalmente, a Comissão conseguiu demonstrar que as suas avaliações tinham uma base sólida, incluindo algumas atividades de acompanhamentos, como o retorno de informações pormenorizadas sobre projetos de atos jurídicos. Ocasionalmente, o Tribunal detetou problemas no acompanhamento do cumprimento, como avaliações em falta, imprecisas ou vagas (ver pontos 33-37).
136Além disso, no caso das reformas estruturais, o cumprimento formal das condições nem sempre resultou nas alterações efetivamente previstas pelos programas. Lacunas significativas de dados e a ausência de indicadores de desempenho adequados para a maioria das condições estruturais afetaram igualmente a pertinência do acompanhamento da Comissão no que respeita à sua capacidade de contribuir para compreender a execução e o impacto das reformas e tomar as eventuais medidas corretivas necessárias (ver pontos 38-40).
Recomendação 4
A Comissão deve dispor de procedimentos claros e, quando adequado, indicadores-chave de desempenho para garantir que o acompanhamento dos programas é sistemático e corretamente documentado. O acompanhamento da execução, em particular das reformas estruturais, deve concentrar-se mais na eficácia, ir além da adoção de atos legislativos de direito primário e incidir igualmente na adoção de legislação derivada e outros atos de execução pertinentes. A Comissão deve melhorar as suas disposições de acompanhamento da execução e progressão das reformas, para melhor determinar se existem obstáculos administrativos ou jurídicos suplementares à execução efetiva das mesmas. A Comissão deve assegurar que dispõe dos recursos necessários para realizar tais avaliações.
Prazo de execução: final de 2018.
Recomendação 5
A Comissão deve colmatar as lacunas de dados de forma mais abrangente desde o início dos programas. Deve também especificar claramente todos os dados de que necessita para acompanhar os programas e os seus resultados.
Prazo de execução: imediatamente, se aplicável.
137Apesar dos complexos procedimentos institucionais relativos aos programas, a organização interna do trabalho sobre o modo como a Comissão coopera com os parceiros dos programas, principalmente o FMI, o BCE e o MEE nunca foi formalizada. Não era assegurada uma transparência suficiente quanto aos papéis dos parceiros, à divisão de responsabilidades ou aos métodos de trabalho. No entanto, as instituições estabeleceram, de forma informal, procedimentos eficazes de cooperação e partilha de informações (ver pontos 41-43).
Recomendação 6
A Comissão deve procurar chegar a um acordo com os parceiros dos programas que esclareça as respetivas funções e as modalidades de cooperação, que devem ser transparentes e suficientemente pormenorizadas.
Prazo de execução: final de 2018.
138A conceção global do programa fundamentou-se em projeções macroeconómicas e cálculos do défice de financiamento que tinham sido elaborados para cada avaliação pela Comissão em cooperação com os parceiros do programa. A análise da Comissão a este respeito foi internamente coerente e baseou-se nos dados mais recentes. No entanto, o Tribunal detetou uma série de deficiências metodológicas, em particular na documentação de pressupostos, na justificação dos elementos de apreciação subjetiva e no recurso limitado a testes de sensibilidade. Não se recorreu a sistemas de qualidade formalizados para garantir a precisão dos cálculos. As projeções macroeconómicas subestimaram largamente a crise económica na Grécia mas, geralmente, os erros não foram maiores do que os de outras organizações internacionais (ver pontos 44-54).
Recomendação 7
A Comissão deve justificar melhor os pressupostos em que assentam os cálculos económicos subjacentes à conceção dos programas, bem como as alterações efetuadas nesses cálculos, incluindo através de publicações adequadas. Esses processos devem ser objeto de controlos de qualidade adequados, o que se aplicar, em particular, às avaliações dos programas, que são realizadas em circunstâncias menos urgentes do que na fase inicial dos programas.
Prazo de execução: final de 2018.
Conceção e execução das reformas
139O apoio financeiro concedido à Grécia estava subordinado à execução de um vasto leque de reformas tendentes a corrigir desequilíbrios orçamentais, financeiros e estruturais. O âmbito das reformas evoluiu mas, desde o início, abrangeu quase todas as funções do Estado grego, o que significa que, em alguns casos, tiveram de ser corrigidos desequilíbrios estruturais muito profundos. O programa de reforma grego foi particularmente difícil e a sua aplicação foi afetada pela instabilidade política (ver pontos 55-57).
140As reformas da política fiscal produziram resultados orçamentais, que assentaram sobretudo em alterações das taxas de imposto ou em novos impostos. Esta situação contribuiu para a instabilidade da política fiscal, que ocorreu por vários motivos, incluindo a falta de esforços sustentados de reforma, e foi contrária às avaliações anteriores que deram prioridade ao alargamento da base tributável como forma de aumentar a receita fiscal. A Comissão não justificou de forma suficiente algumas medidas fundamentais (por ex., o aumento das taxas do IVA e de impostos especiais de consumo) fornecendo uma análise de opções alternativas e das suas consequências. As reformas da administração fiscal produziram resultados menos tangíveis, imputáveis a problemas relacionados com a capacidade de execução, mas também a insuficiências na conceção como a inclusão tardia nos programas e o âmbito limitado (ver pontos 58-66).
141A realização simultânea de poupanças orçamentais, justificadas por motivos de consolidação orçamental, e alterações estruturais a longo prazo constituiu um desafio para as reformas da administração pública, que se revelaram menos bem-sucedidas. O Tribunal conclui que, do lado da conceção, as principais causas foram o facto de não se ter tido suficientemente em consideração a capacidade administrativa para executar as reformas e as fracas ligações entre os programas e outros instrumentos, como a assistência técnica e os programas operacionais no âmbito dos fundos estruturais. A Comissão não conseguiu justificar objetivos quantitativos fundamentais para as reformas da administração pública que figuravam nos programas (ver pontos 67-76).
142As reformas financeiras garantiram a estabilidade do setor a curto prazo, mas uma série de fragilidades estruturais não foram tratadas na sua globalidade ou foram incluídas tardiamente no programa (por ex., a gestão de créditos não produtivos e a governação societária). As medidas foram mais abrangentes no terceiro programa. O Tribunal detetou igualmente insuficiências na análise de risco subjacente à recapitalização bancária de 2013 e ineficiências na conceção das recapitalizações subsequentes. O faseamento de determinados aspetos da reforma não foi suficientemente coordenado (ver pontos 77-94).
143A Comissão conseguiu demonstrar que as reformas do mercado de trabalho, que produziram resultados tangíveis em termos de liberalização do mercado, assentavam numa análise sólida. No entanto, a execução foi dificultada por atrasos significativos. Algumas condições, em particular na fase inicial dos programas, não estavam suficientemente orientadas para a estrutura da economia grega, e outras medidas fundamentais foram incluídas nos mesmos após algum atraso (ver pontos 95-102).
Recomendação 8
A fim de atenuar eventuais insuficiências, a Comissão deve analisar mais sistematicamente a capacidade administrativa dos Estados-Membros para executarem as reformas. As necessidades em termos de assistência técnica e o possível apoio do Serviço de Apoio à Reforma Estrutural da Comissão devem ser avaliados nas fases iniciais dos programas em cooperação com as autoridades dos Estados-Membros. A seleção, o nível de pormenor e o calendário de aplicação das condições ter em conta os resultados desta análise.
Prazo de execução: imediatamente, se aplicável.
Recomendação 9
A Comissão deve melhorar o seu trabalho analítico no que se refere à conceção das reformas. Em especial, deve analisar a adequação e o calendário das medidas, tendo em conta a situação específica do Estado-Membro.
Prazo de execução: imediatamente, se aplicável.
Realização dos objetivos do programa
144Ao participar nos três programas de ajustamento económico, a Grécia evitou o incumprimento. No entanto, os objetivos dos programas – sustentabilidade orçamental, estabilidade financeira e restabelecimento do crescimento – só foram realizados até certo ponto. Uma avaliação externa poderia ter sido útil para compreender de forma abrangente a complexa evolução subjacente, mas a Comissão não solicitou nenhuma (ver pontos 103-106).
145No caso da sustentabilidade orçamental, os programas conduziram a uma consolidação significativa: o saldo estrutural primário foi ajustado em 17% do PIB no período de 2009-2015. No entanto, no mesmo período, o PIB diminuiu mais de um quarto e o desemprego ultrapassou os 25%. Só em 2014 é que a Grécia registou um crescimento económico, embora os programas previssem inicialmente um restabelecimento sustentável do crescimento a partir de 2012 (ver pontos 107, 111-113 e 124-130).
146Devido ao fraco desempenho macroeconómico, aliado aos custos de financiamento da dívida anteriormente acumulada, a Grécia aumentou continuamente o seu rácio dívida/PIB ao longo do período de vigência dos programas (exceto em 2012, graças à participação do setor privado). Também não conseguiu financiar as suas necessidades nos mercados. Imediatamente após o termo do programa, a Grécia terá de reembolsar montantes substanciais da dívida, sendo o pressuposto do programa que tais montantes serão totalmente financiados pelo excedente primário e pelo financiamento no mercado. No aspeto financeiro, os programas asseguraram a estabilidade a curto prazo do sistema financeiro, mas não conseguiram evitar uma deterioração acentuada dos balanços dos bancos, sobretudo devido a evoluções macroeconómicas e políticas desfavoráveis (ver pontos 114-123 e 108-110).
Recomendação 10
Os programas devem ser objeto de uma avaliação ex post pelo menos após a sua conclusão. No caso de programas sucessivos cuja duração combinada seja substancialmente superior ao período normalizado de três anos, deve ser realizada uma avaliação intercalar, devendo os seus resultados ser utilizados para avaliar a respetiva conceção e as modalidades de acompanhamento.
Prazo de execução: final de 2018.
Recomendação 11
A Comissão deve analisar o quadro adequado de apoio e de supervisão para o período que se segue ao encerramento do programa. Esta análise deverá ser feita com antecedência suficiente em relação a esse encerramento e ter em conta as necessidades de financiamento do país.
Prazo de execução: imediatamente.
O presente relatório foi adotado pela Câmara IV, presidida por Baudilio TOMÉ MUGURUZA, Membro do Tribunal de Contas, no Luxemburgo, na sua reunião de 3 de outubro de 2017.
Pelo Tribunal de Contas
Klaus-Heiner LEHNE
Presidente
Anexos
Anexo I
Cronologia da crise económica grega
Período anterior à entrada em vigor do programa | |
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2009 | |
25 de maio de 2009 | Os funcionários do FMI declaram que o sistema bancário grego parece ter reservas de capital e de liquidez suficientes para resistir ao abrandamento esperado da economia. |
4 de outubro de 2009 | O PASOK ganha as eleições parlamentares gregas. O partido obtém 43,92% dos votos e 160 dos 300 assentos parlamentares. |
20 de outubro de 2009 | O novo ministro das Finanças revela que o défice do país deverá atingir quase 12,5% do PIB. |
22 de outubro de 2009 | A agência de notação de risco Fitch baixa a notação de crédito da Grécia de A para A-. A redução resulta da probabilidade de o défice orçamental da Grécia atingir 12,5% do PIB em 2009. |
8 de dezembro de 2009 | A agência de notação de risco Fitch baixa a notação de crédito da Grécia de A- para BBB+. A redução reflete preocupações com as perspetivas a médio prazo para as finanças públicas. A Fitch estima que o peso da dívida pública é suscetível de aumentar para perto de 130% do PIB antes de estabilizar. |
16 de dezembro de 2009 | A agência de notação de risco Standard and Poor’s baixa a notação de crédito da Grécia. |
22 de dezembro de 2009 | O Parlamento grego aprova o orçamento para 2010. |
22 de dezembro de 2009 | A agência de notação de risco Moody’s baixa a notação de crédito da Grécia da categoria A1 para A2. A redução é um reflexo de riscos de liquidez a curto prazo muito limitada e de riscos de solvência de médio a longo prazo. |
2010 | |
21 de janeiro de 2010 | O diferencial grego/alemão da taxa de juro da dívida a 10 anos excede 300 pontos base. |
9 de fevereiro de 2010 | O Parlamento aprova as primeiras medidas orçamentais, incluindo o congelamento dos salários de todos os funcionários públicos, um corte de 10% nos bónus e cortes nas horas extraordinárias. |
3 de março de 2010 | O Parlamento aprova um novo e importante pacote orçamental. As medidas incluem: o congelamento das pensões de reforma, o aumento da taxa normal do IVA de 19% para 21% e dos impostos especiais de consumo sobre combustíveis, cigarros, bebidas alcoólicas e artigos de luxo e cortes nos salários do setor público. |
9 de abril de 2010 | A Fitch baixa a notação de crédito da Grécia de BBB+ para BBB-. |
12 de abril de 2010 | Os ministros das Finanças da área do euro concordam em conceder à Grécia empréstimos no valor máximo de 30 mil milhões de euros ao longo do ano seguinte, concordando o FMI em acrescentar 15 mil milhões de euros de fundos suplementares. |
23 de abril de 2010 | O Primeiro-Ministro grego solicita formalmente apoio internacional. A Lei nº 3842 reforma o imposto sobre o rendimento das pessoas singulares e adota medidas contra a evasão fiscal. |
27 de abril de 2010 | A Standard and Poor’s baixa a notação de crédito da Grécia para um nível inferior ao grau de investimento, para o nível de obrigação especulativa. |
28 de abril de 2010 | O diferencial grego/alemão da taxa de juro da dívida a 10 anos excede 1 000 pontos base. |
1º Programa de Ajustamento | |
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2010 | |
2 de maio de 2010 | O Primeiro-Ministro grego, o FMI e os líderes da área do euro concordam com um pacote de resgate de 110 mil milhões de euros que entrará em vigor ao longo dos três anos seguintes. O governo anuncia as medidas do novo pacote orçamental. |
6 de maio de 2010 | O Parlamento grego aprova as medidas do novo pacote orçamental. O projeto de lei é aprovado por 172 votos a favor e 121 votos contra. A taxa normal do IVA é novamente aumentada de 21% para 23%, com efeitos a partir de 1 de julho de 2010. |
7 de julho de 2010 | O Parlamento aprova a reforma das pensões, uma exigência fundamental da UE e do FMI. |
13 de julho de 2010 | Criação do Fundo Helénico de Estabilidade Financeira com o objetivo de contribuir para a estabilidade financeira do sistema bancário grego. |
4 de outubro de 2010 | A Grécia anuncia um projeto de plano orçamental para reduzir o défice para 7% do PIB em 2011. |
15 de dezembro de 2010 | O Parlamento aprova a Lei das empresas públicas, limitando os salários mensais e reduzindo os salários superiores a 1 800 euros em 10%. |
23 de dezembro de 2010 | O Parlamento grego aprova o orçamento para 2011. |
2011 | |
14 de janeiro de 2011 | A Fitch baixa a notação de crédito da Grécia de BBB- para BB+. |
7 de março de 2011 | A Moody’s baixa a notação de crédito da Grécia de Ba1 para B1. |
11 de março de 2011 | A UE chega a um acordo preliminar para reduzir as taxas dos empréstimos de emergência concedidos à Grécia em 100 pontos base nos primeiros três anos e alargar os prazos de vencimento dos empréstimos para 7,5 anos. |
29 de março de 2011 | Uma nova lei adota medidas contra a evasão fiscal. A taxa do imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas baixa de 24% para 20%. |
20 de maio de 2011 | A Fitch baixa a notação de crédito da Grécia de BB+ para B+. A redução da notação de crédito reflete o desafio que a Grécia enfrenta na execução de um programa de reformas estruturais e orçamentais e o risco político de aplicar novas medidas orçamentais. |
1 de junho de 2011 | A Moody’s baixa a Grécia da categoria B1 para a categoria de risco de incumprimento (Caa1), já que é cada vez maior a probabilidade de a Grécia não conseguir estabilizar os seus rácios da dívida dentro do prazo estabelecido nos planos de consolidação orçamental anteriormente anunciados. |
13 de junho de 2011 | A Standard and Poor’s também baixa a Grécia para a categoria de risco de incumprimento. |
29 de junho de 2011 | O Parlamento grego aprova as novas medidas orçamentais, apesar das manifestações públicas. O projeto de lei é aprovado por 155 votos a favor e 138 votos contra. As medidas incluem novos impostos (p. ex., um novo imposto para pessoas singulares cujo rendimento anual seja superior a 12 000 euros) e novos cortes nos salários dos trabalhadores. |
13 de julho de 2011 | A Fitch baixa a notação de crédito da Grécia de B+ para CCC (categoria de risco de incumprimento). |
15 de julho de 2011 | A Autoridade Bancária Europeia (ABE) publica os resultados do seu teste de esforço efetuado a nível da UE. |
25 de julho de 2011 | A Moody’s baixa a notação de crédito da Grécia para a categoria Ca-. |
8 de agosto de 2011 | O índice bolsista geral cai abaixo de 1 000 pontos, o seu nível mais baixo desde janeiro de 1997. |
24 de agosto de 2011 | O Banco da Grécia ativa o mecanismo de cedência de liquidez de emergência (CLE) para apoiar os bancos gregos. |
2 de setembro de 2011 | Os inspetores das instituições suspendem a quinta avaliação da Grécia depois de observarem atrasos na execução do plano orçamental a médio prazo e das reformas económicas estruturais. |
27 de setembro de 2011 | O Parlamento adota novas medidas fiscais (introdução de um amplo imposto predial recorrente, o escalão de isenção do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares diminui de 12 000 euros para 5 000 euros). |
20 de outubro de 2011 | O Governo grego aprova uma lei global em matéria de poupanças, apesar dos protestos e tumultos fora do edifício do Parlamento. |
27 de outubro de 2011 | Os investidores concordam com uma redução de 50% da dívida através da conversão das suas obrigações atuais em novos empréstimos. |
31 de outubro de 2011 | O Primeiro-Ministro grego convoca um voto de confiança e um referendo para aprovar o acordo obtido na cimeira da UE sobre a redução da dívida grega. |
6 de novembro de 2011 | O Primeiro-Ministro apresenta a sua demissão. |
10 de novembro de 2011 | Lucas Papademos torna-se o novo Primeiro-Ministro grego e chefe do governo de coligação constituído por três partidos. |
2012 | |
12 de fevereiro de 2012 | O Parlamento aprova uma nova ronda de cortes orçamentais em clima de protestos. No centro de Atenas, muitos edifícios são incendiados durante os motins. |
2º Programa de Ajustamento | |
9 de março de 2012 | A reestruturação da dívida soberana grega detida pelo setor privado (participação do setor privado) é concluída com êxito. |
14 de março de 2012 | Os ministros das Finanças da área do euro chegam a acordo sobre um segundo pacote de resgate para a Grécia. O acordo inclui uma redução de 53,5% para os investidores em obrigações gregas. |
6 de maio de 2012 | Realização de eleições. O Partido Nova Democracia vence as eleições, mas com uma menor percentagem de votos. Uma vez que nenhum partido obtém a maioria, são convocadas novas eleições para o início de junho. |
16 de maio de 2012 | Panagiotis Pikramenos é designado Primeiro-Ministro interino. |
17 de junho de 2012 | Realização de eleições antecipadas. O Partido Nova Democracia vence as eleições com 29,7% dos votos, mas não obtém a maioria no Parlamento. Quatro dias mais tarde, é formado um governo de coligação com os partidos Nova Democracia, PASOK e DIMAR. Antonis Samaras, líder do Partido Nova Democracia, é designado Primeiro-Ministro da Grécia. |
27 de julho de 2012 | O Banco Agrícola da Grécia é colocado em resolução e o banco Piraeus adquire todos os seus ativos sólidos. |
5 de novembro de 2012 | O Parlamento grego aprova uma nova ronda de medidas orçamentais necessárias para que a Grécia receba a parcela seguinte do resgate económico internacional. As contribuições para a segurança social são reduzidas em 1,1 pontos percentuais. |
11 de novembro de 2012 | A Grécia aprova o orçamento para 2013. |
2013 | |
11 de janeiro de 2013 | O Parlamento grego adota novas medidas fiscais (aumento da taxa do imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas de 20% para 26%, uma nova reforma do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares com um aumento do limiar de isenção, eliminação do escalão de rendimento isento de impostos para os trabalhadores independentes, substituição dos créditos fiscais associados a crianças por prestações sujeitas a condição de recursos, etc.). |
1 de fevereiro de 2013 | O banco Alpha compra o banco Emporiki ao Crédito Agrícola. |
25 de março de 2013 | O Eurogrupo chega a um acordo com Chipre, que inclui um acordo entre Chipre e a Grécia sobre a transferência de sucursais gregas de bancos cipriotas para o banco Piraeus. |
28 de abril de 2013 | O Parlamento aprova um projeto de lei que suprime 15 000 postos de trabalho na função pública até o final do ano seguinte, 4 000 dos quais ainda em 2013. |
24 de junho de 2013 | O Primeiro-Ministro grego Antonis Samaras procede a uma remodelação governamental. |
17 de julho de 2013 | O Parlamento grego aprova novas medidas de austeridade, incluindo um plano prevendo milhares de despedimentos e cortes salariais na função pública. |
2014 | |
6 de março de 2014 | O Banco da Grécia indica os requisitos de capital (6,4 mil milhões de euros para 2013-2016 com base no cenário de referência) para o setor bancário grego. |
7 de abril de 2014 | O Parlamento grego reduz ainda mais as contribuições para a segurança social em 3,9 pontos percentuais. |
26 de outubro de 2014 | O BCE publica os resultados da sua avaliação completa de 130 bancos europeus. |
19 de dezembro de 2014 | O programa do FEEF para a Grécia é prorrogado por dois meses (até 28 de fevereiro de 2015). |
30 de dezembro de 2014 | Convocação de eleições antecipadas para 25 de janeiro de 2015 após incapacidade de eleger um novo chefe de Estado. |
2015 | |
25 de janeiro de 2015 | As eleições antecipadas resultam na vitória do partido SYRIZA, que obtém 36,34% dos votos e 149 dos 300 assentos parlamentares. |
27 de janeiro de 2015 | Formação do governo de coligação. |
4 de fevereiro de 2015 | O BCE suspende a derrogação que permite aceitar obrigações gregas como garantia de empréstimos. |
27 de fevereiro de 2015 | Nova prorrogação do programa FEEF para a Grécia por quatro meses (até 30 de junho de 2015). |
18 de junho de 2015 | O Presidente do Eurogrupo anuncia que os progressos realizados pela Grécia são insuficientes e que é necessário um novo acordo. |
22 de junho de 2015 | O Governo grego envia uma nova proposta ao Eurogrupo. |
26 de junho de 2015 | Convocação de um referendo grego para 5 de julho de 2015. |
28 de junho de 2015 | A Grécia encerra os seus bancos e impõe controlos de capital. |
30 de junho de 2015 | A Grécia não consegue reembolsar 1,5 mil milhões de euros ao FMI. |
5 de julho de 2015 | 61,3% da população grega vota “Não” ao projeto de acordo apresentado pelas instituições na reunião do Eurogrupo de 25 de junho de 2015. |
6 de julho de 2015 | O ministro das Finanças apresenta a sua demissão. É nomeado um novo ministro, Euclid Tsakalotos. O encerramento dos bancos é prorrogado. |
8 de julho de 2015 | A Grécia envia um pedido oficial para um terceiro programa de assistência (sob a forma de um mecanismo de empréstimo) ao MEE para cumprir as suas obrigações de dívida e garantir a estabilidade do seu sistema financeiro. |
13 de julho de 2015 | Declaração do FMI sobre os pagamentos devidos pela Grécia (456 milhões de euros). As autoridades gregas solicitam uma prorrogação. |
15 de julho de 2015 | O Parlamento grego adota novas medidas fiscais (a taxa do imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas é aumentada de 26% para 29%; as taxas da contribuição solidária para os rendimentos anuais das pessoas singulares superiores a 30 000 euros são aumentadas; o âmbito de aplicação da taxa normal do IVA é alargado). Vários ministros apresentam as suas demissões. |
16 de julho de 2015 | O Eurogrupo concede à Grécia, ao abrigo do MEE, um apoio à estabilidade por um período de três anos. |
17 de julho de 2015 | É efetuada uma remodelação governamental para substituir os ministros que rejeitaram o acordo de empréstimo. O Conselho aprova um empréstimo de transição de 7 mil milhões de euros para a Grécia. Fim do encerramento dos bancos. |
20 de julho de 2015 | Reembolso da dívida ao FMI, ao BCE e ao Banco da Grécia. |
19 de agosto de 2015 | Memorando de entendimento que circunstancia as medidas de reforma económica e os compromissos associados ao pacote de assistência financeira. |
3º Programa de Ajustamento | |
14 de agosto de 2015 | O Parlamento aprova o terceiro programa de resgate com o apoio de cinco dos sete partidos políticos. Proposta do MEE relativa às condições de disponibilização da primeira parcela de 26 mil milhões de euros no âmbito do acordo referente ao programa de assistência financeira para a Grécia. |
19 de agosto de 2015 | O Conselho de Governadores do MEE aprova o programa do MEE para a Grécia - memorando de entendimento (ME) que circunstancia as medidas de reforma económica e os compromissos associados ao pacote de assistência financeira. |
20 de agosto de 2015 | O Primeiro-Ministro Alexis Tsipras anuncia a demissão do seu governo e convoca eleições antecipadas para 20 de setembro de 2015. |
27 de agosto de 2015 | O Presidente do Supremo Tribunal presta juramento como Primeiro-Ministro interino. |
20 de setembro de 2015 | As eleições legislativas gregas resultam na formação do governo de coligação SYRIZA-ANEL. |
7 de outubro de 2015 | O governo recebe um voto de confiança do Parlamento, com 155 votos a favor e 144 votos contra. |
31 de outubro de 2015 | Após um teste de esforço, o BCE deteta um défice de capital de 14,4 mil milhões de euros nos quatro grandes bancos gregos. O Banco da Grécia deteta igualmente um défice de capital de 0,7 mil milhões de euros no maior banco dos de menor envergadura. |
19 de novembro de 2015 | A fim de receber um desembolso de 2mil milhões de euros, o Parlamento aprova ações prévias por uma pequena maioria de 153 votos. |
16 de dezembro de 2015 | Entrada em vigor da Lei nº 4354/2015 aplicável à venda de créditos não produtivos e à prestação de assistência nesta matéria. |
2016 | |
8 de maio de 2016 | Nova reforma do regime de pensões — novos regulamentos sobre impostos sobre o rendimento e contribuições para a segurança social. |
22 de maio de 2016 | Novos aumentos de várias taxas de impostos indiretos. A taxa normal do IVA é aumentada de 23% para 24%. |
23 de maio de 2016 | Análise preliminar da sustentabilidade da dívida da Grécia pelo FMI. |
9 de junho de 2016 | Conclusão da primeira avaliação do terceiro programa de ajustamento económico — emissão do relatório de conformidade. |
16 de junho de 2016 | Acordo sobre a primeira atualização do memorando de entendimento e do memorando técnico de entendimento que o acompanha. |
22 de junho de 2016 | O BCE reintroduz a derrogação sobre a aceitação de obrigações gregas. |
10 de dezembro de 2016 | Votação do orçamento para 2017: 152 votos a favor e 146 votos contra. |
Anexo II
Controlos de capitais
A Grécia foi a segunda economia, após a de Chipre no final de março de 2013, a introduzir, em 28 de junho de 2015, restrições à livre circulação de capitais no contexto de uma união monetária. Ao contrário de várias ocorrências anteriores, que visavam principalmente apoiar a estabilidade cambial (Islândia em 2008, Brasil em 2009 e Índia em 2013), os controlos de capital na Grécia foram impostos para reduzir as saídas de depósitos e salvaguardar a estabilidade financeira nacional num período de elevada incerteza relativamente à evolução política e às perspetivas macroeconómicas nacionais.
Após o fracasso das negociações sobre o encerramento do segundo programa e o anúncio do referendo, o BCE decidiu suspender o aumento do limite máximo global de cedência de liquidez de emergência (CLE) aos bancos gregos que tinham observado um “bank walkaway” (exceção de incumprimento) desde outubro de 2014 (com saídas de depósitos de aproximadamente 42 mil milhões de euros, ou 26% dos depósitos do setor privado em oito meses), levando as autoridades gregas a impor um encerramento dos bancos e, subsequentemente, controlos de capital sobre depósitos e transações com o estrangeiro.
Os bancos gregos permaneceram encerrados por um período de três semanas. Durante este período, os clientes não estavam autorizados a levantar mais de 60 euros por cartão bancário e por dia. Todas as transações com bancos estrangeiros tinham de obter aprovação prévia de um organismo governamental. No entanto, as transações nacionais feitas através de cartões de débito e de crédito, bem como os levantamentos realizados com cartões emitidos fora da Grécia, não estavam sujeitos a limites. Em 12 de julho de 2015, o acordo da Cimeira do Euro abriu caminho a um aumento do limite máximo de CLE e a subsequente reabertura dos bancos gregos. Gradualmente, várias restrições foram aliviadas, tendo as últimas alterações ocorrido em julho de 2016.
A imposição de controlos de capital conduziu a um agravamento imediato da situação de liquidez, tanto dos agregados familiares como das empresas gregos, o que fez a economia grega retornar à situação de recessão, interrompendo cinco trimestres consecutivos de crescimento positivo. No entanto, a contração da atividade económica global revelou-se mais ligeira do que inicialmente esperado pelas instituições (PIB real em 2015: -0,2%). Vários fatores internos e externos (p. ex., o acordo sobre o terceiro programa, uma boa época turística, a conclusão da recapitalização dos bancos, a queda dos preços do petróleo e a desvalorização do euro) tinham contribuído para uma recessão mais ligeira. Os depósitos do setor privado também estabilizaram, em grande medida. Contudo, para que os depósitos aumentassem mais rapidamente, teria sido necessária uma melhoria significativa do clima económico.
Fonte: Unidade de Apoio à Governação Económica do Parlamento Europeu, Greece’s financial assistance programme (Programa de assistência financeira à Grécia), março de 2017; Eurobank, One year capital controls in Greece: Impact on the domestic economy and lessons from the Cypriot experience (Um ano de controlos de capital na Grécia: impacto sobre a economia interna e ensinamentos retirados da experiência cipriota), 1 de agosto de 2016.
Anexo III
Insuficiências no controlo do cumprimento
Fiscalidade | ||
---|---|---|
Condição | ME | Acompanhamento |
Adoção, pelo Parlamento, de legislação para melhorar a eficácia da administração fiscal e dos controlos fiscais, através da aplicação de recomendações formuladas pela Comissão Europeia e pelo FMI. Em particular, colocação em prática de um plano eficaz de gestão de projetos (incluindo supervisão apertada do MOF e grupos de trabalho) a fim de executar o plano contra a evasão com vista a restabelecer a disciplina fiscal. | 1º programa, ME inicial | A condição foi assinalada como “parcialmente cumprida” juntamente com outra condição (2ª avaliação do 1º programa), mas não é claro o que não foi cumprido (p. ex., falta de avaliação das leis adotadas ou dos grupos de trabalho). A justificação da avaliação refere-se a factos que não fazem parte desta condição. |
Restabelecimento da disciplina fiscal através de: uma unidade reorganizada consagrada aos maiores contribuintes centrada no cumprimento dos maiores contribuintes de receitas. | 1º programa, ME inicial | A condição foi assinalada como “cumprida” (2ª avaliação do 1º programa) quando, na realidade, não o tinha sido: as novas condições do ME revisto exigiam a sua aplicação. |
Prossecução, pelo governo, dos trabalhos com vista ao estabelecimento de um procedimento normalizado de revisão dos valores para efeitos legais dos bens imobiliários, a fim de melhor os alinhar com os preços praticados no mercado que serão aplicados para efeitos da tributação do capital no exercício de 2016 e elaboração de um relatório sobre os trabalhos e de um calendário pormenorizado (setembro de 2013). | 2º programa, 3ª avaliação | A condição não foi avaliada quanto ao cumprimento (foi considerada “n.d.” na 4ª avaliação do 2º programa).nd programme). |
Ações prévias no domínio da fiscalidade. | 2º programa, Avaliação inicial e 1ª avaliação | Não avaliada quanto ao cumprimento |
68 condições no domínio da fiscalidade. | 2º programa, 4ª avaliação | Não avaliada quanto ao cumprimento |
Para compensar as despesas com pagamentos em atraso e reembolso de impostos, as condições para que uma unidade governamental se reúna a fim de permitir que os fundos para efeitos de compensação a desembolsar incluem, para efeitos das despesas com pagamentos em atraso: i) a criação, pela unidade, de um registo de compromissos plenamente operacional; ii) a comunicação durante, pelo menos, três meses de dados coerentes sobre compromissos, pagamentos e pagamentos em atraso (2 meses para a Organização Nacional de Cuidados de Saúde (EOPYY)); e, tanto para as despesas com pagamentos em atraso como para o reembolso de impostos: iii) verificação de pedidos. | 2º programa, 2ª avaliação | Não foi realizada uma avaliação do cumprimento à data do termo do prazo (2ª avaliação do 2º programa) e a condição não foi objeto de acompanhamento após essa data. |
Paralelamente, adoção de uma nova lei em matéria de tributação de imóveis até ao final de junho de 2014. O novo regime de tributação de imóveis, que consolidará vários impostos atualmente distintos, deve ser concebido para ser neutro do ponto de vista orçamental, assegurando uma receita anual de, pelo menos, 2,7 mil milhões de euros. | 2º programa, 2ª avaliação | Esta ação prévia foi declarada como “cumprida” na 2ª avaliação do 1º programa quando, na realidade, não o tinha sido, uma vez que o imposto predial unificado (ENFIA) foi adotado por lei (nº 4223) em dezembro de 2013, com base numa condição adicional da terceira atualização do ME: aprovação, pelo governo, de legislação sobre o regime do imposto predial para entrar em vigor em 2014. |
Adoção, pelo governo, de uma reforma fiscal que vise a simplificação do sistema fiscal, a supressão das derrogações e dos regimes preferenciais, alargando assim as bases coletáveis e permitindo uma redução gradual das taxas de imposto em função da melhoria dos resultados das receitas. Esta reforma diz respeito ao imposto sobre o rendimento das pessoas singulares e ao imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas. A reforma será adotada em dezembro de 2012 para entrar em vigor em 2013. | 2º programa, 1ª avaliação | Esta condição foi assinalada como “cumprida” na 2ª avaliação do 2º programa quando não o tinha sido (a Lei nº 4110, de janeiro de 2013, continha apenas alterações paramétricas do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares).Uma condição semelhante foi adicionada nas atualizações seguintes (segunda e terceira) do ME, segundo a qual as autoridades teriam de adotar um código dos impostos sobre o rendimento unificado e simplificado. O novo código dos impostos sobre o rendimento foi votado em julho de 2013 a título de ação prévia à terceira atualização do ME (Lei nº 4172/2013). |
Ações a empreender pelo governo: adoção de legislação para introduzir um novo código dos impostos sobre o rendimento que simplifique a legislação existente, aumente a sua transparência e elimine ambiguidades, permitindo uma administração mais fácil, incentivando o cumprimento fiscal e garantindo receitas mais significativas ao longo do ciclo. O novo código dos impostos sobre o rendimento reduzirá os requisitos de notificação dos contribuintes sujeitos a retenções na fonte e daqueles que recebem rendimentos de investimento, consolidará as disposições em matéria de reorganização e concentração transfronteiras e introduzirá disposições para combater a evasão fiscal internacional. | 2º programa, 3ª avaliação |
A condição foi assinalada como “cumprida” na 3ª avaliação (adoção da Lei nº 4172/2013). No entanto, a lei não foi aplicada porque as autoridades necessitavam de tempo para adotar as normas de execução. |
Apresentação, pelas autoridades, de um plano para substituir os pagamentos em numerário e em cheque em repartições fiscais por transferências bancárias (julho de 2013) (terceira atualização do ME, segundo programa). | 2º programa 4ª avaliação | Embora o seu cumprimento devesse ter ocorrido em julho de 2013, foi avaliada como “cumprida” com um atraso de nove meses em abril de 2014 (4ª avaliação do 2º programa). |
Mercado de trabalho | ||
Condição | ME | Acompanhamento |
Na sequência do diálogo com os parceiros sociais, adoção, pelo governo, de legislação sobre salários mínimos para introduzir submínimos para grupos de risco, como jovens e desempregados de longa duração, e instaurar medidas para garantir que os salários mínimos atuais permanecem fixos em termos nominais durante três anos. | 1º programa, ME inicial | O requisito de introdução de submínimos para jovens empregados foi, efetivamente, “cumprido”. No entanto, não há indicações do congelamento de três anos do salário mínimo e da introdução de submínimos para desempregados de longa duração. Na primeira avaliação, realizada em agosto de 2010, o prazo de cumprimento das condições ainda não tinha terminado, mas as condições também não foram repetidas e avaliadas no ME subsequente. Em 2014 (Lei nº 4254/2014, de 8 de abril), os complementos ao salário mínimo para os desempregados de longa duração foram reduzidos, mas esta medida não pode ser considerada em consonância com o requisito do programa de introdução de “submínimos”. |
Promoção, acompanhamento e avaliação da aplicação das novas convenções coletivas especiais a nível das empresas pelo governo. O governo certifica-se de que não existem obstáculos formais ou efetivos a esses acordos e que tais acordos contribuem para melhorar a capacidade de adaptação das empresas às condições de mercado, com vista a criar e preservar postos de trabalho e a melhorar a competitividade das empresas, alinhando a evolução salarial com a evolução da produtividade das empresas. Apresentação, pelo governo, de um relatório sobre a sua avaliação. Adoção de qualquer outra alteração à lei relativa à negociação coletiva setorial antes do final de julho de 2011. | 1º programa, 5ª avaliação |
Esta condição é “parcialmente cumprida”, embora a utilização de convenções coletivas especiais ao nível das empresas fosse marginal e os dados estivessem incompletos (ver ponto 76). Além disso, não foi elaborado qualquer relatório (a única “realização” efetiva exigida no âmbito desta condição do ME) e o Tribunal não obteve qualquer prova de que tal relatório tenha sido elaborado no que se refere às avaliações subsequentes. |
Revisão, pelo governo, da estrutura atual do sistema de remunerações salariais mínimas, tendo em vista a eventual melhoria da sua simplicidade e eficácia para promover a empregabilidade, combater o desemprego e aumentar a competitividade da economia. | 2º programa, 4ª avaliação | Considerada “não cumprida”no âmbito da 4ª avaliação do 2º programa; aplicada em abril de 2014, nunca foi objeto de uma avaliação formal do seu cumprimento. |
Ambiente empresarial | ||
Facilitação das exportações | ||
Condição | ME | Acompanhamento |
Adoção pelo governo de medidas em consonância com as regras de concorrência da UE, com vista à adoção de medidas destinadas a facilitar as PPP. | 1º programa, 1ª avaliação | Avaliação do cumprimento não realizada. A condicionalidade foi repetida na 1ª avaliação e depois descontinuada. |
Adoção pelo governo de medidas em consonância com as regras de concorrência da UE destinadas a reforçar a política de promoção das exportações. | 1º programa, 3ª avaliação | A situação no que se refere ao cumprimento desta condição é ambígua, uma vez que não é claro se o estado de “cumprida” se aplica apenas à adoção da lei relativa aos investimentos ou inclui igualmente a política de promoção das exportações. Além disso, a promoção das exportações aparece novamente no 3º PAE com um prazo de cumprimento até dezembro de 2015. No ME suplementar de junho de 2016, a condição é adiada novamente para maio de 2016. |
Realização, pelo governo, de uma avaliação aprofundada de todas as ações em matéria de I&D e de inovação, nomeadamente no âmbito de vários programas operacionais, a fim de ajustar a estratégia nacional. | 1º programa, 3ª avaliação | Condição não cumprida. |
Criação, pelo governo, de um conselho consultivo externo financiado através do 7º programa de I&D para refletir sobre como promover a inovação, fortalecer as relações entre a investigação pública e as indústrias gregas e o desenvolvimento de agrupamentos industriais regionais. | 1º programa, 3ª avaliação | A situação de cumprimento é ambígua. A avaliação afirma que a condição foi “cumprida”, mas solicita a finalização da criação de um conselho consultivo externo. A quarta avaliação do programa considerou “não cumprido” um conjunto de três condições, incluindo esta. No entanto, a última parte da frase (a saber, “de acordo com o governo”) sugere uma avaliação inadequada. |
Reformas do setor financeiro | ||
Condição | ME | Acompanhamento |
Revisão da lei das falências do setor privado para garantir a coerência com as observações do BCE. | 1º programa, 1ª avaliação | A condição foi avaliada como “em curso” na 1ª avaliação, mas posteriormente não foi realizado qualquer acompanhamento, pelo que a avaliação do cumprimento continua a não ser clara. |
O Banco da Grécia e o governo devem assegurar que o Fundo Helénico de Estabilidade Financeira (FHEF) está plenamente operacional. | 1º programa, 2ª avaliação | A condição foi assinalada como “parcialmente cumprida” à data do termo do prazo na 2ª avaliação. Na última avaliação, realizada aquando da 5ª avaliação, foram observados problemas relacionados com o pessoal. Não foi realizada qualquer avaliação posterior, pelo que a situação do cumprimento continua a não ser clara. |
O Banco da Grécia compromete-se a reduzir a remuneração do seu pessoal à luz do esforço global de consolidação orçamental. | 1º programa, 2ª avaliação | A condição foi avaliada como “parcialmente cumprida” na 2ª e na 5ª avaliações do 1º ME. O Tribunal pôde identificar esta condição até ao 2º ME, mas não voltou a ser referida. Por conseguinte, a situação do cumprimento continua a não ser clara. |
Na sequência do resultado dos testes de esforço realizados pelo Comité das Autoridades Europeias de Supervisão Bancária (CAESB) em julho de 2010, aplicação, pelo banco que não passou no teste, de medidas provisórias de reestruturação sob a supervisão reforçada do Banco da Grécia. Prestação de apoio total, por parte do governo, a este banco, devendo o governo assegurar que o mesmo cumpre o requisito de aplicação de um plano de reestruturação ao abrigo das regras da UE em matéria de auxílios estatais, bem como o prazo de 1.10.2010 para a apresentação do referido plano. |
1º programa, 2ª avaliação | A condição foi avaliada como “parcialmente cumprida/em curso” na 2ª avaliação. A condição acabou por não ser objeto de acompanhamento na 3ª avaliação do 1º ME, apesar de ter sido descrita como apenas “parcialmente cumprida” e de a avaliação ainda estar em curso. |
O governo adotou legislação que coloca todos os funcionários de bancos registados sob o mesmo estatuto do setor privado, independentemente da propriedade do banco. | 1º programa, 4ª avaliação | A condição não foi observada na 4ª e na 5ª avaliações do 1º ME. Não foi realizado qualquer acompanhamento após esta data. Por conseguinte, a situação de cumprimento não é clara. |
Para apoiar os bancos nos seus esforços para reestruturar as operações, o governo deve tomar medidas para limitar os bónus e eliminar o denominado “prémio de balanço” ou outras medidas equivalentes. | 1º programa, 5ª avaliação | A condição não foi observada na 4ª e na 5ª avaliações; além disso, não foi realizado qualquer acompanhamento. Por conseguinte, a situação de cumprimento não é clara. |
Transferência, pelo Banco da Grécia, do pessoal que cumpre o pré-requisito de possuir competências especializadas para o departamento de supervisão. Considerará igualmente solicitar assistência técnica a longo prazo junto de outras autoridades de supervisão europeias. | 1º programa, 5ª avaliação | A condição foi assinalada como “parcialmente cumprida” na 5ª avaliação, mas não foi objeto de acompanhamento no 2º ME. Por conseguinte, a situação de cumprimento não é clara. |
O Banco da Grécia exigirá que os bancos cuja base de capital tenha ficado aquém dos requisitos regulamentares tomem medidas adequadas através de injeções de capital ou de reestruturação. Caso tal implique a participação de outras instituições financeiras locais, o Banco da Grécia apresentará uma análise de impacto financeiro e um parecer jurídico. | 1º programa, 5ª avaliação | A condição foi assinalada como “parcialmente cumprida” na 5ª avaliação. Devido à extensão e complexidade dos procedimentos, o prazo acordado não era exequível. No entanto, a condição não foi objeto de acompanhamento no 2º ME. |
Reformas da administração pública | ||
Condição | ME | Acompanhamento |
Adoção, pelo governo, de um ato que limita o recrutamento em toda a administração pública a não mais de 1 contratação por cada 5 funcionários que a abandonem, sem exceções setoriais. Elaboração, pelo governo, de um plano de recursos humanos em consonância com esta regra. A regra aplica-se igualmente ao pessoal transferido de empresas públicas em reestruturação para entidades públicas. |
1º programa, 2ª avaliação | Embora tenha sido avaliada como “cumprida”, a condição incluía várias subcondições que não foram cumpridas. A avaliação do programa não abrange suficientemente todas as subcondições. A Lei nº 3899/2010 estabelece que os recrutamentos para a administração pública no período 2011-2013 têm de cumprir a regra de não mais de uma contratação por cada cinco saídas. No entanto, ainda não existe um plano abrangente de recursos humanos. Além disso, a ausência de uma compilação regular e tempestiva dos movimentos do pessoal (entradas, saídas e transferências) significa que a aplicação da regra não pode ser acompanhada. |
Conclusão da criação, pelo Ministério das Finanças em conjunto com o Ministério do Interior, de uma autoridade única de pagamento para o pagamento de salários no setor público. Elaboração, pelo Ministério das Finanças em colaboração com a autoridade única de pagamento, de um relatório (a publicar até ao final de janeiro de 2011) sobre a estrutura e os níveis de remuneração e o volume e a dinâmica do emprego na administração pública. No relatório, apresentação de planos para a afetação de recursos humanos no setor público para o período até 2013. Especificação, no relatório, de planos de reafetação de pessoal qualificado à administração fiscal, ao Serviço de Contabilidade, à inspeção do trabalho, às entidades reguladoras e à Comissão Helénica da Concorrência. |
1º programa, 2ª avaliação | Esta condição incluía várias subcondições. A avaliação do programa não abrange suficientemente todas as subcondições. O projeto de relatório inclui um diagnóstico em matéria de salários e dados de emprego no setor público. No entanto, não contém planos para a afetação de recursos humanos no setor público para o período até 2013. |
Com base numa amostra de condições objeto da auditoria.
Anexo IV
Reformas fiscais
Parte A: Lacunas de dados
Domínio | Observação |
---|---|
Tributação de imóveis | Os dados das receitas fiscais não foram suficientemente pormenorizados durante o primeiro programa: a Comissão não assinalou qualquer problema com a cobrança do imposto sobre imóveis denominado “FAP” nos relatórios de acompanhamento, embora, basicamente, não tenham sido realizadas cobranças no período de 2011-2012. |
Imposto sobre o rendimento das pessoas singulares | A especificação das reformas do imposto sobre o rendimento exigiu conjuntos de dados pormenorizados sobre a distribuição do rendimento das pessoas singulares, mas tais dados não estavam disponíveis durante o primeiro programa. |
Pedidos de reembolso de impostos | O acompanhamento dos pedidos de reembolso de impostos foi solicitado, pela primeira vez, na primeira atualização do memorando de políticas económicas e financeiras (MPEF) para o segundo programa. Não é claro o motivo por que os dados não foram solicitados durante o primeiro programa, apesar de os pedidos de reembolso de impostos não pagos constituírem, geralmente, um risco em programas de assistência. Durante o segundo programa, foram observadas incoerências regulares entre as alterações das existências e dos fluxos dos pedidos apresentados. |
Evasão fiscal | Os programas não previam a recolha regular dos dados necessários para estimar a evasão fiscal ou qualquer acompanhamento das lacunas fiscais para diferentes impostos e setores económicos, que foram assinaladas como relativamente elevadas no período anterior à crise. Não foi efetuado qualquer acompanhamento das estimativas sobre o impacto do trabalho não declarado no imposto sobre o rendimento das pessoas singulares e nas receitas decorrentes das contribuições para a segurança social. Do mesmo modo, não foi realizada uma análise de dados sobre o desempenho da Inspeção do Trabalho no domínio do trabalho não declarado. |
Dívidas fiscais | As dívidas fiscais foram objeto de acompanhamento a partir do segundo programa, mas os indicadores não foram claramente definidos desde o início. Os dados e os objetivos referiam-se apenas à cobrança de dívidas fiscais, enquanto o nível da dívida fiscal não foi definido, acompanhado ou visado, o que era incompatível com o facto de as dívidas fiscais terem aumentado sistematicamente ao longo dos dois programas. |
Além disso, a dívida da segurança social não foi objeto de acompanhamento durante os programas. | |
Indicadores de desempenho para a administração fiscal | Não foi estabelecido qualquer indicador de desempenho para a administração fiscal durante o primeiro programa. Os indicadores de resultados (como o número de inspeções fiscais) foram aplicados durante o segundo programa, mas apenas para a administração fiscal, excluindo, assim, os fundos de segurança social. A OCDE publicou indicadores para a eficiência da administração fiscal no documento intitulado Tax administration 2015 (Administração fiscal em 2015), mas não estavam disponíveis dados para a Grécia neste relatório (p. ex., o rácio das despesas e o rácio relacionado com o pessoal, os rácios relativos às despesas de cobrança, o rácio entre os custos salariais e os custos administrativos, a taxa de rotatividade do pessoal/de atrito, etc.). Nenhum indicador foi objeto de acompanhamento/recolha pela Comissão para a administração fiscal ou para fundos de segurança social durante os programas. Os principais indicadores de desempenho estabelecidos pelas autoridades fiscais com o apoio do segundo programa não estavam alinhados com estes indicadores. |
Parte B: Instabilidade da política fiscal
Geralmente, um sistema fiscal transparente, simples e estável é considerado um meio importante de incentivar o investimento. A instabilidade da política fiscal afetou todos os principais tipos de impostos na Grécia: alterações e reversões no âmbito das taxas do IVA (ver quadro 1), alterações nas taxas do imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas, na tributação de imóveis e de investimentos e na tributação de trabalhadores por conta própria e de outrem. Em particular, a taxa do imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas foi reduzida de 25% para 24% em 2010 e, posteriormente, para 20% em 2011 e foi aumentada para 26% em 2013 e para 29% em 2015. Os dados da OCDE e da Comissão também mostram que a carga fiscal para um único funcionário aumentou até 2012 e retornou ao nível de 2009 em 2015 com objetivos económicos injustificados para o mercado de trabalho. Em particular, as taxas de contribuição social e o limite máximo de rendimento das pessoas singulares isento de impostos sofreram um aumento e, posteriormente, uma redução.
A instabilidade da política fiscal foi igualmente gerada por múltiplas reformas da determinação do rendimento tributável, da contabilidade, das auditorias fiscais, das sanções, etc. Por exemplo, o primeiro programa defendeu o tratamento fiscal unificado das fontes de rendimento das pessoas singulares, mas o segundo programa enveredou por uma trajetória oposta. Os procedimentos fiscais e o Código de Livros e Registos foram objeto de alterações durante o primeiro e o segundo programas. O antigo código do imposto sobre o rendimento (Lei nº 2238/1994) foi alterado 425 vezes por 34 leis no decurso dos programas (2010-2014). Quando foi adotado, em 2013, o novo código do imposto sobre o rendimento (Lei nº 4172/2013) não revogou o código anterior, situação que criou incertezas jurídicas temporárias para os contribuintes. A adoção do novo código do imposto sobre o rendimento era um requisito do ME. Também foi alterado 111 vezes por 20 leis durante o período de 2013-2014.
No “Relatório de Competitividade Global 2015-2016”, a Grécia ficou classificada em 136º lugar entre 140 países no que diz respeito ao efeito da tributação nos incentivos ao investimento.
Data de aplicação | Alteração |
---|---|
15 de março de 2010 | As taxas do IVA aumentaram de 19%, 9% e 4,5% para 21%, 10% e 5%. As taxas aplicáveis em ilhas específicas aumentaram de 3%, 6% e 13% para 4%, 7% e 15%. |
1 de julho de 2010 | As taxas do IVA aumentaram para 23%, 11% e 5,5%. Os serviços jurídicos, de saúde privados e culturais isentos prestados pelo setor privado foram incluídos na taxa normal. As taxas aplicáveis em ilhas específicas aumentaram para 4%, 8% e 16%. |
1 de janeiro de 2011 | As taxas reduzidas aumentaram novamente para 13% e 6,5%. A taxa aplicada ao alojamento hoteleiro e aos produtos farmacêuticos foi alterada de 13% para 6,5% (o que constituiu um revés para a realização do objetivo de alargar a base tributável à taxa normal). |
1 de setembro de 2011 | A taxa aplicada a bebidas não alcoólicas e a restaurantes/cafés/comida para fora/alimentos pré-confecionados em supermercados aumentou de 13% para 23%. |
1 de agosto de 2013 | A taxa aplicada a bebidas não alcoólicas e a restaurantes/cafés/comida para fora/alimentos pré-confecionados em supermercados diminuiu de 23% para 13% (esta diminuição foi uma reversão de uma medida anterior). |
20 de julho de 2015 | A taxa aplicada ao transporte de passageiros e a bebidas não alcoólicas, restaurantes/cafés/comida para fora/alimentos pré-confecionados em supermercados aumentou de 13% para 23% (tal incluiu uma reversão de uma medida anterior). |
1 de outubro de 2015 | A taxa aplicada ao alojamento hoteleiro aumentou de 6,5% para 13% (este aumento foi uma reversão de uma medida anterior). As taxas aplicadas em determinadas ilhas aumentaram para o mesmo nível das taxas aplicadas no continente. |
Parte C: Exemplos de prazos irrealistas
Condição | Observação |
---|---|
Suspensão, pelo governo, dos pagamentos em numerário e em cheque nas repartições de finanças, sendo substituídos por transferências bancárias, de molde a que os funcionários tenham mais tempo para se consagrarem a funções de maior valor acrescentado (controlos, verificação das cobranças e aconselhamento dos contribuintes); [T2-2012] (ME inicial, segundo programa). | O projeto de TI não poderia cumprir, de forma realista, um prazo de três meses. O prazo foi prorrogado na primeira atualização do ME (até dezembro de 2012) e na segunda atualização do ME (até junho de 2013). Na terceira atualização do ME, a condição foi transformada num requisito de elaboração de um plano de mobilização dos meios eletrónicos necessários. Até ao final de 2014, o projeto não tinha sido concluído. |
Prossecução da centralização e fusão de repartições fiscais; 200 repartições de finanças locais, identificadas como ineficientes, serão encerradas até o final de 2012 “(ME inicial, segundo programa). ‘The Government continues to centralise and merge tax offices; 200 local tax offices, identified as inefficient, will be closed, by end-2012’ (initial MoU, second programme). | O prazo foi prorrogado várias vezes: do final de 2012 para junho de 2013 (primeira atualização do ME) e, posteriormente, até setembro de 2013 (segunda atualização do ME). A condição foi finalmente aplicada em setembro de 2013. O projeto não foi suficientemente preparado antecipadamente (o número de repartições de finanças visadas passou de 90 na condição inicial para 140 e, finalmente, para 120), o que também explica os atrasos. |
Adoção, pelo Parlamento, de legislação para melhorar a eficácia da administração fiscal e dos controlos fiscais, através da aplicação de recomendações formuladas pela Comissão Europeia e pelo FMI (ME inicial, primeiro programa). | Esta condição baseou-se nas recomendações formuladas pela missão de assistência técnica do FMI, em maio de 2010, em matéria de administração fiscal. No entanto, a condição não se alicerçou, de forma sólida, nas recomendações: o plano de curto prazo recomendado dispunha de um prazo para aplicação de 12 a 18 meses, enquanto a condição previa um prazo irrealista de apenas 3-4 meses. |
Parte D: Indicadores quantitativos dos programas para a administração fiscal
Dez. 11 | Dez. 12 | Dez. 13 | Dez. 14 | Dez. 15 | |
---|---|---|---|---|---|
Cobrança da dívida fiscal a partir do final do ano anterior (milhões de euros) | 946 | 1099 | 1518 | 1561 | 1641 |
Taxa de cobrança de novas dívidas acumuladas no ano em curso | 11% | 19% | 15% | 17% | |
Novas auditorias integrais aos grandes contribuintes | 44 | 76 | 324 | 411 | 409 |
Novas auditorias temporárias aos grandes contribuintes | 271 | 590 | 446 | 105 | |
Taxa de cobrança no ano em que a receita fiscal foi avaliada com base em novas auditorias integrais realizadas aos grandes contribuintes | 65% | 55% | 11% | 13% | |
Taxa de cobrança no ano em que a receita fiscal foi avaliada com base em novas auditorias temporárias realizadas aos grandes contribuintes | 49% | 55% | 29% | 72% | |
Novas auditorias baseadas no risco a trabalhadores por conta própria e pessoas com grandes fortunas | 404 | 444 | 454 | 693 | 488 |
Taxa de cobrança no ano em que a receita fiscal foi avaliada com base em novas auditorias realizadas a trabalhadores por conta própria e pessoas com grandes fortunas | 78% | 22% | 26% | 15% | |
Auditoria a ativos de gerentes de repartições de finanças | 54 | 104 | 52 | ||
Auditoria a ativos de auditores fiscais | 72 | 108 | 74 |
Objetivo alcançado | Objetivo não alcançado | Objetivo não fixado |
Fonte: Memorando Técnico de Entendimento e relatórios de atividade do Secretariado-Geral das Receitas Públicas da Grécia para 2014 e 2015.
Anexo V
Evolução da metodologia do défice de financiamento
Primeiro programa | Segundo programa | ||
---|---|---|---|
Insuficiências | Evolução | Insuficiências | Evolução |
Elementos não tidos em consideração no cálculo inicial:
|
Em julho de 2011, a Comissão incluiu novos elementos no cálculo das necessidades de financiamento do Estado:
|
O cálculo do défice de financiamento considerou apenas dois dos três elementos da participação do setor público (a redução da margem do mecanismo de concessão de crédito à Grécia e o compromisso dos bancos centrais da área do euro de transferir para a Grécia os rendimentos gerados pela detenção de obrigações gregas). A decisão de devolver os lucros decorrentes dos títulos adquiridos ao abrigo do Programa dos Mercados de Títulos de Dívida não se refletiu no cálculo do défice de financiamento. |
Novos elementos tidos em consideração:
|
Incoerências entre as condições de financiamento (prazos de vencimento) conforme apresentadas no documento do programa e o cálculo do défice de financiamento. | Os cálculos do défice de financiamento realizados ao longo do programa não forneceram uma discriminação por contribuição de cada mecanismo para o financiamento global. | A dívida das empresas públicas foi consolidada na dívida global da administração pública. | |
Cálculo não baseado na dívida global consolidada da administração pública (consideração inadequada de subentidades). | Discriminação clara do défice de tesouraria entre o défice de tesouraria primário estimado e o pagamento de juros. | ||
Confiança no défice do SEC (baseado na especialização dos exercícios). | Ajustamento aos défices calculados segundo uma contabilidade de exercício, mais apropriado para o cálculo do défice de financiamento. |
Anexo VI
Precisão das projeções macroeconómicas
2010 | 2011 | 2012 | 2013 | 2014 | ||||||||||||
% efetiva | % prevista | Dif. p.p. | % real | % previsão | Dif. | % efetiva | % prevista | Dif. p.p. | % efetiva | % prevista | Dif.p.p. | % efetiva | % previsão | Dif. p.p. | ||
PIB | 1º PAE | -5,5 | -4,0 | -1,5 | -9,1 | -2,6 | -6,5 | -7,3 | 1,1 | -8,4 | -3,2 | 2,1 | -5,3 | 0,7 | 2,1 | -1,4 |
2º PAE | -4,7 | -2,6 | 0,0 | -3,2 | 2,5 | -1,8 | ||||||||||
Consumo privado | 1º PAE | -6,5 | -3,8 | -2,7 | -9,7 | -4,5 | -5,2 | -8,0 | 1,0 | -9,0 | -2,3 | 1,1 | -3,4 | 0,5 | 1,2 | -0,7 |
2º PAE | -5,7 | -2,3 | -1,1 | -1,2 | 0,9 | -0,4 | ||||||||||
Consumo público | 1º PAE | -4,2 | -8,2 | 4,0 | -7,0 | -8,0 | 1,0 | -6,0 | -6,0 | 0 | -6,5 | -1,0 | -5,5 | -2,6 | 0,0 | -2,6 |
2º PAE | -11 | 5,0 | -9,5 | 3,0 | -4,7 | 2,1 | ||||||||||
Investimentos | 1º PAE | -19,3 | -7,3 | -12,0 | -20,5 | -7,0 | -13,5 | -23,5 | -2,6 | -20,9 | -9,4 | 1,1 | -10,5 | -2,8 | 1,2 | -4,0 |
2º PAE | -6,2 | -17,3 | 6,9 | -16,3 | 10,3 | -13,1 | ||||||||||
Exportações | 1º PAE | 4,9 | 1,5 | 3,4 | 0,0 | 6,1 | -6,1 | 1,2 | 5,7 | -4,5 | 2,2 | 7,3 | -5,1 | 7,5 | 6,7 | 0,8 |
2º PAE | 3,2 | -2,0 | 5,5 | -3,3 | 7,0 | 0,5 | ||||||||||
Importações | 1º PAE | -3,4 | -10,3 | 6,9 | -9,4 | -6,6 | -2,8 | -9,1 | -1,5 | -7,6 | -1,9 | 1,5 | -3,4 | 7,7 | 2,1 | 5,6 |
2º PAE | -5,1 | -4,0 | 0,0 | -1,9 | 2,4 | 5,3 | ||||||||||
IHPC | 1º PAE | 4,7 | 1,9 | 2,8 | 3,1 | -0,4 | 3,5 | 1,0 | 1,2 | -0,2 | -0,9 | 0,7 | -1,6 | -1,4 | 0,9 | -2,3 |
2º PAE | -0,5 | 1,5 | -0,3 | -0,6 | 0,1 | -1,5 | ||||||||||
Deflator do PIB | 1º PAE | 0,7 | 1,2 | -0,5 | 0,8 | -0,5 | 1,3 | -0,4 | 1,0 | -1,4 | -2,5 | 0,7 | -3,2 | -2,2 | 1,0 | -3,2 |
2º PAE | -0,7 | 0,3 | -0,4 | -2,1 | 0,0 | -2,2 | ||||||||||
Desemprego (dados das contas nacionais) | 1º PAE | 12,0 | 12,0 | 0 | 16,7 | 14,7 | 2,0 | 23,0 | 15,2 | 7,8 | 25,9 | 14,8 | 11,1 | 24,9 | 14,1 | 10,8 |
2º PAE | 17,9 | 5,1 | 17,8 | 8,1 | 16,7 | 8,2 |
Números a verde: variações favoráveis (previstas vs. reais).
Números a vermelho: variações desfavoráveis (previstas vs. reais).
Anexo VII
Condições atrasadas e não cumpridas
Mercado de trabalho | ||
---|---|---|
Condição | Avaliação final do ME | Situação de cumprimento |
Conjunto de condições em matéria de negociação salarial, flexibilidade do horário de trabalho e legislação de proteção do emprego. | 1º programa 3ª avaliação | Reformas parcialmente atrasadas na primeira avaliação (2ª avaliação, 1º programa). Cumprimento parcial na 3ª avaliação, com um atraso, respetivamente, de três ou cinco meses. Subcondições não cumpridas abordadas na avaliação subsequente. |
Adoção, pelo governo, de legislação para eliminar os obstáculos a uma maior utilização de contratos a termo. | 1º programa 5ª avaliação | Não cumprida à data do termo do prazo (3ª avaliação do primeiro programa). Após alterações da condição, avaliada como cumprida com um atraso de 10 meses na 5ª avaliação do 1º programa). |
Alteração, pelo governo, da legislação em vigor (Lei nº 3846/2010) para permitir uma gestão mais flexível do horário de trabalho […]. |
1º programa 5ª avaliação | Não cumprida à data do termo do prazo (3ª avaliação do primeiro programa). Após alterações da condição, avaliada como cumprida com um atraso de 10 meses na 5ª avaliação do 1º programa). |
Alteração, pelo governo, da Lei nº 1876/1990 (artigos 11º, nº 2, e 11º, nº 3) para suprimir a possibilidade de aplicar as convenções coletivas setoriais a terceiros não representados nas negociações. | 2º programa ME inicial |
Não cumprida à data do termo do prazo (3ª avaliação do primeiro programa). Após alterações da condição, avaliada como cumprida com um atraso de 18 meses no segundo programa. |
Simplificação, pelo governo, do procedimento para a criação de sindicatos a nível das empresas. | 2º programa ME inicial |
Avaliada como “em curso” à data do termo do prazo (4ª avaliação do 1º programa). Avaliada como cumprida com um atraso de 12 meses através da criação do “sindicato de pessoas” (2º programa). |
Colaboração do governo com os parceiros sociais numa reforma do sistema de fixação de salários a nível nacional (…) A proposta tem como objetivo substituir as tabelas salariais definidas na convenção coletiva geral nacional por um salário mínimo nacional fixado pelo governo. |
2º programa 4ª avaliação | Avaliada como “em curso/iniciada” à data do termo do prazo (1ª avaliação do 2º programa). Aplicada com um atraso de 21 meses (abril de 2014) através de várias leis. |
Ambiente empresarial | ||
Facilitação das exportações | ||
Condição | Avaliação final do ME | Situação de cumprimento |
Adoção pelo governo de medidas em consonância com as regras de concorrência da UE: | ||
|
1º programa 3ª avaliação | Observada na 3ª avaliação do 1º programa, cumprida com um atraso de 4 meses. |
|
1º programa 2ª avaliação | Observada na 2ª avaliação do 1º programa, avaliada como cumprida com um atraso de 2 meses. |
Realização, pelo governo, de uma avaliação aprofundada de todas as ações em matéria de I&D e de inovação, nomeadamente no âmbito de vários programas operacionais, a fim de ajustar a estratégia nacional. | 2º programa 1ª avaliação | Não cumprida à data de termo do prazo (3ª avaliação do 1º programa) nem na 4ª avaliação. Avaliação na 5ª avaliação: “ainda não aplicável” Avaliação no 2º programa: “em curso” “cumprida” na 1ª avaliação do 2º programa com um atraso de 2 anos. |
Supressão, pelo governo, da exigência de registo do exportador na Câmara de Comércio para obtenção de um certificado de origem. | 2º programa 1ª avaliação | Considerada “em curso” à data de termo do prazo (5ª avaliação do 1º programa). Avaliada como “cumprida” com um atraso de 1 ano na 1ª avaliação do 2º programa. |
Apresentação, pelo governo, de um plano para uma Grécia favorável às empresas (Business-Friendly Greece) destinado a pôr termo às 30 restrições remanescentes às atividades empresariais, ao investimento e à inovação. O plano identifica obstáculos à inovação e ao empreendedorismo – da criação da empresa à liquidação da empresa – e apresenta as ações corretivas correspondentes. | 2º programa 1ª avaliação |
“Parcialmente cumprida” à data do termo do prazo (5ª avaliação do 1º programa). Avaliada como “cumprida” com um atraso de 1 ano na 1ª avaliação do 2º programa. |
Liberalização de profissões restritas e aplicação da Diretiva Serviços | ||
Lançamento de uma auditoria para avaliar até que ponto as contribuições de advogados e engenheiros para cobrir os custos operacionais das suas associações profissionais são razoáveis, proporcionadas e justificadas. | 2º programa 1ª avaliação | “Parcialmente cumprida” à data do termo do prazo (5ª avaliação do 1º programa). Avaliada como cumprida com um atraso de 1 ano na 1ª avaliação do 2º programa. |
Adoção, pelo governo, de legislação destinada a:
|
2º programa 2ª avaliação |
Legislação “parcialmente cumprida” à data do termo do prazo (1ª avaliação do 2º programa). Avaliada como “cumprida” com um atraso de 9 meses na 2ª avaliação do 2º programa. |
Adoção, pelo governo, de legislação para abrir as profissões restritas, incluindo a profissão jurídica, para suprimir (…) a proibição efetiva de publicidade. | 2º programa 3ª avaliação | Avaliada como “cumprida” com um atraso de 2 anos na 3ª avaliação do 2º programa. |
O governo deve assegurar a aplicação efetiva das regras da UE relativas ao reconhecimento das qualificações profissionais e o cumprimento dos acórdãos do TJUE (…). | 2º programa 2ª avaliação | Aplicação “parcialmente observada” à data do termo do prazo (3ª avaliação do 1º programa). Avaliada como “cumprida” com um atraso de 29 meses na 2ª avaliação do 2º programa. |
Nos termos da Diretiva Serviços, conclusão, pelo governo, da revisão (análise) da legislação setorial em vigor e fornecimento de uma lista de restrições que estão a ser abolidas ou alteradas como resultado. | 1º programa 3ª avaliação | Assinalada como “cumprida” à data do termo do prazo (3ª avaliação do 1º programa), mas o relatório mostra que determinados domínios da política não são abrangidos. Atraso estimado em mais de 6 meses. |
O Governo deve garantir que o balcão único estabelece uma distinção entre os procedimentos aplicáveis aos prestadores de serviços estabelecidos na Grécia e os aplicáveis aos prestadores transfronteiriços (em especial no que se refere às profissões regulamentadas). | 2º programa 1ª avaliação | Considerada “em curso” à data do termo do prazo (3ª avaliação do 1º programa). Avaliada como cumprida com um atraso de 2 anos na 1ª avaliação do 2º programa. |
O governo deve igualmente garantir que o ponto eletrónico de contacto único está operacional e dispõe de um portal de Internet de fácil utilização que permita a realização de procedimentos comuns por meios eletrónicos através dos formulários necessários disponíveis em linha e do reconhecimento de assinaturas eletrónicas, em conformidade com a Decisão 2009/767/CE. | 2º programa 3ª avaliação | Condições consideradas não cumpridas à data do termo do prazo (2ª avaliação do 1º programa); posteriormente, foram reformuladas e divididas em várias etapas. Avaliada como cumprida com um atraso de 33 meses na 3ª avaliação do 2º programa. |
O governo deve assegurar o estabelecimento de ligações adequadas entre os balcões únicos e outras autoridades relevantes (incluindo associações profissionais); | 1º programa 3ª avaliação | Considerada “em curso” à data do termo do prazo (3ª avaliação do 1º programa). Avaliada como cumprida na 4ª avaliação do 2º programa desde 5 de setembro de 2013 (com um atraso de 2 anos e 9 meses). |
Adoção, pelo governo, de legislação sobre um número limitado de setores de serviços prioritários identificados no quarto trimestre de 2010. Especificação, pelo governo, para um número limitado de setores de serviços prioritários, de um calendário para a adoção de legislação setorial até o final do quarto trimestre de 2011 que assegure o pleno cumprimento dos requisitos da Diretiva Serviços. | 2º programa ME inicial | Avaliada como “em curso” na 5ª avaliação do 1º programa, na sequência de várias alterações na 3ª e na 4ª avaliações. Foi considerada cumprida em março de 2012, com um atraso de 9 meses. |
O balcão único está plenamente operacional e a realização de procedimentos por meios eletrónicos é possível em todos os setores abrangidos pela Diretiva Serviços. | 2º programa 3ª avaliação | Não cumprida à data do termo do prazo (5ª avaliação do 1º programa). A condição foi dividida em três partes na 3ª avaliação do 2º programa, altura em que voltou a ser considerada como não cumprida. Avaliada como plenamente cumprida com um atraso de 2 anos e 3 meses. |
Reformas do setor financeiro | ||
Condição | Avaliação final do ME | Situação de cumprimento |
O Banco da Grécia exige que os bancos cuja base de capital tenha ficado aquém dos requisitos regulamentares tomem medidas adequadas através de injeções de capital ou de reestruturação. Caso tal implique a participação de outras instituições financeiras locais, o Banco da Grécia apresentará uma análise de impacto financeiro e um parecer jurídico. | 1º programa 5ª avaliação | Considerada como “parcialmente cumprida” devido à morosidade e complexidade dos procedimentos. A condição não foi objeto de acompanhamento no segundo ME. |
Conclusão, pelo Banco da Grécia e pelo Fundo Helénico de Estabilidade Financeira (FHEF), de um memorando de entendimento para reforçar ainda mais a sua cooperação, incluindo a partilha de informações adequadas em matéria de supervisão. | 2º programa ME inicial | Considerada como “parcialmente cumprida” à data do termo do prazo (5ª avaliação do 1º programa). Condição cumprida com um atraso de 9 meses no 2º memorando de entendimento. |
O Banco da Grécia compromete-se a elaborar um plano de aplicação que descreva medidas adicionais para melhorar as cobranças e estabelecer metas, a fim de assegurar uma utilização efetiva das ferramentas aprimoradas. | 2º programa 4ª avaliação | Considerada “não cumprida, pendente”. Não foi realizada qualquer outra avaliação devido ao término do 2º programa. A condição estava aberta a interpretações. |
O governo compromete-se a: adotar definições para expressões como “despesas de subsistência aceitáveis” e “mutuários cooperativos”, como orientação para o sistema judicial e os bancos, com vista a proteger os agregados familiares vulneráveis. |
2º programa 4ª avaliação | Considerada “não cumprida, pendente”. Não foi realizada qualquer outra avaliação devido ao término do 2º programa. |
Continuar a acompanhar de perto a resolução do sobre-endividamento de agregados familiares, PME e empresas. | 2º programa 4ª avaliação | Considerada “não cumprida”. Não foi realizada qualquer outra avaliação devido ao término do 2º programa. |
O governo compromete-se a tirar partido dos progressos significativos rumo à reforma dos regimes de insolvência, através da adoção das seguintes medidas: i) criação de um grupo de trabalho para identificar formas de melhorar a eficácia dos processos de resolução das dívidas dos agregados familiares, PME e empresas. ii) para o efeito, em consulta com os serviços da CE/BCE/FMI, identificará os principais estrangulamentos e iii) com assistência técnica, compromete-se a propor etapas concretas para a realização de melhorias neste domínio. |
2º programa 4ª avaliação | No que diz respeito às alíneas ii) e iii): Considerada “não cumprida, pendente”. Não foi realizada qualquer outra avaliação devido ao término do 2º programa. |
Elaboração, pelo Banco da Grécia em consulta com bancos e os serviços da CE/BCE/FMI, de um quadro calendarizado para os bancos facilitarem a liquidação dos pagamentos em atraso dos mutuários recorrendo a protocolos normalizados, com base na análise das operações de crédito em dificuldades dos bancos. Estes (MPEF) incluem procedimentos de avaliação, regras de envolvimento, cronogramas definidos e estratégias de término. | 2º programa 4ª avaliação | Considerada “não cumprida, pendente”. Não foi realizada qualquer outra avaliação devido ao término do 2º programa. |
Administração pública | ||
Condição | Avaliação final do ME | Situação de cumprimento |
Apresentação, pelo governo, de um plano anual para legislar melhor (conforme previsto no artigo 15º da Lei nº 4048/2012) com objetivos mensuráveis para simplificar a legislação (inclusive através da codificação) e eliminar regulamentos supérfluos. (Dezembro de 2013) | 2º programa 4ª avaliação | Não cumprida, atrasada. Não foi realizada qualquer outra avaliação devido ao término do 2º programa. |
Conclusão da transferência, pelas autoridades, de pelo menos mais 12 500 trabalhadores assalariados para o regime (…) cujos salários serão reduzidos para 75%. | 2º programa 4ª avaliação | Não cumprida, pendente. Não foi realizada qualquer outra avaliação devido ao término do 2º programa. |
Definição, pelas autoridades, de objetivos mínimos trimestrais para o regime de mobilidade para 2014. | 2º programa 4ª avaliação | Não cumprida, pendente. Não foi realizada qualquer outra avaliação devido ao término do 2º programa. |
Mais 2 000 saídas de trabalhadores assalariados. | 2º programa 4ª avaliação | Pendente. Não foi realizada qualquer outra avaliação devido ao término do 2º programa. |
Conclusão, pelas autoridades, dos planos relativos ao pessoal para todas as entidades da administração pública, a adotar pelo conselho governamental para efeitos de reforma progressiva e, o mais tardar, até dezembro de 2013. | 2º programa 4ª avaliação | Não cumprida, pendente, novo prazo até março de 2014. Não foi realizada qualquer outra avaliação devido ao término do 2º programa. |
Conclusão, pelas autoridades, da avaliação de trabalhadores individuais para efeitos do regime de mobilidade. | 2º programa 4ª avaliação | Atrasada, por 12 meses. Não foi realizada qualquer outra avaliação devido ao término do 2º programa. |
As autoridades devem refletir a estratégia de RH na legislação. Este ato jurídico visa assegurar a continuidade institucional e níveis mais elevados de eficiência na administração pública e fornecer uma base para avaliar e desenvolver as competências dos quadros superiores e do pessoal em geral. | 2º programa 4ª avaliação | Não cumprida. Atrasada por sete meses (abril de 2014). Não foi realizada qualquer outra avaliação devido ao término do 2º programa. |
As autoridades devem tomar medidas para consolidar os trabalhos preparatórios em curso numa estratégia nacional para a administração pública em linha abrangente e aprovada, (…) adotada pelo conselho governamental para a reforma. | 2º programa 4ª avaliação | A estratégia para a administração pública em linha foi concluída e adotada pelo conselho governamental para a reforma em 27.3.2014, com um atraso de 6 meses em relação ao prazo inicial. |
Elaboração de um plano de ação para a avaliação de todas as entidades públicas, incluindo todos os fundos extraorçamentais e empresas públicas nos termos do capítulo A (dezembro de 2012). Conclusão do plano de ação (…) até dezembro de 2013. | 2º programa 2ª avaliação | Não cumprida, atrasada. Não foi objeto de acompanhamento. |
O anexo baseia-se numa amostra de condições objeto da auditoria.
Anexo VIII
Administração pública
Parte A: Fatores de êxito para o reforço da capacidade administrativa
Fatores de êxito | Avaliação do TCE | Descrição |
---|---|---|
Processo de mudança cultural e organizacional | Não abordado | Um plano de comunicação para a reforma da administração pública foi incluído nas condições do ME após um atraso de um ano em 2013 e foi realizado em 2014. |
Participação das partes interessadas e da sociedade civil | Não abordado | Contrariamente a outros domínios do PAE (isto é, reformas do mercado de trabalho), não foi organizada qualquer troca de pontos de vista com as partes interessadas (associações científicas locais, Escola Nacional de Administração Pública e associações empresariais). |
Abordagem metodológica e técnica clara | Não abordado | O programa carecia de um plano estratégico para a definição de condições sobre a reforma da administração pública. Em 2013, foi exigida ao Governo grego a apresentação de uma estratégia e de um plano de ação, que foram apresentados em 2014. O plano de ação não foi aplicado devido a uma mudança de governo. Um novo plano de ação para a RAP foi incluído nas condições do ME em 2015. |
Compromisso político | Abordado | Um órgão de direção política de alto nível para a reforma da administração pública foi incluído nas condições do ME. |
Definição clara de responsabilidades | Abordado | O Ministério da Reforma Administrativa e da Governação Eletrónica foi responsável pelo processo de reforma, tendo sido oferecida assistência técnica para orientar a reforma. |
Intercâmbio de melhores práticas a nível da UE | Não abordado | As condições do ME não asseguraram a incorporação de boas práticas nas medidas de RAP. |
Técnicas de acompanhamento e avaliação | Não abordado | A Comissão acompanhou a consecução dos objetivos quantitativos do PAE, mas não conseguiu acompanhar a evolução ou avaliar os resultados efetivamente obtidos pelas reformas estruturais do ponto de vista qualitativo. No que se refere à reorganização da administração pública central, a ausência de indicadores-chave de desempenho adequados não facilitou a tarefa da Comissão de verificar a consecução de objetivos em matéria de eficiência, como procedimentos administrativos simplificados e a eliminação de sobreposições. |
Continuidade e estabilidade das reformas | Não abordado | As medidas de condicionalidade estrutural não foram aplicadas através de projetos no âmbito do Programa Operacional de Reforma Administrativa, mas dependiam fortemente da vontade política. Tal criou um risco para a continuidade das atividades que acabou por materializar-se. Devido à instabilidade política e a remodelações frequentes, 10 ministros diferentes conduziram a reorganização da administração pública num período de sete anos, criando assim uma abordagem intermitente em relação às reformas. |
Critérios baseados em: Comissão Europeia, Promover a boa governação, 2014, p. 6.
Parte B: Principais recomendações da OCDE, reformas fundamentais; ações imediatas e acompanhamento pelo programa
Principal recomendação | Reformas fundamentais | Ações imediatas |
---|---|---|
1. Não existe uma visão estratégica global evidente que defina a finalidade e a orientação em relação ao futuro a longo prazo da sociedade e da economia gregas, ou às medidas a aplicar a curto, médio e longo prazo. |
| |
2. Os problemas generalizados de corrupção podem ser associados à cultura administrativa política e pública e aos seus sistemas opacos e confusos. |
|
|
3. O Governo grego não está “unido” e está pouco coordenado, o que compromete as reformas que exigem uma ação coletiva (isto é, a maior parte delas). | Estabelecer um plano em matéria de tecnologias de informação e comunicação para garantir a interoperabilidade entre os sistemas ministeriais e aumentar a recolha e a partilha de dados, começando com os principais ministérios e edifícios (na pendência da racionalização destes últimos). (Incluído nas condições do ME em 2013. Uma estratégia de TIC foi concretizada em abril de 2014). | |
4. A aplicação de políticas e reformas é uma insuficiência importante e debilitante, devido à combinação de uma supervisão central fraca e de uma cultura que favorece a produção regulamentar em detrimento dos resultados. |
|
Exigir que qualquer nova lei ou política inclua um plano de aplicação, baseado em marcos e indicadores quantitativos de resultados baseados em factos, e identifique claramente aqueles que precisam de participar no processo de aplicação. (Não incluído) |
6. A gestão de recursos humanos requer uma atenção igualmente urgente para reforçar o serviço público e promover a mobilidade. | Estabelecer as ligações necessárias entre as reformas no âmbito dos RH e as reformas orçamentais. A orçamentação por programação com base em objetivos políticos a alcançar deve estar claramente associada à gestão do desempenho baseada em objetivos. Esta última, por sua vez, deve estar claramente associada às avaliações de desempenho individuais. (A orçamentação com base nos resultados não foi aplicada) | |
7. Existem deficiências cruciais na recolha e gestão de dados que impedem a execução de reformas eficazes e baseadas em factos. | Estabelecer uma estratégia para abordar a recolha e a gestão de dados, com instituições, financiamento e formação adequados em todos os níveis da administração. Aplicar um sistema público de gestão de conhecimentos. (Não incluído) | Identificar dados essenciais para recolha pelos ministérios através das unidades ministeriais centrais estratégicas propostas no ponto 3 acima. (Não incluído) |
8. A administração grega é dificultada por um quadro jurídico complexo que desencoraja a iniciativa, centra-se em processos e não em políticas e bloqueia a evolução da reforma. | Abordar os problemas subjacentes que impulsionam o desenvolvimento contínuo e a utilização de leis e processos a fim de simplificar os processos e estruturas jurídicos. Identificar e analisar as partes do quadro jurídico que exigem reformas, a fim de transferir a atenção da administração do cumprimento formal de requisitos pormenorizados para a realização de políticas e objetivos estratégicos. (Não incluído) |
Fonte: Greece: Review of the Central Administration (Grécia: Exame da Administração Central), OCDE, 2011.
Annex IX
Reformas do setor financeiro
Parte A: Estratégias do programa e condições fundamentais para o setor financeiro
1º Programa de Ajustamento |
Contexto e fundamentação: O primeiro programa centrou-se mais nas finanças públicas do que no setor financeiro, como aconteceu subsequentemente noutros países da área do euro abrangidos por um programa. A abordagem do programa consistia em manter a confiança e evitar efeitos de contágio da dívida soberana. Como resultado, inicialmente o primeiro programa abrangeu apenas três condições do setor financeiro que foram, em grande medida, inspiradas pelas conclusões do FMI sobre a consulta realizada ao abrigo do artigo IV do seu Estatuto para o ano de 2009. Condições fundamentais: A principal condição do setor financeiro consistiu em criar o Fundo Helénico de Estabilidade Financeira (FHEF) com o objetivo de contribuir para a estabilidade financeira do sistema bancário grego, uma vez que os bancos eram considerados vulneráveis à recessão económica e a um ciclo de retroação negativa resultante da dívida soberana. O fundo foi criado em julho de 2010 com 10 mil milhões de euros para injeções de capital. No entanto, apenas 1,5 mil milhões de euros foram, efetivamente, injetados no Fundo durante o programa, dos quais 0,2 mil milhões de euros foram utilizados. As outras condições do programa foram a intensificação das práticas de supervisão pelo Banco da Grécia e um compromisso de revisão da legislação em matéria de insolvência. |
2º Programa de Ajustamento |
Contexto e fundamentação: Devido à reestruturação da dívida soberana grega no âmbito da PSP, as perdas sofridas por todos os bancos gregos (37,7 mil milhões de euros no total) e o impacto da recessão na qualidade dos ativos, na recapitalização e na resolução foram condições fundamentais do setor financeiro no segundo programa e permaneceram significativas durante todo o período de vigência do mesmo. Condições fundamentais: Cinquenta mil milhões de euros destinavam-se a cobrir os custos de recapitalização bancária a fim de compensar as perdas esperadas relacionadas com a PSP, lidar com perdas de crédito existentes e futuras e proceder à resolução de bancos que já não eram considerados comercialmente viáveis. O programa visava melhorar a supervisão e a regulamentação, bem como estabelecer um quadro de governação mais forte para os bancos recapitalizados por fundos públicos. À medida que o segundo programa avançava, o reforço dos quadros de reestruturação da dívida privada e a capacidade de gestão de créditos não produtivos dos bancos foram identificados como as maiores prioridades. |
3º Programa de Ajustamento |
Contexto e fundamentação: A crise política que se seguiu, em dezembro de 2014, fez com que o sistema bancário da Grécia regressasse a uma situação de forte tensão. A liquidez ficou sob enorme pressão devido à retirada contínua de depósitos significativos e à eliminação do financiamento por grosso. O facto de a avaliação final do segundo programa não ter sido concluída forçou o BCE a manter o limite máximo da cedência de liquidez de emergência (CLE) aos bancos gregos no nível decidido em 26 de junho de 2015, o que, por sua vez, levou as autoridades gregas a imporem o encerramento dos bancos, seguido de controlos de capital. Condições fundamentais: O programa apoiou a restauração da estabilidade do sistema financeiro, com o objetivo de normalizar a liquidez, recapitalizar os bancos de importância sistémica, melhorar a governação do FHEF e dos bancos e eliminar os créditos não produtivos persistentemente elevados. Para o efeito, foi posta de lado uma reserva de até 25 mil milhões de euros para suprir as eventuais necessidades de recapitalização e resolução dos bancos gregos, que deveriam ser concluídas antes do final de 2015 devido ao impacto da Diretiva Recuperação e Resolução Bancárias (BRRD), reforçando assim a confiança dos depositantes no sistema. |
Parte B: As recapitalizações bancárias ao abrigo dos programas
Recapitalização bancária de 2013 | Em março de 2012, a aplicação do programa de PSP, um dos maiores acordos internacionais de reestruturação da dívida que afeta cerca de 206 mil milhões de euros de obrigações de dívida pública gregas, resultou numa perda de 37,7 mil milhões de euros para todos os bancos gregos, eliminando toda a sua base de capital. Como resultado, os quatro grandes bancos tiveram de ser recapitalizados, num montante de 28,6 mil milhões de euros (ver quadro 1). Quadro 1 - Dados fundamentais de todas as recapitalizações bancárias ao abrigo dos programas * Potenciais erros devido a arredondamentos ** Inclui aproximadamente 0,9 mil milhões de euros para um banco de transição *** Os valores indicados dizem respeito aos investimentos iniciais do FHEF e não têm em conta as reduções posteriores Fonte: Fundo Helénico de Estabilidade Financeira. Com o objetivo de reduzir o elevado custo dos atrativos oferecidos ao setor privado e evitar a possível nacionalização total dos bancos gregos, os parceiros propuseram um quadro de recapitalização com o objetivo de a) atenuar os desincentivos criados pelas condições de mercado prevalecentes e incertezas futuras e b) minimizar as perdas para os contribuintes, fornecendo apenas uma alavancagem positiva para o setor privado que permitisse, simultaneamente, a saída do FHEF sem sofrer perdas adicionais. Tal foi considerado uma parte crítica da estratégia em curso para reorganizar o sistema bancário e preservar a autonomia comercial dos bancos. Foi acordado o estabelecimento de um limite mínimo para a contribuição do setor privado em 10% das necessidades de capital de um banco individual. Além disso, foi acordado que, se o setor privado contribuísse pelo menos com o mínimo de 10% das necessidades de capital, o FHEH cobriria os 90% restantes, mas só receberia em troca “ações do tipo B” (isto é, com direitos de voto suspensos, exceto relativamente a determinados poderes de veto fundamentais), preservando assim a gestão privada do banco. Se o setor privado não estivesse disposto a cobrir o mínimo de 10% das necessidades de capital, o FHEF recapitalizaria o banco na sua totalidade e receberia plenos direitos de voto, diluindo os acionistas existentes e, efetivamente, nacionalizando o banco. Uma vez que os bancos eram insolventes, foram igualmente oferecidos warrants gratuitos como atrativos para incentivar os investidores privados a participarem na recapitalização. Os warrants foram considerados complexos, embora oferecessem atrativos significativos ao setor privado (a partir de junho de 2013, o valor de mercado dos warrants gratuitos oferecidos a investidores privados foi estimado em 1,7 mil milhões de euros). Durante maio e junho de 2013, os quatro grandes bancos gregos concluíram os seus aumentos de capital social. Três dos quatro bancos conseguiram angariar mais do que o mínimo de 10% das suas necessidades de capital, isto é, quase 3,1 mil milhões de euros de fontes privadas. O FHEF acabou por contribuir com o montante remanescente de 25,5 mil milhões de euros para esses bancos (não incluindo 0,9 mil milhões de euros para um banco de transição) e forneceu warrants a investidores privados pelas suas ações, de acordo com o quadro de recapitalização acordado. Os bancos decidiram angariar mais capital por meio de ações ordinárias, renunciando assim à opção de emissão de obrigações convertíveis contingentes (CoCos) dispendiosas e potencialmente diluidoras. Na sequência da fusão fracassada com outro banco e à luz do aumento da retirada de depósitos devido aos efeitos de contágio especulativo decorrentes, nessa altura, da decisão de recapitalização interna cipriota, o quarto banco optou por uma recapitalização imediata e integral através do FHEF em vez de tentar angariar o mínimo de 10% das suas necessidades de capital junto de fontes privadas. Dado o tempo restante até ao final de abril (prazo do segundo programa) e a avaliação muito elevada das ações a emitir, os juros dos investidores privados seriam limitados. Como resultado, em maio de 2013, o FHEF injetou 5,8 mil milhões de euros no banco, tornando-se o principal acionista (98,6%) com plenos direitos de voto, ao contrário dos outros três bancos de importância sistémica nos quais o FHEF tinha recebido ações com direitos de voto restritos. |
Recapitalização bancária de 2014 | A recessão prolongada teve um impacto negativo na liquidez dos bancos gregos, nos balanços e nos resultados financeiros. Na sequência de uma nova avaliação das necessidades de capital realizada pelo Banco da Grécia, em conformidade com uma condição do segundo programa, a segunda recapitalização dos quatro grandes bancos gregos foi concluída até junho de 2014. Em particular, 8,3 mil milhões de euros foram angariados na sua totalidade através do setor privado (ver quadro 1). Na sequência da segunda recapitalização, dois dos bancos conseguiram igualmente angariar fundos através da emissão de obrigações. No caso de um banco, o aumento do capital social de 2,9 mil milhões de euros para o cenário de base ocorreu de acordo com a Lei nº 3864/2010 revista, segundo a qual o FHEF só poderia agir como mecanismo de apoio de último recurso. O aumento de capital social envolveu um compromisso anterior de um investidor crucial em relação a uma dimensão específica e a um preço específico. Em meados de abril de 2014, o FHEF recebeu uma oferta vinculativa de 0,30 euros por ação, no total de 1,3 mil milhões de euros de um consórcio de investidores. O montante restante foi coberto durante o processo de registo de ordens (book-building process). O preço definitivo da oferta foi fixado em 0,31 euros por ação (com um desconto de 23% sobre o último preço de fecho; ver nota de rodapé nº 54), tendo o investidor crucial aumentado a sua oferta para acompanhar esse preço. O aumento do capital social foi concluído até ao final de abril e o montante foi integralmente coberto por investidores institucionais e investidores privados através de uma colocação privada e de uma oferta pública. Como resultado, a participação do FHEF foi reduzida de 95,2% para 35,4%. |
Recapitalização bancária de 2015 | Em 2015, as negociações prolongadas entre as autoridades gregas e as instituições, a par da retirada substancial de depósitos e o aumento constante de créditos não produtivos no contexto de um agravamento do contexto económico e da imposição de controlos de capital, exigiram uma terceira recapitalização bancária. A avaliação das necessidades de capital realizada pelo BCE revelou que os quatro grandes bancos gregos necessitariam de 14,4 mil milhões de euros adicionais no cenário desfavorável (ver quadro 1). Posteriormente, os bancos apresentaram os respetivos planos de capitalização ao BCE, especificando a forma como tencionavam fazer face aos seus défices de capital. Dado o contexto da Diretiva Recuperação e Resolução Bancárias (BRRD), o quadro de auxílios estatais e as orientações do Eurogrupo de 14 de agosto de 2015, as prioridades de objetivos fundamentais para a recapitalização de 2015 consistiram em fazer face a eventuais défices de capital, evitar o resgate por parte dos depositantes através da conclusão da recapitalização em 2015, evitar a nacionalização dos bancos gregos, minimizar os auxílios estatais através da maximização do investimento privado e evitar a diluição indevida das participações do FHEF. Os dois bancos com as necessidades de capital mais baixas conseguiram cobrir a totalidade do montante do cenário desfavorável através de investidores privados (3,2 mil milhões de euros) e da conversão voluntária de todos os titulares de obrigações prioritárias e titulares de empréstimos subordinados em capitais próprios. Os outros dois bancos, que apresentavam maiores necessidades de capital, só angariaram o montante de capital exigido no âmbito da análise da qualidade dos ativos (AQA) e do cenário de referência junto de investidores privados (2,1 mil milhões de euros) e da conversão dos titulares de obrigações prioritárias e titulares de empréstimos subordinados em capitais próprios. Note-se que o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD) e a Sociedade Financeira Internacional (SFI) do Banco Mundial também investiram nos quatro bancos. O montante remanescente de 5,4 mil milhões de euros proveio de fundos do programa através do FHEF (isto é, 1,3 mil milhões de euros em novas ações e 4,1 mil milhões de euros sob a forma de CoCos). |
Anexo X
Estabilidade financeira
Indicadores de risco da ABE para os sistemas bancários grego e da UE
Médias ponderadas | 2013 | 2014 | 2015 | 2016 | ||
---|---|---|---|---|---|---|
Grécia | Grécia | UE | Classificação dos bancos gregos na UE-28 | |||
Solvência | ||||||
Rácio de fundos próprios totais | 12,7% | 14,1% | 16,4% | 17,1% | 18,5% | 22 |
Rácio de fundos próprios de nível 1 | 12,4% | 13,9% | 16,3% | 17,0% | 15,5% | 14 |
Rácio de fundos próprios principais de nível 1 | … | 13,9% | 16,3% | 17,0% | 14,2% | 12 |
Rácio de fundos próprios principais de nível 1 (na versão “fully loaded”) | … | 5,6% | 15,0% | 15,9% | 13,6% | 13 |
Risco de crédito e qualidade dos ativos | ||||||
Rácio de créditos não produtivos e adiantamentos (rácio NPL) | … | 39,7% | 46,2% | 45,9% | 5,1% | 28 |
Rácio de cobertura de créditos não produtivos e adiantamentos | … | 43,8% | 48,5% | 48,2% | 44,6% | 12 |
Rácio de diferimento para empréstimos | … | 14,2% | 19,8% | 23,2% | 3,2% | 27 |
Rácio de exposições não produtivas (rácio NPE) | … | 33,9% | 37,3% | 38,5% | 4,4% | 27 |
Rendibilidade | ||||||
Rendibilidade dos capitais próprios | … | (11,1%) | (25,5%) | (7,7%) | 3,3% | 26 |
Rendibilidade dos ativos | … | (1,0%) | (2,5%) | (0,9%) | 0,2% | 28 |
Rácio custo/benefício | 62,2% | 60,9% | 59,8% | 51,9% | 65,7% | 14 |
Receitas de juros líquidas relativamente ao total das receitas operacionais | 78,3% | 84,1% | 86,4% | 82,0% | 57,9% | 28 |
Receitas líquidas de remunerações e comissões em relação ao total das receitas operacionais | 14,8% | 14,5% | 10,9% | 12,4% | 27,2% | 28 |
Receitas de exploração líquidas em relação ao total das receitas operacionais | … | (4,1%) | 2,1% | (2,9%) | 6,0% | 26 |
Receitas de juros líquidas relativamente a ativos que geram juros | … | 2,8% | 2,5% | 2,9% | 1,5% | 7 |
Estrutura do balanço e liquidez | ||||||
Rácio empréstimos/depósitos | 100,7% | 109,2% | 129,7% | 120,2% | 118,4% | 21 |
Rácio de alavancagem (na versão “fully phased-in”) | … | … | … | 10,0% | 5,2% | 22 |
Rácio de alavancagem (transitório) | … | … | … | 10,7% | 5,5% | 27 |
Rácio de endividamento em relação ao capital próprio | 1132,0% | 999,0% | 837,8% | 754,0% | 1440,7% | 7 |
Rácio de oneração dos ativos | … | 26,0% | 47,1% | 43,3% | 26,3% | 25 |
Rácio de cobertura de liquidez | … | … | … | 0% | 141,1% | 28 |
N.B. O rácio NPL (créditos não produtivos) da ABE baseia-se na definição mais ampla de créditos não produtivos e refere-se a empréstimos e adiantamentos; o rácio NPE da ABE inclui igualmente títulos de dívida (principalmente obrigações).
Fonte: Autoridade Bancária Europeia, Risk Dashboard Data (Dados do painel de avaliação dos riscos) (com base numa amostra de bancos da UE; 198 em 2016).
Anexo XI
Crescimento sustentável
CRESCIMENTO DO PIB (%) | |||||||
2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 | 2014 | 2015 | 2016 |
-4,3 | -5,5 | -9,1 | -7,3 | -3,2 | 0,4 | -0,2 | 0 |
Objetivo (previsão do ME, maio de 2010) | |||||||
-2,0 | -4,0 | -2,6 | 1,1 | 2,1 | 2,1 | ||
Objetivo (previsão do ME, março de 2012) | |||||||
-4,7 | 0,0 | 2,5 | |||||
Objetivo (previsão do ME, abril de 2014) | |||||||
-0,1 | 3,3 | ||||||
INFLAÇÃO – IHPC (%) | |||||||
2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 | 2014 | 2015 | 2016 |
1,3 | 4,7 | 3,1 | 1,0 | -0,9 | -1,4 | -1,1 | |
Objetivo (previsão do ME, maio de 2010) | |||||||
1,9 | -0,4 | 1,2 | 0,7 | 0,9 | |||
Objetivo (previsão do ME, março de 2012) | |||||||
-0,5 | -0,3 | 0,1 | |||||
Objetivo (previsão do ME, abril de 2014) | |||||||
-0,8 | 0,3 | ||||||
TAXA DE DESEMPREGO (%) | |||||||
2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 | 2014 | 2015 | 2016 |
9,6 | 12,70 | 17,9 | 24,5 | 27,5 | 26,5 | 24,9 | |
Objetivo (previsão do ME, maio de 2010) | |||||||
12,0 | 14,7 | 15,2 | 14,8 | ||||
Objetivo (previsão do ME, março de 2012) | |||||||
17,9 | 17,8 | 16,7 | |||||
Objetivo (previsão do ME, abril de 2014) | |||||||
24,5 | 22,5 | ||||||
DESEMPREGO DOS JOVENS | |||||||
2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 | 2014 | 2015 | 2016 |
25,7 | 33,0 | 44,7 | 55,3 | 58,3 | 52,4 | 49,8 | |
Objetivo (TCE com base na previsão do ME, maio de 2010)1: | |||||||
31,2 | 38,2 | 39,5 | 38,5 | ||||
DESEMPREGO DE LONGA DURAÇÃO (%) | |||||||
2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 | 2014 | 2015 | 2016 |
3,9 | 5,7 | 8,8 | 14,5 | 18,5 | 19,5 | 18,2 | |
Objetivo (TCE com base na previsão do ME, maio de 2010)2: | |||||||
5,4 | 6,6 | 6,8 | 6,6 | ||||
TAXA DE EMPREGO (%) | |||||||
2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 | 2014 | 2015 | 2016 |
65,6 | 63,8 | 59,6 | 55,0 | 52,9 | 53,3 | 54,9 | |
Objetivo (Europa 2020) | |||||||
70,0 | |||||||
EMPREGO DE MULHERES (%) | |||||||
2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 | 2014 | 2015 | 2016 |
52,9 | 51,8 | 48,7 | 45,2 | 43,3 | 44,3 | 46,0 | |
Objetivo (TCE, com base na Estratégia Europa 2020)3 : | |||||||
59,3 | |||||||
CRESCIMENTO DAS EXPORTAÇÕES | |||||||
2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 | 2014 | 2015 | 2016 |
-20,2 | 10,8 | 5,8 | 3,7 | 0,6 | 5,2 | -8,7 | |
Objetivo (previsão do ME, maio de 2010) | |||||||
3,4 | 7,1 | 6,7 | 9,3 | ||||
Objetivo (previsão do ME, março de 2012) | |||||||
2,9 | 5,2 | 6,9 | |||||
Objetivo (previsão do ME, abril de 2014) | |||||||
0,4 | 3,4 | 5,5 | 5,0 | ||||
QUOTAS DE EXPORTAÇÃO (VARIAÇÃO NUM PERÍODO DE 5 ANOS, %) | |||||||
2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 | 2014 | 2015 | 2016 |
-10,2 | -14,0 | -15,5 | -24,7 | -25,2 | -18,0 | -20,6 | |
Objetivo (com base no limite máximo do PDM) | |||||||
-6,0 | -6,0 | -6,0 | -6,0 | -6,0 | -6,0 | -6,0 | |
IDE (EM % DO PIB – MÉDIA DE ENTRADAS E SAÍDAS) | |||||||
2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 | 2014 | 2015 | 2016 |
0,8 | 0,2 | 0,4 | 0,7 | 1,2 | 1,1 | 0,6 | |
Objetivo (TCE) Média da UE-28 em 2010 |
|||||||
2,1 | 2,1 | 2,1 | 2,1 | 2,1 | 2,1 |
1Previsão ajustada do ME em matéria de emprego, assumindo um rácio estável de jovens/desemprego global no nível de 2010.
2Previsão ajustada do ME em matéria de emprego, assumindo um rácio estável de desemprego global/de longa duração no nível de 2010.
3O objetivo global fixado para o emprego na estratégia Europa 2020 (70%), ajustado ao diferencial de género no emprego a nível médio da UE em 2015 (isto é, 0,85, com o emprego feminino nos 64,3 e o masculino nos 74,9).
Siglas e acrónimos
AME: Acordo relativo ao mecanismo de empréstimo
BCE: Banco Central Europeu
Bilhetes do Tesouro: Instrumentos de dívida de curto prazo emitidos com prazos até um ano
BU: Balcão único
CE: Comissão Europeia
CUT: Custos unitários do trabalho
DG ECFIN: Direção-Geral dos Assuntos Económicos e Financeiros da Comissão Europeia
FEEF: Fundo Europeu de Estabilidade Financeira
FHEF: Fundo Helénico de Estabilidade Financeira
FMI: Fundo Monetário Internacional
IDE: Investimento direto estrangeiro
Imposto ENFIA: Imposto único sobre bens imobiliários
MCG: Mecanismo de concessão de crédito à Grécia
ME: Memorando de Entendimento
MEE: Mecanismo Europeu de Estabilidade
MEEF: Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira
MPEF: Memorando de Políticas Económicas e Financeiras
MTE: Memorando Técnico de Entendimento
MUS: Mecanismo Único de Supervisão
OCDE: Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económicos
PAE: Programa de ajustamento económico
PDE: Procedimento relativo aos défices excessivos
PIB: Produto interno bruto
PORA: Programa operacional de reforma administrativa para o período de programação de 2007-2013
PSP: Participação do setor privado
SEC: Sistema Europeu de Contas
SGRP: Secretariado-Geral das Receitas Públicas
Taxa PPC: Taxa de imposto predial paga através da fatura de eletricidade
TFUE: Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia
TJUE: Tribunal de Justiça da União Europeia
Notas
1 Desde 2008, além da Grécia, quatro outros países da área do euro (Irlanda, Espanha, Chipre e Portugal) e três países não pertencentes a essa área (Letónia, Hungria e Roménia) solicitaram assistência financeira internacional.
2 O Fundo Monetário Internacional (FMI) é uma organização constituída por 189 países cujo principal objetivo consiste em garantir a estabilidade do sistema monetário internacional. Entre outras ações, o FMI concede empréstimos aos países membros que enfrentam problemas reais ou potenciais a nível da balança de pagamentos, subordinados à execução de políticas destinadas a corrigir os problemas subjacentes.
3 Até ao final de fevereiro e ao final de junho de 2015, respetivamente.
4 Os três programas partilhavam os mesmos objetivos. No âmbito do terceiro programa, a modernização da administração pública constituía um objetivo específico, reconhecendo a importância das reformas neste domínio, mas o primeiro e o segundo programas incidiam igualmente na reforma da administração pública no âmbito do objetivo de “crescimento e competitividade”.
5 Tratado que institui o Mecanismo Europeu de Estabilidade, nos 12 e 13.
6 Regulamento (UE) nº 472/2013 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de maio de 2013, relativo ao reforço da supervisão económica e orçamental dos Estados-Membros da área do euro afetados ou ameaçados por graves dificuldades no que diz respeito à sua estabilidade financeira (JO L 140 de 27.5.2013, p. 1).
7 Regulamento (UE) nº 472/2013.
8 Com base no Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (artigos 127º e 282º) e no artigo 2º da Decisão 98/415/CE do Conselho, de 29 de junho de 1998, relativa à consulta do Banco Central Europeu pelas autoridades nacionais sobre projetos de disposições legais (JO L 189 de 3.7.1998, p. 42).
9 Condições para executar reformas de políticas específicas ou alterações jurídicas.
10 No que se refere ao primeiro e ao segundo programas, as cartas foram dirigidas ao Presidente do Eurogrupo, ao Vice-Presidente da Comissão e ao Presidente do BCE. A mesma carta foi enviada paralelamente ao FMI.
11 Desde a primavera de 2017, o FMI não chegou a acordo sobre a sua participação financeira no terceiro programa. No entanto, esteve plenamente envolvido no processo preparatório.
12 As missões de avaliação foram realizadas por quadros superiores da Comissão, do FMI e do BCE. Tais missões visavam: 1) atualizar as previsões e a avaliação da situação do país nos principais domínios de intervenção; 2) avaliar a observância da condicionalidade; 3) rever a condicionalidade da política para a próxima avaliação.
13 Os projetos de documentos de programação transmitidos pela Comissão ao Conselho eram acompanhados de uma Comunicação da Comissão ao Conselho, em conformidade com a Decisão 2010/320/UE do Conselho, de 10 de maio de 2010, que estabelece a observância da condicionalidade e uma Recomendação da Comissão de decisão do Conselho que altera a Decisão 2010/320/UE do Conselho (artigos 126º e 136º).
14 A partir da terceira avaliação do segundo programa (dezembro de 2012), o Conselho não adotou decisões específicas aplicáveis às avaliações em questão, uma vez que não deram origem a alterações importantes nos requisitos de política económica.
15 O acordo de empréstimo foi elaborado pela Comissão Europeia, que geriu as operações de concessão de empréstimos. Para o primeiro programa, o acordo de empréstimo foi celebrado numa base bilateral entre os Estados-Membros da área do euro e a Grécia.
16 O Eurogrupo é um órgão informal em que os ministros das finanças dos Estados-Membros pertencentes à área do euro debatem assuntos relacionados com as responsabilidades que partilham no que diz respeito ao euro.
17 Órgão preparatório composto por representantes dos Estados-Membros da área do euro do Comité Económico e Financeiro, da Comissão e do Banco Central Europeu.
18 Este relatório apresenta uma análise mais pormenorizada das políticas específicas dos programas de ajustamento económicos da Grécia em comparação com o trabalho de auditoria realizado para os cinco países do programa no contexto do Relatório Especial nº 18/2015 do Tribunal. No entanto, as conclusões e recomendações de ambos os relatórios são de natureza semelhante, uma vez que a DG ECFIN geria os respetivos programas em paralelo. O Tribunal observou, contudo, que o programa grego foi excecional em termos de âmbito e dimensão, tendo a sua gestão constituído um desafio particular.
19 A participação do FMI no programa de ajustamento económico da Grécia foi avaliada em 2016 pelo Gabinete de Avaliação Independente no documento intitulado “The IMF and the Crises in Greece, Ireland, and Portugal” (O FMI e as Crises na Grécia, na Irlanda e em Portugal).
20 O MEE é uma organização intergovernamental financiada pelos Estados-Membros da área do euro. É auditado por um Conselho de Auditoria (que inclui um auditor do TCE) mas, enquanto tal, o TCE não tem o direito de o auditar. O exame panorâmico das disposições da UE relativas à prestação de contas e à auditoria pública (2014) do TCE realça este problema. Um relatório de avaliação publicado recentemente intitulado “The EFSF/ESM financial assistance” (Assistência financeira concedida ao abrigo do FEEF/MEE) examina a participação desta instituição no programa da Grécia.
21 Artigo 287º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia em conjugação com o artigo 27º, nº 2, dos Estatutos do Sistema Europeu de Bancos Centrais (SEBC) e do BCE. As limitações do mandato de auditoria do Tribunal em relação ao BCE foram abordadas no exame panorâmico das disposições da UE relativas à prestação de contas e à auditoria pública (2014) do TCE.
22 O Parlamento Europeu solicitou especificamente ao Tribunal que analisasse o papel do BCE nos programas de assistência financeira (ver Resolução do Parlamento Europeu, de 27 de abril de 2017, sobre os relatórios especiais do Tribunal de Contas no âmbito da quitação à Comissão relativa ao exercício de 2015 (2016/2208)).
23 O BCE considera ter fornecido ao Tribunal respostas por escrito e documentação associada sobre a sua participação nos programas gregos, dentro do âmbito jurídico do mandato do TCE para auditar a eficácia operacional da gestão do BCE. O Tribunal deparou-se com problemas semelhantes na obtenção de elementos de prova junto do BCE no que se refere à auditoria realizada ao Mecanismo Único de Supervisão (Relatório Especial nº 29/2016, ponto 29).
24 Em janeiro de 2010, a última emissão de dívida no mercado tinha disponibilizado 5 mil milhões de euros a um custo já elevado (6,2%). Entre janeiro e abril desse ano, os diferenciais das obrigações a 2 anos aumentaram de 347 para 1552 pontos base.
25 As cimeiras do euro são as reuniões dos Chefes de Estado ou de Governo dos Estados-Membros da área do euro.
26 O FMI dispõe deste tipo de orientações (por ex., Guidelines on conditionality - Orientações em matéria de condicionalidade, de setembro de 2002).
27 Por exemplo, não havia um consenso sobre o nível de autonomia da administração fiscal pretendido em relação ao Ministério das Finanças (em termos de planeamento de recursos e trabalho e tomada de decisões). Apesar do aumento do número de condições neste domínio, o objetivo do programa não foi cumprido (isto é, o terceiro programa aborda questões de autonomia não resolvidas).
28 O primeiro programa não continha nenhuma ação prévia no domínio da administração fiscal, ao passo que essas ações já apresentavam 10% das condições “únicas” aplicáveis à administração fiscal no segundo programa. Três quartos delas não constavam inicialmente no segundo programa.
29 A Grécia decretou o encerramento temporário dos bancos devido à corrida aos bancos e às filas que se formaram nas caixas automáticas na sequência do anúncio do referendo.
30 Apesar das negociações prolongadas, não foi alcançado um acordo com as autoridades gregas sobre as reformas necessárias para concluir as últimas avaliações do segundo programa.
31 Por exemplo: “não cumprida”, “em curso”, “não cumprida, progressos realizados”, “cumprida e em curso”, “parcialmente cumprida”, “cumprida em grande parte”e “atrasada”.
32 Por exemplo, o Gabinete Legislar Melhor foi, de facto, oficialmente instituído no âmbito do programa, mas continuava com falta de pessoal e não tinha poder para recusar projetos de legislação acompanhados de avaliações de má qualidade sobre o impacto da regulamentação.
33 O Tribunal identificou um caso específico, em 2013, em que a Comissão não expressou as suas preocupações de forma convincente junto do FHEF em relação a uma eventual fusão entre dois bancos. A operação só foi anulada mais tarde, mas o atraso resultou numa oportunidade perdida para recapitalizar parcialmente um desses bancos com fundos privados (esse banco acabou por ser recapitalizado na íntegra pelo FHEF).
34 Por exemplo, com o programa dos mercados de títulos de dívida posto em prática em maio de 2010 para aquisições de obrigações soberanas no mercado secundário e com a cedência de liquidez de emergência para bancos solventes a partir de 2010.
35 Em 4 de fevereiro de 2015, o BCE decidiu levantar a derrogação que permitia aceitar obrigações de dívida pública gregas como garantias de empréstimos, aumentando assim automaticamente os custos dos empréstimos a curto prazo contraídos pelos bancos. Não ficou claro se a decisão foi tomada em coordenação com os parceiros envolvidos no segundo programa. Posteriormente, nesse mesmo mês, o Eurogrupo decidiu prorrogar o segundo programa por quatro meses (até ao final de junho de 2015).
36 Por exemplo, ausência de controlos das alterações, das versões e do acesso, inexistência de reconciliações ao nível dos dados introduzidos e de análises integradas para assegurar a coerência e a integridade dos dados.
37 Por exemplo, no cálculo inicial do défice de financiamento, as necessidades totais de refinanciamento da dívida foram subestimadas e, no cálculo de dezembro de 2010, o total dos valores da amortização da dívida não estavam corretos.
38 Por exemplo, a estimativa das necessidades de financiamento das empresas públicas, a utilização de valores baseados na contabilidade de exercício em vez de baseados nas necessidades reais de tesouraria, as condições de financiamento no mercado e o nível de ajustamentos défice-dívida.
39 A este respeito, o Tribunal realizou um estudo estatístico no qual comparou as previsões macroeconómicas da Comissão para os primeiros dois programas com a previsão de outras organizações e modelos macroeconómicos alternativos. A análise comparativa, efetuada através de um exercício de comparação de previsões, revelou, de um modo geral, que a precisão das previsões da DG ECFIN era comparável à das previsões das outras instituições analisadas.
40 Os outros grandes domínios de reformas, não abrangidos pela análise do Tribunal, foram o sistema de saúde, a educação, o sistema judicial e a indústria.
41 Por exemplo, a seguinte condição não foi justificada: alteração da legislação, pelo governo, para atenuar os obstáculos fiscais às fusões e aquisições, como a não transferência de perdas acumuladas juntamente com a empresa e o cálculo complexo de benefício excessivo (Lei nº 3522/2006, artigo 11º) na transferência de sociedades de responsabilidade limitada. (primeiro programa, maio de 2010).
42 A OCDE considerou este imposto como o menos nocivo para o crescimento.
43 A própria Comissão reconheceu que os progressos realizados em matéria de cobrança dos impostos durante 2010 e 2011 foram fracos.
44 Os Memorandos de Entendimento continham 32 condições únicas em matéria de administração fiscal no primeiro programa e 194 condições no segundo programa. Este grande aumento no nível de pormenor não se encontra refletido nas condições do FMI, que previam neste domínio 6 parâmetros de referência estruturais no primeiro programa e 14 no segundo.
45 Receitas fiscais e contribuições sociais (segundo os dados comunicados pelo Eurostat), excluindo as contribuições sociais imputadas em termos de percentagem do PIB. Na sua génese, este indicador exclui igualmente os montantes não cobrados, uma vez que a Grécia regista os impostos e as contribuições sociais recorrendo ao método dos “fluxos de tesouraria ajustados ao longo do tempo”.
46 Em particular, contrariamente ao inicialmente previsto, as receitas do IVA expressas em percentagem do PIB não aumentaram entre 2009 e 2014, apesar dos vários aumentos fiscais e de uma parte do consumo das famílias em percentagem do PIB não ter baixado.
47 “Study and Reports on the VAT Gap in the EU-28 member states” (Estudo e relatórios sobre os desvios do IVA nos 28 Estados-Membros da UE), DG TAX, 2016.
48 Em 2009, os salários e as pensões representaram três quartos de todas as despesas primárias, tendo sido o elemento de crescimento dinâmico das despesas desde 2000. A massa salarial aumentou quase 100% no período de 2000-2008 e mais 7,5% em 2009.
49 Normalmente, a capacidade institucional deve abranger três dimensões de intervenção: (1) estruturas e processos, (2) recursos humanos e (3) prestação de serviços.
50 A dimensão e a contribuição da assistência técnica no domínio das reformas da administração pública foram limitadas. Recebeu um apoio financeiro de 750 000 euros. No entanto, o contrato em questão não foi integralmente executado (37% do orçamento e 44% do número total de 620 pessoas/dias disponíveis para o período compreendido entre 30.1.2013 e 1.1.2014).
51 A supressão de 150 000 postos de trabalho deveria ser definitiva e foi executada através da regra de atrito, segundo a qual só pode ser contratado 1 funcionário por cada 5 que saiam, de uma redução dos contratos de trabalho temporários, da constituição de uma reserva de pessoal, de regimes de pré-reforma e de reforma e do controlo da contratação. No que se refere à saída obrigatória de 15 000 funcionários, os mesmos poderiam ser substituídos por novos funcionários cujos perfis fossem mais adequados às necessidades da administração.
52 Embora os programas tenham estabelecido condições para melhorar o acesso das PME ao financiamento, as reformas do setor financeiro apenas previram a criação do Instituto para o Crescimento. Além disso, o montante concedido para este efeito (cerca de 200 milhões de euros) era reduzido em comparação com as necessidades de financiamento das empresas gregas.
53 Um warrant é um título que confere ao seu detentor o direito de adquirir, até à data da sua caducidade, o ativo subjacente da empresa emissora a um preço fixo.
54 Desde o início da crise, os bancos gregos foram objeto de seis avaliações das necessidades de capital. Normalmente, essas avaliações são realizadas com base em dois cenários (de “referência” e “desfavorável”) relativamente a alterações de variáveis macroeconómicas fundamentais. Note-se que, em todos os casos, a Comissão desempenhou um papel essencial na conceção dos cenários (ver também Relatório Especial nº 5/2014 do TCE, ponto 58 e caixa 1). O FMI identificou insuficiências nas avaliações das necessidades de capital na sua avaliação ex post do segundo programa (Relatório por país nº 17/44, fevereiro de 2017, ponto 39 e figura 19).
55 Em 2014, os investidores privados puderam adquirir ações dos quatro maiores bancos com um desconto entre 7% e 23% em relação ao último preço de fecho. Em 2015, o desconto foi consideravelmente maior, isto é, entre 34% e 93%, uma vez que não foi determinado previamente um preço mínimo devido ao elevado nível de incerteza.
56 Os problemas incluíram o adiamento para o final de 2015 da aplicação do código de conduta relativo à gestão de créditos não produtivos, uma gestão menos ativa das carteiras de empréstimos (os bancos concentraram-se principalmente em soluções a curto prazo, adiando assim o problema para o futuro) e uma colaboração interbancária insatisfatória. Observou-se igualmente uma inação em casos em que os bancos tinham denunciado contratos de empréstimo sem que fossem intentadas ações judiciais.
57 O BCE e o FMI assinalaram vários obstáculos à resolução de créditos não produtivos (BCE, Stocktake of national supervisory practices and legal frameworks related to NPLs, anexo III, setembro de 2016, e FMI, Relatório por país nº 17/44, fevereiro de 2017, pp. 3-15).
58 Por exemplo, a redução do salário mínimo aumenta o incentivo para pagar parte do salário (a parte superior ao salário mínimo) de forma informal, a fim de reduzir os impostos e as contribuições para a segurança social. Por outro lado, foram aplicadas medidas específicas para reduzir a informalidade do mercado de trabalho.
59 Uma forma de representação dos trabalhadores na ausência de sindicatos.
60 No primeiro programa, as decisões do Conselho referiam-se ao défice nominal e no segundo programa ao défice primário, excluindo as medidas bancárias.
61 O saldo orçamental estrutural primário corresponde ao saldo orçamental efetivo, líquido das despesas com juros, do componente cíclico e de outras medidas extraordinárias e temporárias. O saldo estrutural fornece uma medição da tendência subjacente ao saldo orçamental.
62 Moody’s: Caa3, Fitch: RD (risco de incumprimento restrito), S&P: SD (risco de incumprimento seletivo). Em 2016, apenas a S&P aumentou a notação de risco dos quatro grandes bancos gregos para CCC+.
63 A notação de não investimento (BB ou inferior) significa que a probabilidade de a entidade reembolsar os títulos de dívida que emitiu é considerada especulativa.
64 O montante dos empréstimos em dívida no setor privado caiu 21,9% entre 2009 e 2016. No entanto, o fluxo negativo real dos empréstimos concedidos pelos bancos foi muito superior devido à elevada e crescente proporção de créditos não produtivos.
65 Com a notável exceção do turismo, que beneficiou da desvalorização interna.
Etapa | Data |
---|---|
Adoção do PGA / Início da auditoria | 11.11.2015 |
Envio oficial do projeto de relatório à Comissão (ou outra entidade auditada) | 13.7.2017 |
Adoção do relatório final após o procedimento contraditório | 3.10.2017 |
Receção das respostas oficiais da Comissão (ou de outra entidade auditada) em todas as línguas | 14.11.2017 |
Equipa de auditoria
Os relatórios especiais do Tribunal de Contas Europeu (TCE) apresentam os resultados das suas auditorias relativas às políticas e programas da UE ou a temas de gestão relacionados com domínios orçamentais específicos. O TCE seleciona e concebe estas tarefas de auditoria de forma a obter o máximo impacto, tendo em consideração os riscos relativos aos resultados ou à conformidade, o nível de receita ou de despesa envolvido, os desenvolvimentos futuros e o interesse político e público.
O presente relatório foi elaborado pela Câmara de Auditoria IV, competente nos domínios da regulamentação dos mercados e economia competitiva. Baudilio Tomé Muguruza, Decano desta Câmara, é o Membro relator. Na elaboração do relatório, contou com a colaboração de Daniel Costa de Magalhães, Ignacio García de Parada Miranda e Simon Dennett, do seu gabinete; Zacharias Kolias, Diretor e Kamila Lepkowska, responsável de tarefa. A equipa de auditoria foi composta por Efstathios Efstathiou, Athanasios Koustoulidis, Adrian Savin, Giuseppe Diana, Marion Schiefele e Natalia Krzempek.
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